Antro Particular

25 julho 2011

CADA UM SABE DE SI


A morte de Amy Winehouse levou fãs e entusiastas de sua música a declarem suas paixões e tristezas. Tudo bem que seja assim, nada contra, mas algo nisso me incomoda. A morte de alguém é sempre uma morte, e não vou, aqui, ser cínico suficiente para dizer que qualquer perda tem significado especial para mim. Não se trata disso. Não sei quem são meus vizinhos, não saberia reconhecer minimamente a maioria das pessoas com quem tive um convívio breve, segundos de aproximação ou um mero esbarrar no entra-e-sai do metrô. A vida é mais complexa a meu ver do que a própria existência, e morrer, parece-me, é fundamento indiscutível ao ser vivo em geral. Assusto-me mais com posturas e ações, decisões e atitudes, do que com a perda em si. Entristece-me mais quem permanece do que aquele que deixa de existir. E assim tem sido desde sempre comigo. E como cada um sabe de si, não me cabe culpar as paixões declaradas ou julgar a veracidade das tristezas nomeadas.

O incômodo permanece, entretanto, mais pelas comparações do que pelos sentimentos. Ela era uma artista!, dizem muitos. Sim, era, sem sombra de dúvida. Tinha por profissão cantar e fazer por sua voz um instrumento estético para apreciação de sua arte. O incômodo se dá logo nessa primeira constatação de que a perda de um artista é sempre maior a de qualquer outra pessoas. De qualquer artista? Bem discutível isso... Não tenho o artista como um ser especial. Já superei essa ilusão há muito tempo. Vejo por dois ângulos: no primeiro, entendo o artista como um profissional cujo trabalho atua na elaboração de discursos trazidos a terceiros por determinados instrumentais estéticos (e antes que me ataquem por essa observação, não escrevi que DEFINO, mas que o ENXERGO assim!); no segundo, como alguém que necessita discutir, questionar, recriar a realidade como maneira de superar as inquietações, certa certeza, sem qualquer conhecimento e argumento plausível, de que algo está errado, fora da ordem, como diria Caetano, ou simplesmente, escondido, disfarçado, manipulado, ou sei lá o quê.

Por esses dois ângulos a morte de Amy não me leva a comoção. Adoraria, mas... Porque como artista, como profissional, desempenhou seu papel de maneira exemplar tanto dentro da qualidade do discurso e instrumental estético quanto na resposta às expectativas da indústria qual pertenceu. Sim, uma excepcional cantora e um ótimo produto da mídia e da indústria cultural pop recente. Convenhamos que dificilmente se conseguirá hoje atingir reconhecimento de um lado sem se entregar ao outro. Faz parte do nosso tempo e da condição do artista se tornar mais um produto de consumo descartável. Também não me comovo, alheio a esse primeiro ponto, ao seu tão exposto desencanto pelo mundo, como muitos fãs alegam. Talvez porque tenha outros tantos exemplos que me possibilitem duvidar da profundidade desse argumento.

Quando comparada a outros que igualmente se entregaram às drogas e que tiveram igual destruição, algo aí não me parece semelhante. Havia em Joplin, Cobain, Elvis, Morrison, entre muitos outros exemplos plausíveis, a ilusão presunçosa de suas eternidades. Nada haveria de destruí-los, nada poderia tirar-lhes a capacidade em serem divinos, imortais. Mas o que buscavam não eram viver para sempre, ao contrário. No acreditarem em suas eternidades pela ação transformadora de suas artes, viviam a vida ao extremo do que era possível, para além do limite nas paixões, no amor, no sexo, nas emoções, nas relações, nos discursos, nos confrontos, nas políticas, nas ruas, nas liberdades, nos preconceitos, nas morais, nos palcos, nas artes, nas canções e nas drogas. Morreram de tanto viver e não porque desejavam morrer. E aí está toda a diferença. Morreram porque fizeram de suas vidas manifestos a favor da vida, porque acreditavam que algo precisava ser diferente, porque suas eternidades iam além de seus corpos, existiam na presença de suas ideologias.

Amy infelizmente não. Nunca atuou ou demonstrou seu desejo em ser além disso mesmo que víamos ao entrar embriagada e entorpecida em cena. Nunca se colocou inconformada ou ao menos incomodada ao ponto de necessitar fugir de qualquer realidade e condição natural. Ao contrário. Estável em sua maneira de manter-se alheia e ausente, demonstrou nos últimos shows ou tentativas de cantar que, mesmo sua arte, seu fazer, sua profissão, mais a entediava do que a sublimava. Vaiada aqui e ali enquanto desafinações começavam a ser comuns em suas apresentações, Amy mais parecia obrigada ao cumprimento de agendas do que ao encontro com aquilo que lhe poderia fazer imortal.

Posso ser pessimista demais, mas não me lembro em exemplos similares, do tom prazeroso que havia entre fãs e mídia nas quedas que a artista chapada levava sobre o palco, ou as risadas eufóricas quando se esquecia de como entrar em uma melodia ou mesmo da letra a ser cantada. Esses eram os verdadeiros espetáculos de sua imagem. Sua morte era o que se esperava. Diria ainda mais, era o que se queria. Fazia parte da mítica desenhada por todos que este seria o seu final, e quanto mais banal, tal como uma overdose solitária em seu próprio apartamento, mais dramaticamente correto seria o desfecho tal qual lhe determinamos desde sempre.

Sim, esse é o final digno de uma celebridade, nunca de uma artista, o que é uma pena. Artistas trágicos morrem como Lennon, por exemplo. Artistas que, ao serem encontrados, nos referimos mais a sua ausência do que a seu sofrimento, porque é menos importante a pessoa do que a arte, e essa sina não se destrói com o desaparecimento. Muitos nos faltam ainda hoje por representarem tudo o que representaram e modificaram no homem. Amy Winehouse deixou a excelente voz em seus discos e a persona de uma enorme solidão e depressão. Mas isso, tirando sua voz, encontro em casa, entre meus amigos, e as vezes em mim mesmo. Lidar como lidou com esses existir, não a fez mais artista, ao contrário, a fez comum. Então, nada há de errado em entender sua morte como a de uma pessoa comum. A morte de artistas me transformam e não apenas me entristecem por alguns minutos. A celebridade vence a arte, infelizmente. Morre Amy como queríamos, e que venha a próxima, então. 

Num paralelo sem qualquer sentido, apenas digno da memória, lembro-me da comoção pela morte de Senna. Nem vou discutir o inesperado e o trauma na ausência de um herói cujo valor repetia esperanças a uma nação carente e sonhadora. Mas Mário Quintana morreu dias depois. Não fosse uma linha de madrugada no plantão da Globo, o poeta morreria em silêncio. Pois é, Mário, fiquei eu aqui lendo sua belíssima e inigualável tradução de Proust, naquela noite. É o que restou a quem nunca fez parte do seleto clube das celebridades. Nesse sentido, Amy conquistou o mundo e você a paz.  

22 julho 2011

Cultura Brasileira, uma quase ficção 8


capítulo 1.
Nervoso, Palocci anda de um lado a outro pelos corredores do Senado.
Palocci: Sarney? O que você tá fazendo ai?
Sarney: Oi... Eu to arrumando umas coisas aqui.
Palocci: Você tá arrancando uma parte da exposição, é isso mesmo?
Sarney: Não, imagina.
Palocci arranca de sua mão.
Palocci: Foi o Collor quem pediu isso?
Sarney: Não fala assim, ele é tão amigo meu quanto de vocês.

capítulo 2.
Alguém: Sr. Ministro, já pode entrar.
Palocci: Você vem comigo?
Sarney: Tô fora.
Palocci: Preciso de alguém com experiência em se safar.
Sarney: Esquece.
Alguém: Sr. está na hora, por favor.
Palocci sai correndo pelos corredores. Ao passar do Senado para a Câmara é interrompido por uma figura.
Caseiro: Bom dia, Palocci. Seu telefone tá tocando, não vai atender?

capítulo 3.
Palocci: Alô?
Lula: Vai pra sala agora, porra!
Palocci: Mas pai, eu...
Lula: Engole esse choro e vai fazer o que tem que ser feito.
Palocci: Eu vou falar com a minha mãe.
Lula: Desde quando ela manda alguma coisa?
Palocci: Ela é a presidente, caramba.
Lula tem um ataque de riso.
Lula: Não me faça a ir a Brasília de novo! Já não chega ter que tomar conta dela?

capítulo 4.
Na comissão formada pelo PT.
Alguém: Então você ficou bem rico, heim?
Palocci: Quem é?
Alguém: E não dividiu com o seu partido do coração?
Palocci: Se mostre desgraçado...
Alguém: Quero minha parte.
Palocci: Eu não tenho dinheiro aqui.
Alguém: Não quero em dinheiro. Quero voltar.
Palocci: Dirceu? É você?
Zé Dirceu: Oi, otário. Pode me chamar de PT.

capítulo 5.
Palocci: ... foi isso que aconteceu.
Dirceu: Ótimo. Então devolva o dinheiro e dou um jeito de te salvar dessa.
Palocci: Está na minha sala.
Os dois saem.
Minutos depois, ele abre um cofre escondido.
Dirceu: O que é isso, porra? Tá tudo sujo de rosa. Isso é dinheiro roubado!
Palocci: Não. É que já faz tempo que tô juntando. A tinta era vermelha. Juro. Só tá desbotada.

capítulo 6.
Dilma entra sem avisar.
Dilma: Que bagunça é essa no meu ministério?
Palocci: Mãe é o PT...
Dilma: Zé, se manda daqui.
Zé Dirceu: Se eu sair, ele entra.
Dilma: Quem?
Lula chega também sem avisar.
Lula: Que zorra é essa no meu ministério?
Dilma: Seu?
Lula: De quem mais?
Dilma: Então tá. Vou atrás de outro padrinho.

capítulo 7.
Ao telefone.
Dilma: E ele só me destrata na frente de todo mundo. To cansada disso. Você pode me ajudar? Acho que to perdendo o controle de tudo.
Do outro lado, a pessoa tem um acesso de riso.
Dilma: Não me trate assim!
FHC: Desculpe, Dilma. Acho que você precisa relaxar um pouco. Só isso.

Dilma: Como?
FHC: Você fuma? Tenho um cigarrinho maravilhoso aqui...

capítulo 8.
Dilma entregue aos baseados recebe a comissão de educação e cultura.
Dilma: E vocês querem mudar as cartilhas? Ok.
Alguém: Mesmo?
Dilma: O Haddad tá sabendo?
Alguém: Sim. Ele aprova.
Dilma: Pra todas as escolas?
Alguém: Mais pros adultos.
Dilma: Quem vai escrever as novas?
Alguém: O Tiririca.
Dilma: Eu gosto desse cara. Ele é engraçado. Alguém tem seda ai?

capítulo 9.
Dilma e FHC puxam fumo no jardim do Palácio.
Dilma: O Lula disse que ia colocar traves pra aproveitar o gramado.
Alguém: Presidente?
Dima e FHC juntos: Sim?
Os 2 riem.
Alguém: A Sra. assinou isso?
Dilma: Talvez. Deixaram anotado, mas eu precisava de papel pra.... uma coisa aí.
Os 2 gargalham.
Alguém: As 2 cartilhas?
FHC: 2? Gulosa.
Dilma: É a larica.
Choram de rir.

capítulo 10.
No dia seguinte.
Pastor: Não pode incentivar eles serem gays!
Dilma: É pra ensinar a não ter preconceito.
Pastor: Deus é contra gays. Você tá dizendo que ele é preconceituoso? Manda recolher!
Dilma: Vocês não me dão ordem, porra.
Pastor: Então deixamos o governo.
Ela pega o telefone.
Dilma: Haddad? O carregamento com a cartilha gay já foi? Mudei de ideia.

capítulo 11.
Madrugada, vielas da periferia de Brasília.
FHC: To sem grana.
Dilma: Caramba, também.
FHC: Palocci?
Dilma: Tá trancado no quarto. Deixa o cara.
FHC: Mas sem dinheiro não tem baseado.
Dilma: Já sei. Me dá um segundo.
Pelo telefone.
Dilma: Ana?
Ana de Hollanda: Oi.
Dilma: Seguinte. Vou precisar de volta o dinheiro daquelas diárias que paguei pelos teus dias de folga.

capítulo 12.
Por telefone.
Rui Falcão: Só porque roubou não quer dizer que é desonesto.
Dilma: Querem saber o que penso. Não consigo decidir a posição do Banco Central, como agir com a inflação, com a droga do dólar, nem sobre a Copa do Mundo consigo agir! Agora vou ter que decidir sobre o Palocci?
Rui F.: Veja se consegue até amanhã. Crio uma polêmica e enrolo a imprensa.

capítulo 13.
Pronunciamento na tevê.
Dilma: Ontem, por uma necessidade pessoal, fui até a periferia de Brasília e descobri que ainda há miséria no nosso país. Os acontecimentos recentes merecem uma resposta ágil e direta. Não podemos perder essa chance. Mandei colocar duas traves no jardim pra nossos talentosos garotos pobres treinarem. Tenho certeza, a próxima Copa é nossa!

capítulo 14.
Inauguração do campinho “Terra do Futebol” improvisado no gramado central do Palácio do Planalto.
Ana de Hollanda canta o Hino Nacional.
É interrompida por vaias.
Depois...
Dilma: Ana, onde você aprendeu a cantar o hino? Isso foi horrível.
Ana: Queria ser popular, moderna. Puxei na internet a versão do Luan Sanatana.

capítulo final.
Dilma: Não acho que deva sair, Ana.
Ana: Como vamos acalmar todo mundo?
Dilma: Deixa comigo. Sempre dou um jeito.
Ana: Só mais uma coisa, Dilma...
Dilma: O que?
Ana: Na secretaria nova que eu tô criando, de Economia Criativa, teremos várias interfaces com outros ministérios...
Dilma: E?
Ana: Dá pra deixar o Palocci ocupado um pouquinho? Queria que desse certo.

epílogo imprevisto.
Mantega: Quanto?
Dilma: 20 bilhões/ano.
Mantega: Não.
Dilma: Ache eles, porra.
Mantega: Como?
Dilma: Dá bolsa família, monta cisterna, curso profissionalizante, sei lá. Só não quero mais ouvir falar do Palocci, Código Florestal e o cacete.
Mantega: Não era pra segurar os gastos?
Dilma: Se o povo achar que tá tudo bem, vai continuar gastando. Depois ele que se vire.

... fim.

pós-epílogo.
Governador: Converteu tudo em entretenimento?
Secretário: Quase, só faltam os alternativos.
Governador: Ponha o que sobrar na geladeira.
Secretário: Que faço com o que já está lá?
Governador: Manda pro MinC. Eles que inventem um novo edital pro resto. As pessoas adoram editais.
Em Brasília...
Ana de Hollanda: Manhê, olha o que ele fizeram comigo?

(colaboração com o pós-epílogo Lúcio Agra)

OTRO: já olhou para o lado hoje?

Há o de lá e o daqui, ele e eu, e entre esses ou nós, de alguma maneira, constitui-se um princípio evidente da construção das relações contemporâneas: perceber. O que não é igual a reconhecer. Perceber o Outro não obriga a dimensiona-lo a sua aceitação, muito menos reconhecer sua igualdade ao todo comum. Sobretudo, porque no contemporâneo, conceitos como igualdade, totalidade e comum foram multifacetados por interpretações tão díspares quanto às conveniências daqueles que as formularam.

Mas, ainda assim, há o eu e o ele. E isso é fato. Goste ou não. E perceber esse Outro, alguém que não sou eu, revela-se assumir a pluralidade incômoda da convivência obrigatória. Via de regra, o Outro, por ser quem é e estar onde está, é menor, desnecessário, inferior. O inevitável consolida outra qualidade de valor: tolerância. Assumir Outros, portanto, expõe a necessidade de permitir seu existir.

É preciso admitir que tal relação só se efetua com as duas extremidades do processo: quem tolera e quem é tolerado, ainda que vivenciem ambos os papéis  simultaneamente, revelados os lados somente pelo ponto de vista de quem observa e julga. Tolerante e tolerado, o homem contemporâneo encontra-se irremediavelmente aprisionado a ser sempre o Outro. Outro de si mesmo, por conseguinte. Outro de todos e de ninguém. Esse Outro, agora, sujeita-se ao seu existir mediano, impreciso, anônimo, atrofiado e irrelevante. Condição inerente passível de ser modificada na relação social se for elevada ao reconhecimento público, quase sempre uma desconfiguração de sua persona, alguém cujo existir não deve e nem pode ser confundido com os demais. Não que isso seja fruto de qualquer valor real. Ao contrário. Quase sempre, esse Não-Outro carrega a inexpressividade dos Outros anônimos, portanto tolerados e inúteis; resignifica a possibilidade de um futuro independente e aparentemente livre àquele que alcançar o estágio de ser alguém por si só.

Reconhecer a importância de encontrar o Outro define a falência de nossa capacidade em meramente tê-lo como realidade absoluta, qual, por tamanha naturalidade, não deveria sequer ser percebida. Respiramos sem pensar no ar e como o oxigênio nos torna vivos, mas somos incapazes de ter o Outro sem o reconhecer todo o tempo. De modo geral, precisamos dele para dar sentido a nós mesmos.

Na cultura contemporânea a busca pelo Não-Outro distorce a necessidade do sujeito ser uma evidência concreta. O Não-Outro registra-se na futilidade da supremacia de sua exposição, como sendo outro do que puder ser duplicado e explicado pela simplificação do novo, fadado que está pelo sucesso relâmpago, ao consumo desmedido de suas realidades, limitado ao cinismo de suas tolerâncias. Mas só é capaz de tolerar aquele que se entende superior ao tolerado, diriam Habermas e Derrida, em “Filosofia em tempos de terror”. E aí precisaremos, então, enfrentar certos dilemas mais incômodos.

A solução, se é que há, pressupõe desdogmatizar a tolerância de atributos maniqueístas e permitir ao Outro, esse alguém ao lado ignorado e tolerado, que se imponha da maneira mais independente e pessoal que puder. O que não é fácil, visto que sem a tolerância as responsabilidades são infladas a níveis insuportáveis. A ação do Outro limitar-se-á a percepção de suas ações sobre os demais, e a circunscrição a qual se submeter determinará mais que as próprias ações, mas a extensão de sua existência coletiva. Mas, enquanto o homem não consegue desconfigurar a sociedade do peso moralista, resta assumir o Não-Outro como fingimento de conquista e evolução.

Otro, espetáculo dirigido pelo inquieto Enrique Diaz, transita, entre a salvação e aceitação, a necessidade da manifestação da tolerância para inclusão e aceitação do Outro, enquanto assume serem Outros todos e qualquer um. Não traz maiores soluções, porque talvez nem mesmo existam para além disso. Mas faz do Outro um verso poético inventivo profundo e paradoxalmente superficial (tanto quanto as são quaisquer tentativas de reconhecer profundamente um ser em outro). Resenha sobre a impossibilidade de melhor definição dessa relação, enquanto sugere haver na poética do reconhecimento certa importância pela própria busca, mais do que pelas respostas, em um estado de alienação, contaminação e sublimação da própria subjetividade.

Há aqui e ali. Palco e vida. A vida como palco. O palco como vida em processo. E o processo como palco da própria vida. E o mero viver sem muito mais do que o próprio viver. Há o Outro e nós, ou eu ou ele como eu, e nós como nós e Outros. Há o público e os atores. E os personagens. E os personagens atores. E o público personagem. Atores públicos de seus públicos. E há a essência e a beleza do próprio estado de haver. E porque há, aí está o sentido pleno de perceber. As inquietações de Enrique Diaz me encantam porque me incomodam. O resto é teatro. Desse que não se encontra todo dia.