Antro Particular

08 setembro 2007

POR UMA NOVA ESCOLA

Historicamente a relação entre Cultura e Escola se dera por lúdicas aulas de educação artística. Quem nunca pintou um vasinho para dar às mães ou participou de uma encenação para o Dia do Índio? Tudo bem, até aí. Mas tais ações como aproximações culturais se mostraram simplificadas. Quase sempre dogmáticas, as atividades se restringiam a datas comemorativas do calendário oficial.

Distante da minha infância e das aulas de educação-artística de outrora, as escolas atuais, em suas vertentes modernas (de Piaget à construtivista ou a idealizada por Paulo Freire, para citarmos uma corrente local) invertem a mão e propõem a revisão da disciplina para arte-educação, revelando certa eficácia, não fosse reduzida a visitas museográficas, passeios, idas a teatros distantes do dialogar com as disciplinas principais: história, matemática etc. Ainda que o olhar seja maior, a exceção torna as ações meros passatempos divertidos tanto quanto ir ao zoológico. E não são raras as descrições detalhadas do trajeto e amigos e o esquecimento das obras visitadas.

É necessário, portanto, desconstruir o sentido central do “educar” para “formar”. O paradigma aparentemente semântico fundamenta-se na especificidade de cada abordagem. Enquanto a Educação visa prepara o aluno para sua inclusão social, a partir de códigos morais regidos pela sociabilidade do indivíduo, a Formação destina-se à construção da individualidade por preceitos éticos de convivência, sem qualquer preocupação em moldar ou adaptar a identidade.

Levar o aluno a ingressar em um específico conhecimento é submetê-lo aos valores e códigos de sua estrutura, gerando, por comparação à sua realidade, a capacidade de compreendê-la criticamente.

Para tanto, é preciso ver a Cultura em sua possibilidade de leitura histórica (costumes, culinárias, vocabulários, ideais, artes), uma meta-disciplina envolvendo sociais, humanas, ciências e artes em torno da complexidade do pensamento. Como o utilizar as artes plásticas para visualizar como o homem se representou durante os tempos, associando esse olhar com a história e os fatos. Ou o entender os princípios científicos frente às estruturas filosóficas, para retornar aos valores algébricos das fórmulas e seus usos. Ou o representar sobre o palco os anseios e perspectivas contemporâneas, partindo do princípio de estarmos engendrados no mesmo momento político.

Nesse sentido, nada é mais elástico que a própria arte, quando a relação de formação é permeada por figuras de linguagens, abstrações, processos subjetivos e relações cognitivas de diálogo com a percepção.

Uma correção, contudo: quando digo arte não me refiro a atividades extracurriculares. A participação ainda na infância e juventude estatisticamente forma adultos mais interessados ao consumo cultural. Discuto aqui a formação, porém. Aproximar a convivência do aluno com a prática discursiva e conceitual de artistas para que o estimulo não se resuma ao mero fazer, e sim pela busca da compreensão dos discursos, ainda que meramente espectador.

Formar o aluno entendo-o como indivíduo cultural é desenvolver mais que conhecimento. É aprimorar o homem de amanhã. A Cultura como disciplina. Está aí um bom motivo para se pensar uma nova escola.