Antro Particular

29 setembro 2006

DESABAFO: minha carta ao presidente

Caro Sr. Presidente,

Não escrevo em nome de qualquer coletivo, tampouco me designo maioria. Mas lhe escrevo. E menos por pretensão, faço-o desconsolado. Triste por não compreender as faltas de explicações, os supostos desconhecimentos, a ironia nervosa, os cansativos discursos sobre a Seleção Brasileira ou o teu Corinthians. O brasileiro, ao contrário do que o senhor insiste em me contar, não está muito bem. E eu, sendo um desses, igual. Sentimo-nos sozinhos, órfãos. Abandonados na sarjeta pelo herói por qual tanto brigamos para ver crescer. Erro nosso, claro. O senhor não deve se sentir culpado pelas frustrações de milhões de sonhadores. Ou deve?

Esperei te encontrar por aí, quase que casualmente, pelas ruas, como antes, nesses últimos anos. Devo ter ido por ruas erradas. Não tive sorte. Quinta passada, entretanto, algo me dizia que enfim o encontro aconteceria. Mas quando me sentei e olhei para a televisão, a cadeira vazia socava minha cabeça: outra vez ele me ignorou... Também não recebi teus cadernos de propostas e o programa de governo pedidos em sei lá quantos e-mails.

É, presidente, o senhor chegou onde queria. Está aí! Conseguimos, não é? Tantos anos, tantas pessoas convencidas dia após dia. Vão ficar para sempre na memória a atrapalhação com a faixa presidencial e o carro oficial sendo empurrado. Foi um dia lindo, não foi? Um céu perfeito. E Brasília tomada pelos milhões de pedaços anônimos de sua história.

Eu continuo por aqui mesmo. Sobrevivendo ao presente. As emoções, aos poucos, renderam-se à rotina; a felicidade apagou-se em escândalos. Estamos em mundos tão distantes que acho que o senhor não se lembra mais de mim, de como sou, o quanto fomos iguais. Não sei se compreendo isso, mas a vida é o que é. E apesar de tantas lembranças tomei uma decisão: a velha camiseta vermelha deixo no armário junto com a vergonha sentida ultimamente. Um bom banho. Uma respirada profunda.

Lamento que não queira conversar mais com teu povo, comigo, porque eu quero! Não mais com o amigo Lula. Este se perdeu nas estradas passadas, nos caminhos apontados por marketeiros. Já se foi faz tempo. Mas com o senhor, presidente. E nos próximos anos é o que farei. Vou estar aí, ao teu lado, vigiando, gritando, fazendo-me existir e ser ouvido. Dei-lhe todas as chances para falar e as recusou. Então, falo eu! A cada passo, em cada falta de resposta coerente, nos silêncios, nos sorrisos sarcásticos. A toda e qualquer “traição” dos SEUS companheiros, eu vou estar aí.

O senhor quer mais quatro anos? Poder? Para quê? O que o tempo te permitirá fazer que já não tenha permitido? Vontade e responsabilidade não surgem em segundas chances, são partes da integridade que nos forma. Deixe sua arrogância de lado em acreditar ser alguém especial. Não é isso o que precisamos. Esta fé o senhor fez a grandeza de destruir. As máscaras já eram. Não acredito mais no senhor. Não o aceito mais como meu espelho. O panteão supremo dos heróis da revolução está arruinado. E, com o perdão da palavra, o idiota não será outra vez eu.

Não durma. Não se sinta seguro. É o que te recomendo. Vou estar de olho em todos os segundos, observando-o, analisando-o. E se parece pouco é porque tua ingenuidade o faz acreditar cegamente em um futuro glorioso. Esqueça. Ele foi arrasado por sua incapacidade em ser verdadeiro, preferindo trocar sua luta por uma cumplicidade estúpida de quem é mais boneco que manipulador. O senhor mudou muito, presidente. E tua omissão fez-me mudar também.

Que o remorso surja incontrolável e o leve ao caminho correto é minha última e romântica gota de esperança. Do contrário, adeus ex-amigo. Infelizmente, com o peito ardendo de sofrimento, mas antes que seja o meu, serei eu o teu carrasco. Até o fim. Até o fim...

24 setembro 2006

ZÉ PERGUNTA AOS CANDIDATOS

Zé Celso me passou este texto sobre o Oficina. Mais do que isso, sobre a Cultura Brasileira. Maiúscula!
Incessante luta pela popularização e acesso à Arte.
Poucos são os artistas em diálogo constante com a nossa cruel realidade, quando a cultura é desarticularda da política, não por desconhecimento de sua importância, mas exatamente pelo reconhecimento de sua capacidade transformadora.
Uma carta de Zé Celso para os candidatos é mais do que uma simples carta. É outro manifesto. Ou o mesmo de sempre!
Ato corajoso em mostrar a cara quando artistas preferem o silêncio hipócrita pelo favorecimento futuro dos governantes, sejam eles quem forem.
Ió, Zé.
A história se consolida com coragem, responsabilidade, ideologia crítica e também humor...
Nada mais Zé Celsiano que um blog denominado Antro!
Beijos, querido.
Ontem saí novamente apaixonado pela vida, pelo homem, pelo teatro, do seu terreiro eletrônico.
IÓ.



Ió! Candidatos à Presidência da República

Da minha parte este texto mais que uma pergunta um pedido de uma declaração de atitude diante do exposto.

Falar de cultura em geral é dar a deixa para os atores políticos responderem de uma maneira tão geral que continuamos a admitir que cultura não é nada, é enfeite, enrolação, sei lá.

O que é o Oficina
No ano de 2008 o Oficina fara cinquenta anos. Caso único no país de um Teatro que não somente manteve-se como companhia de criação coletiva, num espaço físico concreto, com repertório de espetáculos há quase cinco décadas de realizações premiadas, grandes sucessos de público, de interferência na vida brasileira, internacional, deixando vestígios estéticos, políticos, tatuagem no corpo social e individual e acima de tudo realizando a função ritual do teatro mais arcaica mas eternamente contemporânea de cantar, expor os bodes coletivos, pessoais, tocar nos Tabús na sociedade colonialista para torná-los Tótens, o que fez dele um paradoxo: um Teatro respeitado de forma unânime mas não uma UNANIMIDADE. Um Teatro que considera o público como atuador criando a consciência do poder humano da presença física individual e das grandes correntes que os humanos criam.
Sem modéstia nenhuma posso dizer isto porque é um fato concreto, constatável na memória viva e documentada, mas principalmente no fato de que nada resiste ao tempo desta maneira se não faz parte de um movimento que transcenda totalmente uma pessoa, a minha por exemplo Zé Celso, a de todos que aqui trabalharam, trabalham e trabalharão, a de todos que no Oficina estiveram, estão e estarão participando, assistindo suas peças, desde 1958, ou simplesmente recebendo a repercussão direta ou indireta de tudo que se passa, passou e passará nele. O Oficina é um Cosmos criado no Brasil, expandindo-se tanto no Bairro do Bexiga como cada vez mais pelo Globo.

A Questão Que Se Coloca
Há 25 anos o Grupo Financeiro Silvio Santos não consegue construir seu Shopping porque forças sociais forneceram as mesmas condições de luta para que hoje se fabricasse neste lugar 24 horas de teatro, 5 dias de atuação em torno da origem primeira da grande interpretação do Brasil contida em “Os Sertões” de Euclides da Cunha, mas também dos Canudenses reunidos em torno de Antônio Conselheiro, do próprio Exército, do povo brasileiro dos século XIX, XX e da nossa geração de vivos, neste Brasil de hoje, destes dias iniciais do século XXI. Esta é uma pergunta que precisa destes longos pressupostos sobre o Oficina porque para que compreenda-se não somente esta vitória do poder da cultura brazyleira sobre o Tempo, mas sobretudo o que ela sintomatiza em possibilidades que se abrem, para todo o saber, a energia, a arte política, pública, poderosamente humana, acumulada neste quase meio século no Brasil.
Hoje até os políticos que não tem a menor educação falam que a única solução para o país é a educação. A Revolução Cyber reforçou esta consciência. Mas evidente que não adiantará nada uma educação de um rebanho obediente cybernético. Talvez com a revolução digital o delírio patológico de criar rebanhos humanos seja mesmo impossível. O que está em questão é uma educação que torne os cidadãos do Brasil aptos para criarem, inventarem sonhadora e criticamente diante dos impasses cada vez mais complexos que o capitalismo, e todos os ismos, e fundamentalismos na sua fase terrorista, impõem através de seus dogmas que não resolvem nada, nem limpeza de galinheiro.

Pois neste momento o Umbigo da maior cidade do Brasil, o Bairro do Bexiga, onde restou um povo, apesar da ferida urbana imensa feita pelo Minhocão: o “Elevado” Costa e Silva !, vive uma questão que é resumo, teatralização de todas as questões do Brasil.
O Grupo Financeiro Sílvio Santos pretende dar prosseguimento à destruição-para-construção de um Shopping de tal modo que o entorno Tombado do Teatro Oficina pelo Condephat, agora em processo também de Tombamento pelo Iphan do MINC sob a condução tropicalista antropofágica admirável de Gilberto Gil, se assim for, vai virar, por um tempo, terra arrasada.

Este pedaço de São Paulo, quarteirão-cabeça, que já foi sede da Une, do PT, do PC, onde há muitos Centros Espíritas, onde havia também Terreiros de Macumba, templos Budistas, onde havia Primeira Sinagoga de São Paulo destruída pelo Grupo Silvio Santos, pode ser:

mais um Shopping,
somado ao projeto que o Grupo tem para o Bexiga:
trasformá-lo numa Bela Vista Las Vegas, Broadway Brasileira
ou
uma Ágora, um Centro de Cultura, Educação, Inclusão, Prazeres do Ócio, do Cio e da Criação
(não gosto da palavra entretenimento) lugar de encontro de todos os guetos pobres e ricos da cidade, como a Lapa do Rio, o Recife Velho Restaurado com sua Sinagoga por onde passaram os fundadores de Nova York, como Pelourinho de Salvador.

O Shopping, ponta de lança de um Projeto de urbanização do Grupo Financeiro, como já o fez desde o início da destruição, expulsará o povo do Bairro à pranchadas. Justamente o povo, destinado a ser o ator principal, o acolhedor e o acolhido, do Centro de Misturas Culturais Público, que o Oficina vem criando progressivamente no lugar. Como esta história do Grupo Financeiro veio cair nos pés do Teatro Oficina há 25 anos, o Oficina Uzyna Uzona vem propondo e criando uma alternativa que tem progressivamente crescido e inspirado uma saída não massacradora como em Canudos para o Bairro mais Cosmopolita de São Paulo. A Construção de um Teatro de Estádio, que acolha toda potência surgida na Arte Teatral em São Paulo, sobretudo nos Coletivos de Teatro que não fazem “contra partida social” mas trabalham com os excluídos porque sabem que lá está a força dinamizadora da Arte, única Arma mais atraente que o Crime.

Alguns desses grupos, como por exemplo, o GRUPO VERTIGEM, que tem semeado a vida no emerdado Rio Tietê (BR3), OS SÁTYROS, OS PARLAPATÕES na Praça Roosevelt, detonada pela ditadura para que lá não houvesse a ameaça das multidões reunidas, criaram uma efervescência urbana noturna grandiosa. A COOPERATIVA DE TEATRO DE SÃO PAULO, O TEATRO FOLIAS DAS ARTES, ad Infinitum, etc, etc, etc.....

São Paulo tem muitos Grupos-Movimentos que são afluentes como o Oficina de um Grande Retorno ao Teatro como Força Política da Multidão Criadora, como foi a Grécia da Tragédia Grega, a Inglaterra do Teatro Shakespereano, como os anos 60 do século passado, em todo mundo.
Uma Universidade Popular Antropofágica Barbaramente Tecnizada, Plugada, voltada totalmente para o desenvolvimento do Poder Humano de Criação Pessoal e Social através de um ensino inspirado na Cultura Brazyleira, como Glauber escrevia, fazendo contracenar a alfabetização CIEPS com as mais avançadas pesquisas de saber estético, tecnológico inclusivo, em torno das questões concretas que impedem o Brasil de quebrar sua imoralíssima desigualdade social. Uma escola de formação de líderes criadores para todas as áreas entupidas pela rotina, submissão e falta de criatividade. Arte em si Política, por isso Reprimida até a Tortura nos anos da Ditadura Militar que preparava a Ditadura Financeira que colocou o teatro como arte descartável e caça níqueis da TV.

Estes movimentos de criação já nem podem mais ser chamados de projetos porque são movimentos embrionários, fortalecendo-se a cada vez, contagiando como uma peste o Brasil afora e o mundo por seu trabalho pra Preservar Ecologicamente o Poder da Epécie Humana à beira de exitinção, mais, de Potencializá-la.

Quero perguntar aos Ilustres Candidatos qual e a sua atitude diante desta Poesia Concreta, deste Fenômeno Raro que sendo local é também Nacional, Internacional e Cósmico.


A ATITUDE PERGUNTA:
Em torno desta Metáfora:Dilema de todo Globo


Jogar Fora o Corpo-Alma Criador de seu Povo
para Criar mais um Carandirú de Luxo,
Um Gueto da Classe A,
um Palácio da Agorafobia e do Marketing
ou
cair de boca nessa oportunidade de dar ao País, na Capital do capital, uma Ágora, um Centro de Energias Criadoras do nosso Poder de realmente criarmos as soluções grandiosas que o Brasil precisa ?

O conteúdo da política brasileira está no miolo de sua cultura libertária popular, musical, literária, cinematográfica, culinária, sexual, religiosa, absolutamente misturada, científica. Constituem o caminho original de uma Política Brasileira Descolonizada, saída da atual decadência para uma Ascendente. Pra lá do dilema moral-imoral, este cisco no olho que nos impede de ver a potência da criatividade de nosso país.

A PARTIR DESTA ATITUDE OUTRA MAIS GRAVE PORÉM NÃO MENOS NECESSÁRIA: que passam pela quebra de TABU. Dependendo da atitude dos canditatos diante deste fato, se tiverem a paciência e a disposição de um tempo real de lerem esta pergunta, que exige todo este preâmbulo, pela própria situação de ingorância do Brasil sobre sua própria fonte de Riqueza Cultural, o Brasil talvez possa se indagar sobre outra atitude: O Brasil pode ser o primeiro país do mundo a promover grandeza da Abolição da Escravidão do século 21 através da descriminalização Total das Drogas, tirando da Polícia sua administração e passando para o Ministério da Saúde, Cultura e evidentemente da Fazenda (é uma grande riqueza econômica do Brasil) uma questão totalmente Cultural, que livrará o pais deste Genocídio praticado diariamente principalmente contra as crianças de todos os Canudos-Favelas de todo País. Os prejuízos e mortes por overdose são incomparáveis diante da verdadeira guerra civil promovida pela Guerra contra o Tráfico com número de óbitos de guerras do Oriente Médio.
Somente um País em que as Estruturas de Poder Publico e Privado possam ser transmutadas pelo Poder de interferência da Energia Criadora Humana de seu Povo, numa Perestroika, além dos marxismos vulgares, dos capitalismos terroristas marketeiros, enfim, de todas as catequizações e fundamentalismos, encontrará caminhos para ultrapassar os entraves, problemas que parecem ser eternos imutáveis e que não passam de Tabus a serem visitados corajosamente.
O Brasil como o mundo, criadoramente, poderá caminhar para sua evolução regressiva (como queria Euclides da Cunha e Oswald de Andrade) ao Índio Antropófago Universal de onde todos no mundo viemos para podermos hoje retornar e tomar posse de tudo que nos destruiu e construir um mundo à desmedida da potência criadora da natureza humana, animal, mineral, vegetal, solar. Dionísios é o deus do Teatro e é Brazyleiro. Em se plantando aqui, deu, e deu bem.
Para todos os Ilustres Candidatos, antes dos votos, votos de uma Campanha Intensa, que Ilumine o Brasil e em vez de Boa Sorte o atrevimento de desejar a PALAVRA que nós quando entramos em cena nos Teatros desejamos uns aos outros para entrarmos com tudo, além do bem e do mal, para atuarmos potentemente:


José Celso Martinez Corrêa

MERDA

22 setembro 2006

DE FRENTE PRA URNA: e o espelhamento da nossa cara ridícula

Pouco mais de uma semana para decidirmos em quem votaremos. Invejo os que já definiram seus candidatos. Confesso ainda estar muito confuso. Pior, completamente perdido. O que antes parecia ser uma disputa entre dois partidos surpreende com uma fragmentação maior. Segundo as pesquisas, o quadro que se prepara para os governos estaduais é de 9 PMDB, 6 PSDB, 5 PFL, 3 PT, e 1 para PDT, PPS, PSB e PTB, além é claro da presidência petista.

A incoerência capaz de eleger um presidente em primeiro turno, enquanto os candidatos ao governo estadual pelo mesmo partido são retirados de cena, deve-se ao fato desolador do eleitor brasileiro ainda não perceber a importância de estudar os Programas de Governo e as propostas partidárias. Vota-se, ainda, na figura salvadora, no mítico ser realizador de todas as transformações necessárias para nossa melhoria. Tolo equívoco. Ingenuidade plena. E ao que parece, as notícias do último ano não foram suficientes para conscientizar à importância de coerência histórica e discursiva dos candidatos, não importando aí a qual partido ele pertença.

No desastre que se aproxima, visto que tal postura do eleitor fará com que tudo permaneça como está a algumas décadas, outros fatores se desenham: o re-fortalecimento dos PMDB/ PSDB e a ruína absoluta do PT.

Enquanto a Direita se aproxima novamente do poder com discursos maniqueístas e conservadores alicerçados por uma arrogância histórica de quem sabe se fazer popular e oposição; a Esquerda desfalece sobre falta de capacidade em se auto-administrar.

O PT está em coma. A ação de afastar publicamente figuras históricas do partido como Zé Dirceu, Delúbio, Palocci, Genuíno, Berzoini, Gushiken, João Cunha, Silvio Pereira, ficará para sempre na nossa memória, tão traumáticos foram os escândalos. Derrotas como a de Marta Suplicy para reeleição da prefeitura de SP, Mercadante ao governo de SP, o baixo índice de aprovação dos candidatos ao governo por todos os Estados (11%), a disputa com militantes e apoiadores clássicos, a incessante discordância entre partidários, as expulsões... Não há mais Partido dos Trabalhadores. Resta Lula, cuidadosamente protegido para não ser envolvido em todos os escândalos por ser hoje a única possibilidade do PT se manter vivo...

Já a “nova esquerda”, liderada no discurso vazio e despreparado de Heloísa Helena, tropeça em suas precipitações e já se demonstra frágil demais para ser adulta em pouco tempo. Há que se esperar muito ainda para poder ser levada a serio. Por hora, certo tom cômico de desespero quando inquerida sobre qualquer assunto.

De modo geral, e tendo em vista que os programas de governo são descaradamente literaturas ficcionais, antevejo a eleição como meio para uma escolha ímpar na democracia brasileira. Não mais entre partidos ou personagens. Qualquer que seja a ideologia política, agora tanto faz. Devemos escolher entre profissionais e amadores. E infelizmente não os diferencio por valores mas por defeitos.

De um lado o PT, cuja incapacidade e por não saber lidar com o “jogo político” tornam-no dia-a-dia manchetes de noticiários, expondo-se em estratégias e situações que a muito existem, mas que “nunca aconteceram” efetivamente. O PT sofre as conseqüências de sua ingenuidade em querer ser igual aos dinossauros. E na tentativa de dominar esquemas corruptos de controle político e financiamento ilícito para o fortalecimento partidário, cai ao ridículo sendo exposto por aqueles quais pretendia superar.

Do outro lado, PSDB, PMDB e PFL, cuja capacidade em manipular a estrutura política e os meandros da corrupção, quais são em grande parte inventores, os conservam frente à opinião pública e o sistema democrático como bons moços indignados.

Em resumo, o voto em 2006 deve relevar a seguinte escolha: os que não sabem como fazer ou os que sabem. E aí está minha crise toda. Escolher PSDB, Alckmin, é ter a certeza que os anos FHC voltarão, e com eles todas as questões quais me levaram a votar no Lula nas eleições passadas. Escolher PT, Lula, é ter a certeza de que, ao não saberem fazer politicagem, sempre teremos de alguma maneira mais possibilidades de acompanharmos os acontecimentos por trás das decisões; e, contudo, é também dar aos políticos em exercício nova oportunidade sendo condescendente ao que diariamente vem à tona.

Enfim, tenho pouco mais de uma semana para decidir se prefiro aos que me farão facilmente de idiota, profissionalmente, ou já visto a carapuça de idiota e finjo perdoar a todos e a tudo!

Sinceramente não sei mais nada...

E você qual idiota prefere ser?

19 setembro 2006

Já estão no blog algumas entrevistas realizadas pelos prinicipais candidatos à presidência da república: programas Jornal da Globo e Jornal Nacional, jornal Estado de S. Paulo.

11 setembro 2006

RENÉE GUMIEL: lamento de saudade

2001. Reestréia de Bacantes, Teatro Oficina. Ensaios que chegavam quase ao amanhecer. Criatividade em período integral. Transformações, atualizações. E no meio das quatro horas do espetáculo criado por Zé Celso, dentre as dezenas de pessoas envolvidas, uma em especial chamava-me atenção. Renée Gumiel permanecia durante todo o tempo quieta, sentada em um canto da cena, observando. Assim todos os dias. Assim sempre.

Havia em Renée certo ar de sabedoria vivida, de disponibilidade marota, e também fogo nos olhos insistentes em corrigir, criar, participar, ainda que em sua poltrona. Lá estava ela, mais viva e mais presente que muitos dos iniciantes atores em cena. Em sua espera, em seu silêncio conseguia ser mais presente que qualquer outro.

A dançarina francesa de sorriso franco e aberto era então franzina, dissimuladamente frágil, e com o passar do tempo via-se que seu corpo encolhera ainda mais. E do meu ângulo de visão, no segundo andar da platéia e por vezes no terceiro, mais parecia uma criança esperando sua vez de entrar na brincadeira. Renée era uma das figuras, junto com Zé Celso, que me fazia congelar o tempo e perceber: estou no Teatro Oficina!

Nos ensaios de Bacantes o seu momento, quando de repente Marcelo Drummond a levantava nos braços e como em um abraço dançado oferecia-lhe o centro do corredor-palco. O coro se acalmava, dava-lhe espaço. E algo então aconteceu... Sorrindo pro teatro vazio, como que antevendo o público e a emoção que causaria. E acho que foi tomados por esse encantamento que em um gesto criativo uníssono Fernando Coimbra, Cibele Forjaz e eu acabamos apagando as luzes do teatro, e Renée, personificando Nanã Buruku, dançava os cânticos do Orixá iluminada apenas por uma projeção de Lua Cheia em céu escuro e nuvens.

Renée flutuava e levava o público consigo.

Mas Nanã, deusa jeje da lama, região do Daomé, hoje República do Benin, é também senhora da vida e da morte. Temida em lendas e cultos. E como que por ironia, é a ela quem coube a decisão de levar de nós a criança-dançarina.

E se nada podemos fazer, ao menos sabemos como reencontrá-la. Está lá, como sempre, no teatro. Não no canto ou em uma poltrona confortável. Está além. Depois dos meus segundo e terceiro andares. Depois do teto móvel. Pendurada na escuridão da noite em forma redonda de lua brilhante. Observando, como sempre. E esperando o momento de poder voltar a brincar.

Um aperto no peito. O vazio. O céu.

Saluba Nanã Gumiel!

05 setembro 2006

Já estão no blog as atualizações da pesquisa de intenção de voto para Presidente - Ibope e Datafolha. Também a íntegra da carta escrita pela Anistia Internacional, enviada aos candidatos brasileiros. Acompanhe no blog, diariamente, as principais notícias da Eleição 2006, divulgados nos sites Folha OnLine, Estadão, Terra e Globo Online.