Antro Particular

31 agosto 2006

Já estão no blog as atualizações: Programa de Governo do PT, pesquisas de intenção de votos para presidente - Ibope e Datafolha, Relação dos candidatos ao Senado por São Paulo.

29 agosto 2006

DOMINGOS NÃO SÃO BONS DIAS PARA MIM

Semana passada concordei com a confidência de um amigo: “Estou tomando cuidado com o que digo por aí, para as pessoas...”. E me arrependo disso! Não quero ter cuidado. Não quero me submeter ao medíocre sistema de tapas nas costas e sorrisos fotográficos. Mato-me todos os dias nas saídas dos teatros, das exposições, dos reencontros casuais, ao agir assim. Mato-me enquanto artista. Enquanto cidadão. E pessoa.

Cabe-me mais. Se escolho o palco como manifestação de minhas idéias, ou melhor, escolho a Arte, então não posso usar tantas máscaras. Danem-se os hipócritas que me abraçam por aí (tenho certeza que muitos desses não lerão mesmo esse texto ou não se reconhecerão). Parei de aplaudir a muito tempo. Conhecidos ou não. Na última ou primeira fila. Prefiro o reconhecimento do meu descontentamento ao comodismo indecifrável da massa comum. E assumo o meu silêncio muitas vezes como gesto político, provocativo. Aos que acompanham o blog, a sensação de diminuir o ritmo dos textos acrescentados. É por não querer dizer o que enfim acredito ter que dizer. Esse destrutivo mal-estar estabelecido subjetivamente com a expulsão imediata do círculo social. Basta!

Quero os socos entre Haroldo de Campos e Ferreira Gullar durante o concretismo e neo-concretismo. As páginas de jornal escritas por críticas verdadeiramente capazes de acrescentar ao artista um parâmetro de reflexão de seu trabalho. É desesperador saber que a crítica não existe mais pois está aprisionada pelo mercado editorial e seus milionários anunciantes. Sinto-me só. Sem pessoas capazes de olhar no meu rosto com sinceridade e me dizer “acho que você se equivocou desta vez!”.

Suspiro...

Enquanto escrevo, olho na minha estante o livro de Roger Taylor, Arte Inimiga do Povo, e percebo o quanto estou cansado da hipocrisia latente, da minha própria hipocrisia em troca de sobrevivência. Quero tornar-me inimigo, então. Contagiante. Epidêmico. Mas no fundo, para quem? Quem quer sair de casa para se ver pressionado pela própria consciência, ter escancarado a sua frente o pior de si mesmo, a podridão do mundo, rever sua moral, seus parâmetros?

Faço, então, para mim mesmo. Para me lembrar que Busch existe; que as guerras surgem diariamente; que a popularidade de Lula cresce ao esquecimento dos escândalos e que os tucanos agradecem, bêbados por champanhe, também serem esquecidos; que a África existe; que pertencemos à América Latina; que a crueldade tem se revelado não-circunstancial, que a falência capitalista se instaura nos mais mínimos níveis, que a mídia destrói a cultura, que a educação fabrica dejetos sociais... Faço para me obrigar a lembrar disso e tanto mais amanhã e depois e depois... E ter a certeza de que me cabe a responsabilidade de tentar algo, do jeito que der, como souber, como conseguir.

Faço para mim, e para todos os que quiserem, aos que se olham no espelho pela manhã e vão além de si mesmos. São todos bem-vindos. Mas deixo claro desde já: cansei de adulação, de amabilidade. Não leve sua pipoca e saquinho de bala para me ver. Não quero mais fabricar amigos. Quero fazer arte.

Suspiro...

E desculpe o desabafo e se desagrado. Os domingos me deixam assim... desesperado. Solidão carente do dia em que o Criador nos deixou a sós? Falta de espectativa por outra "nova" semana? Pense os absurdos que quiser, mas para mim os domingos são um reflexo da mediocridade de nós mesmos. Mesmo esse, que me fez declarar amar no meio da rua, em meio a centenas de pessoas, sob uma Lua em forma de sorriso e uma banda de blues. Sorte de quem como eu tem alguém.

Talvez esteja aí o enigma deste domingo: o amor. Amar o outro a ponto de não permitir que se aliene; mostrar-lhe a vida, a história, a realidade crua, revelar-lhe a si mesmo. Trazer do desagradável a consciência plena do momento, da vida. E, através do outro, completar-se, e então se descobrir pronto para mudar o todo, todos, tudo.

Suspiro...

Onze anos e meio. E se me descrevo artista, é porque me vejo completo nesse amor, meu próprio reflexo do ideal. Onze anos e meio, quem diria... Sem vergonha alguma digo: Eu te amo, Patrícia.

Ah, domingos... Eu preciso é dormir um pouco...

24 agosto 2006

JEAN LUC LAGARCE: uma outra dramaturgia francesa

No folheto distribuído na entrada do Teatro Laboratório da ECA/USP, lê-se que o dramaturgo Jean Luc Lagarce chega efetivamente a Paris no final dos anos 80. Mas é na década seguinte que encenadores como Jean-Pierre Vicent, Alain Fromager, François Berruer, Philippe Delaigue, Philippe Sireuil, Stanislas Nordey, tornam-no um dos principais autores contemporâneos. Se Lagarce serve ao teatro francês como ponte à atualidade de uma linguagem dramática, também revela o potencial de outra leva de encenadores.

Na ECA assistimos Music-Hall, com encenação de François Berruer, e a portuguesa Cia. Artistas Unidos.

O texto sugere a decadência de um espetáculo de revista, pelas exigências nos diversos espaços nos quais se apresentara, a decadência do gênero e dos artistas, as dificuldades, o distanciamento e abandono do público. Sugere, pois Lagarce não trata a dramaturgia como pretexto para a narração saudosista ou mesmo a linearidade da memória emotiva. Com elaborada e complexa escrita, propõe ao espectador que imagine as situações e adversidades via descrições técnicas e espaciais da produção de cada apresentação, sempre acrescentando a cada nova descrição um maior grau de empobrecimento do tal espetáculo.

Enquanto a vedete narra as desventuras desses episódios - na tentativa de compreender junto aos dois outros atores/dançarinos que a acompanham no show, partindo da apresentação ideal até a mais medíocre -, a personagem se apronta para mais uma nova apresentação. Lagarce cria assim uma relação capaz de nos oferecer duas possibilidades ao mesmo instante: assistir ao Presente enquanto o mesmo nos ajuda a criar imagens do Passado que o sustenta.

Entretanto, o que poderia ser uma chave instigante, ganha uma montagem descuidada. A opção pelo palco desprovido de cenário não justifica a elaborada iluminação que tenta impor ao espetáculo um ritmo mais desenhado. Eficiente enquanto desenho, a luz termina por apagar o esvaziamento proposto na solidão dos personagens estabelecendo uma atmosfera mais construída a um grande show do que propriamente a sua decadência.

Caricatos, os atores igualmente não alcançam a capacidade do texto em serem múltiplos. Não há diferenciação entre decepção, passado, expectativa, sonho, desejo, ironia, simulação, dissimulação, medo, confronto com a realidade, saudosismo, lamento. Tudo está lá. A dramaturgia de Lagarce é repleta de caminhos e possibilidades, mas o que tão claramente existe aos ouvidos, não está aos olhos. E fica a sensação de algo mal realizado, escolar, ingênuo, onde as tônicas dominantes são a triangulação espacial repetitiva, ineficaz, e a excessiva utilização do proscênio para representar a quebra da quarta-parede. Artifícios óbvios e banais como este são esbanjados durante toda a apresentação.

De qualquer maneira, o texto de Lagarce existe e sobrevive. Difícil. Digno de um dramaturgo estimulante para qualquer novato que se interesse pela escrita dramática e seus percalços técnicos. Raro, necessário. Capaz de olhar o que há de mais urgente à sobrevivência do mundo contemporâneo: a sensibilização de si mesmo pelas pequenas ações do cotidiano descontituido de romantismo. Enfim, solitário poeta de tempos tristes...

22 agosto 2006

Já está no blob a relação dos candidados a deputado federal pelo Estado de São Paulo.

20 agosto 2006

Já está no blog o gráfico das últimas pesquisas realizadas pelo Ibope sobre as intenções de voto para Presidente, com os três principais candidatos.

17 agosto 2006


A partir de hoje coloco na net um novo blog, paralelo a este: ANTRO ELEITORAL, com o intúito de possibilitar em um mesmo local acesso a informações relevantes sobre os principais partidos e candidatos a presidência da república, governo de são paulo, senado e câmara federal.

http://antroeleitoral.blogspot.com/

De início, os programas de governo e/ou diretrizes para a eleição 2006. As atualizações serão comunicadas aqui no Antro Particular. Contribuições devem ser enviadas para o email: ruyfilhosp@yahoo.com.br.

Abraços,
RUY FILHO

10 agosto 2006

JOHN NESCHLING: a capacidade de ir além dos preconceitos


Em tempos de guerra, bombardeios, copos estraçalhados pela intolerância religiosa, ocupações, torturas, terrorismo urbano... Bom, nos dias de hoje, nada melhor que esquecer os problemas do dia-a-dia, contundentemente presentes, e permanecer alheios e distantes do caos global. Para muitos é assim... E quem não gosta de música? Certamente a expressão artística mais determinante em nossa cultura. Do funk empobrecido de argumento ao sertanejo romântico distante das raízes e mais próximo ao pop-brega, o brasileiro usa a música como escapismos da rotina e da reflexão. Escolhas. Tudo, em algum momento, passa por isso. E em tempos de guerra... O diretor artístico e regente titular da Osesp, John Neschling, sobe ao palco da Sala São Paulo para nos oferecer a Sinfonia nº13 em si menor, Babi Yar, de Dmitri Shostakovich.

O compositor russo compôs a sinfonia em 1962 a partir de poemas de Ievtuchenko sobre o massacre de judeus na então União Soviética, época da Segunda Guerra. Os mesmos judeus que agora de Israel atacam o Líbano impiedosamente. Inevitável paralelo.

A composição de Shostakovich oferece como argumento maior a impossibilidade de censura e aniquilação do Humor como arma frente aos ideais tortos da chacina racista. Contraponto interessante ao Controle e Poder. Sigo a proposta, e deixo os dramas das guerras para outro momento. Voltemos à Sala São Paulo...

Misturadas aleatórias dentre o público, senhoras e seus casacos de pele, pérolas, laquês, exibem o catálogo-programação da Osesp ao mesmo tempo em que circensemente equilibram suas bolsas Louis Vuitton, celulares de último modelo e taças de champanhe. Circulam, conversam cordialmente. Ignoram o entorno. Acomodam-se em suas poltronas, permanecem imóveis e em silêncio durante toda a apresentação.

Mas há corpos estranhos em ambiente sagrado. Casais. Sem catálogos, devorando salgadinhos que insistem em se prender, aos farelos, em suas roupas feias e surradas. Falantes, inconvenientes, inquietos em suas poltronas em constante ruir durante toda a apresentação.

Enquanto a orquestra é perfeccionista e rigidamente comandada por Neschling, este é o universo ao meu redor. E o que no começo era incômodo, torna-se divertido. Acompanhar a emoção sincera dos invasores, o brilho nos olhos, as trocas de carícias e beijos apaixonados.

Ao final, as senhoras e maridos dignos já se retiraram após o burocrático aplauso e visível correria para não se misturarem aos anônimos junto aos manobristas. Dois minutos de aplauso. Três. Quatro. Sete, quando os restantes cessam. E o barulho raivoso da saída do teatro, aos comentários diversos, quase sempre entusiasmado tentando compreender o que ouviram e leram na tradução projetada.

Em tempo de guerra, Neschling e a Osesp oferecem mais do que uma sinfonia reflexiva sobre a crueldade da intolerância. Entregam ao homem comum esperança pelo divertimento casual sugestionando o espectador à reflexão inesperada.

E enquanto as senhoras comportadas da sociedade, em suas salas burguesas e restaurantes chiques, contarão às amigas que assistiram a outro concerto, os barulhentos dirão sorrindo nas mesas dos bares suburbanos, churrascarias e forrós que a música era “muito louca”, “o cara é doido”, “não entendi nada”, “era a estória de um russo que matava judeu”... Duas frases em meio ao tumulto da saída: “já tinha assistido em Nova Iorque”, “eles podiam tocar isso lá no bairro”. Humor, a grande arma contra o empobrecimento e endurecimento da alma.

... Conclua você mesmo!