Antro Particular

29 maio 2008

Zé Celso: universidade antropofágica e o simbolismo de uma tesoura não usada


Um movimento em três partes. Um tríptico onde as unidades somente se fazem verbo na soma da conjunção. Assim deveria ser tratado o primeiro encontro da Universidade Antropofágica, comanda por Zé Celso, em um dos andares do Sesc Paulista. Útero provisório de seu mais novo rebento, cujo parto aguardamos ansiosamente junto à construção da expansão do Teatro Oficina, em belo projeto de Paulo Mendes da Rocha, se não me engano.

Uma peça-performance, um almoço ritualístico, uma roda de conversa. O encontro recriara o sentido do banquete socrático em suas múltiplas facetas: a exposição, a devoração, a comunhão, buscando desconfigurar alguns preceitos básicos do processo acadêmico. As rodas dão nova forma à quadratura das salas universitárias, à mesa burguesa patriarcal, à cena teatral distanciada de imediata relação. Círculos. Circular. Em sua dupla vontade: permear os contornos em contínuo processo de expansão; mover-se em detrimento à vontade e ao desejo. Como amplo também passa a ser o sentido de Universidade antropofagiado em seu academismo francês submetendo-o ao contexto do múltiplo, do universal.

Zé Celso é hoje possivelmente um dos artistas mais coerentes. Reflete sua origem uspiana, das elaboradas ciências sociais que fundam o pensamento da instituição paulistana - existente nas cabeças mais influentes do Direito do largo franciscano, faculdade qual freqüentara -, ao se voltar ao comum, ao social, e procurar nele as causas e motivações para re-entender o homem. Reflete ainda o inconformismo com as circunstâncias determinadas e imóveis, com as ideologias bem aparadas em discursos eloqüentes, tal qual fora a motivação para a criação do Oficina, resposta dada ao movimento esquerdista operariado de Arena-Guarnieri, da massa estudantil, conduzindo-o a surras físicas e intelectuais por público e polícia, manifestantes de quaisquer lados.

E é o único a tratar um movimento de comunhão entre estética e vida anônima, entre a arte e o indivíduo. Onde começam e terminam cada um? Impossível responder. Solução desnecessária, inclusive. A proposta de erguer uma universidade antropofágica nasce como um desafio aos padrões, ou aos tabus, para usarmos os termos expostos no encontro. Que outro movimento tem por premissa o diálogo com as diferenças? De alguma maneira ainda criamos e desenhamos nossos discursos entre as esferas da moral, numa postura falsamente contestatória quando o que mais importa é a relevância de uma posição sobre qualquer coisa. Somos contra ou a favor. Gostamos ou não. Aceitamos ou repulsamos. Condenamos ou exaltamos. Somos assim, bipolarizados frente a decisões, à história, a nós mesmos. Zé Celso não mais. E gera da expectativa de um diálogo infinito despreconceituoso uma terceira via de observação: dialogarmos entre oposições, por dentre extremos.

Propõe o desapego ao impermeável, ao isolamento, ao individualismo latente no contemporâneo mundializado, e traz o nu como simbolismo freudiano, tendo a roupa como intermédio. Despimos nossas idiossincrasias, as valas comuns das morais burguesas cristão-judaicas, dos ‘não permitidos’, das falas corretas e ausência política. Quando ali, exposto, o homem passa a ser apenas a si mesmo, sem artifícios e construções. Pouco importa suas crenças, idéias, o trajeto. Nus, o que enxergamos, é no outro o reflexo de nós mesmos num espelho incapaz de nos submeter a alguma classificação. Ainda que, para tantos que no encontro estavam, estar nu represente apenas estar sem roupa.

Zé Celso faz parte de uma geração que perdera o direito de existir, de ser o que bem entendesse, de falar e sentir algo não planejado pelo sistema. Nada mais coerente, portanto, que sua aproximação dos tabus insistentes em nos manter calados.

Mas nem tudo é tão óbvio. E aos poucos se percebe um distanciamento absoluto da busca por compreender o artista. Não são os jovens de agora os mesmos de seu tempo. E não por ter iniciado seus trabalhos há 50 anos. Pelo contrário. Não estamos prontos para Zé Celso ainda. Não estamos prontos para um diálogo sem julgamentos, para compreensões ao invés de questionamentos unilaterais. Zé Celso não é para agora, e por isso mesmo é dos quem mais precisamos.

...

No início do terceiro banquete, roda retórica, parte última do tríptico, poucos minutos foram necessários para que tangenciasse a fala de Zé Celso um desesperado apelo para que interrompesse a “aula” e voltasse às discussões objetivas. Quais, afinal? O que não estava sendo discutido? Não, nada disso. A discussão interrompida fora retomada pelo entorno em fonemas de discursos, pela velha e boa obrigatoriedade da tomada de posição sobre tudo, todos, e no fundo sobre nada. Calorosas manifestações contra isso e aquilo, aquele e o outro.

Sentado, observando tantas e tantas opiniões e os apreços narcisísticos que quase sempre são os reais motes para se aproximar dos microfones, assisto Zé ser calado, sistematicamente, por público, por atores, por aqueles que se julgam artistas, e mesmo alguns dos seus, todavia incapazes de perceber estarem, tanto quanto os sistemas condenados, manipulando as circunstâncias em proveitos próprios, em processos terapêuticos de uma catarse ficcional, elaborada e planejada com hora marcada para ter fim.

“Por que tanta necessidade em tomar uma posição, e não se dialoga com o tudo o que está aí?” fora a pergunta que levara Zé Celso a me puxar ao centro da roda e dar-me o microfone às mãos. Não a fiz, pois não havia na multidão qualquer ouvinte, e a pergunta esvaziou-se entre eu e ele, enquanto retornávamos ao banco de madeira.

Façamos! Gritemos! Somos contra! Não queremos! Queremos! Exigimos! Não aceitamos! Não devemos! Confessa a necessidade de atitude, a juventude presente. Expurga inconformismos. Exalta a ação e a posição. É preciso agir. É preciso modificar. É preciso romper. Jogar fora. Reiniciar.

Doce, silenciando os tumulto, uma voz diz: “precisamos deixar o sol entrar...”. (As janelas das salas, veladas por películas próprias ao impedimento da luz externa, para compor uma melhor estrutura ao espaço cênico, rodeiam a todos). Uma nova comoção. E Zé controla a massa bovina de esquerdismo fabricado em banca de jornal, a compreender que retirar o hímen deveria ser um ato de amor, simbólico gesto-manifesto tradutor da busca de dialogar o dentro com o fora, a arte com a sociedade, o artista com o mundo, e não apenas vandalismo heróico.

É dada a chance do discurso se tornar fato. Fazer, dizer, construir, querer, mostrar, ser. Uma tesoura sobre a mesa. Uma vela acesa. Vinho no cálice. E as janelas indefesas, desprotegidas, disponíveis a quem por ela quisesse de fato traduzir anseio em manifesto. Para todos que até então se rebelavam. Para todos que até agora exigiam de Zé o que entendem por posicionamento. Para todos que até ali se negavam a aceitar antropofagiar a si mesmo.

Uma janela. Uma tesoura. Dezenas de discursos políticos e artísticos.

Meia-hora depois sumiram as bolsas e mochilas. Não mais se ouvia as vozes. O espaço se preenchia de ausência. E a janela permanecia inviolada...

...

Universidade Antropofágica. O tudo, o todo, todos. E por que não?

Afinal, se alguma lição pôde ser tirada do encontro, é de que discursos não vão além de palavras.

Quem dera a inquietude de Zé Celso se tornasse, sob infinitas formas e maneiras, a mais dialética das melhores contradições.

Parabéns, Zé. Sigamos como der.

19 maio 2008

Satyros Sons e Furyas






18 maio 2008

O Fingidor: TV Cultura


17 maio 2008

TANIKO: teatro oficina

15 maio 2008

Palestra em Bauru

13 maio 2008

VIRADA CULTURAL 2008 SP






A Virada Cultural 2008 deve ser registrada como sendo o ano das mulheres. Rostos novos, circulantes na cena alternativa, outros já reconhecidos e mesmo consagrados, ocuparam os palcos espalhados pela cidade. Em um ano que contara com a presença de Gal Costa, em plena Av. São João, muito pôde ainda ser descoberto.

Gal traduziu em si um resumo do que havia de novo nos outros palcos. Realizando um corajoso show intimista, tendo apenas um violão por acompanhante, conquistara o público imediatamente com o carisma de quem tem décadas de estrada, interpretando grandes sucessos de sua carreira e os melhores nomes da MPB. E o que poderia ser óbvio se construíra sensível ao propor uma relação com o nome do evento aos movimentos musicais. Da Bossa ao Tropicalismo, deste aos novos compositores, retratou didaticamente um eficiente recorte historiográfico da canção, oferecendo ao público mais do que um show, uma aula sobre a cultura nacional.

Desta maneira, Gal relembra sua importância na cena brasileira. Se é reverenciada com a primeira voz, é porque sua interpretação não se limitara às canções, mas à tradução de um movimento estético que redesenhava o país de maneira provocante e original. Se antes dela Elis, fora a voz da menina baiana descalça que modernizara nossa expressão.

Em outros palcos, outras meninas. Descalças ou não, o que se percebe é a falta de uma expressividade que dialogue com o contemporâneo. Não estamos mais nos anos de chumbo. Não há mais censores oficiais sentados nas platéias. E tanto compositores quanto intérpretes precisam reavaliar suas participações numa cena conturbada por outras questões: pirataria, Internet, banalização do experimento, mercantilização de idéias, ausência de ideologias amplas.

O esvaziamento de valores conduz as novas intérpretes à copia, muitas vezes talentosa até, das cantoras de outrora e recentes sucessos de mídia. Vozes doces, melodias corretas e caretas, expõe o Maria Rita ou Sandy como fórmula para aceitação. O mais triste é notar o quanto isso funciona.

Algumas outras caras, contudo, abstraem-se desse mecanismo e confrontam a mesmice estética com originalidade e personalidade.

Não é por pouco que Marina de la Riva recebera, em 2007, o prêmio de cantora revelação. Como definir a junção de samba, jazz latino, música cubana, MPB, cantigas infantis? Como catalogar seu trabalho? Em qual prateleira deve ser exposto o CD? A boa invencionice não necessita de rotulações. É música, e das melhores. Doce e forte, sensual e diva, Marina desafia os desavisados a abandonarem conceitos pré-determinados e simplesmente se entregarem à escuta e descoberta de outros caminhos.

No mesmo palco, na Av. Ipiranga, Andréia Dias supera novamente a obviedade numa deliciosa mistura entre samba paulista, punk rock, pop rock, brega romântico, apresentando uma pessimista visão feminista sobre os sentimentos recheando-a com ironia e variação de estilo.

O inclassificável talvez seja o epicentro entre Marina e Andréia. Marina, elegante, clássica; Andréia, escrachada, vigorosamente juvenil. Promessas de que há sim esperança para a música brasileira.

E na categoria “inclassificável”, é preciso lembrar dos trabalhos de Vanessa Bumagny e Helô Ribeiro. Já madrugada, o espaço dos Satyros 2 dava sua participação à Virada Cultural, através do projeto Satyros Sons e Furyas. Se é possível modernizarmos o que de melhor houve no tropicalismo e anos 80, então o Sons e Furyas sai à frente explodindo inquietação e muita provocação. Letras e melodias próprias, somadas às poesias de André Sant’Anna, fazem do show-recital, sem dúvida alguma, a melhor cena experimental da música contemporânea. É impossível não se entregar ao escracho enquanto muito é seriamente desconstruído dessa imensa indústria sentimentalóide romântica que nos contamina a todo instante.

Por fim, ainda sobre o que tivemos e teremos de melhor, há a obra de Nara Leão revisitada por Fernanda Takai. Primorosa apropriação para desapropriação em nome de um novo tempo. Fernanda nos brinda com o repertório magistral de Nara, ao mesmo tempo em que a reconstrói moderna e viva. O que se ouve não é uma disputa histórica ou os meios de gerar comparações. Fernanda é Nara e é si mesma. É outra e a outra. É prova de ser possível reencontrar o passado elaborando o presente. Um grande projeto de Nelson Motta. Perspicácia ímpar desse que hoje explicita a saudade de nossa cultura possuir o artista como fundamento de inquietação.

Inquieto como Zé Celso ao piano, dentre as árvores do centro de São Paulo, revelando a música como sua primeira paixão. Que o teatro feito por ele é música, sabemos. Que a vida é dança, também. Trazê-lo às ruas travestido de bom moço, é respeitar a origem das coisas. Zé é a essência da inquietude calada no passado. Assisti-lo livre, sorridente, aceito artista, é um positivo sinal de evolução. E se no palco a cena ganha musicalidade, ali, no piano, a poesia das notas iam além do som para somar à figura do pianista uma representação mítica do sublime.

A Virada Cultura passou. 24 horas necessárias por incontáveis aspectos. Ótimos que tenhamos duzentos ou mais envolvidos. Mas ainda espero, num futuro próximo, assistir a uma Virada que vá além do trocadilho temporal, que seja um consciente movimento de elaborada inquietação, a manifestação de um suspiro outro na construção cultural e na percepção do público. Talvez diminuir para melhor oferecer seja um bom propósito. Estamos no caminho certo, sem dúvida alguma.

fotografias e design gráfico Patricia Cividanes.

NAVALHA NA CARNE: raspa a pele do público e do artista

Poucas são as remontagens capazes de trazer a um texto aspectos novos de compreensão e valor. E infelizmente a mesmice é mais recorrente do que se imagina. Não é esse o caso de Navalha na Carne, com Gero Camilo, Paula Cohen e Gustavo Machado, dirigida por Pedro Granato. Muito pelo contrário. Valorizando cada aspecto da cena, a eficiente direção de Granato conduz o espetáculo ao paradoxo de se manter datado enquanto atualiza os personagens a uma precisa tradução do contemporâneo.

Se o texto, por muitas vezes, permanece aprisionado a um linguajar de outrora, é pela interpretação e a maneira como os corpos traduzem as personas que a atualização chega ao maior preciosismo. Gero Camilo elabora um vocabulário intenso unindo voz, gestualidade e postura, enquanto Paula Cohen desconstrói a linearidade dramática da personagem traduzindo-a a pura subjetividade e subtexto. Muitas vezes, as falas de Cohen são incompreensíveis e atropeladas, mas o que pode parecer incômodo inicialmente, aos poucos confere outros princípios ao entendimento de como pode ser a construção de um personagem.

Em ambos, o travesti Veludo e a prostitua Neusa Sueli, deixam de ser personagens consagrados interpretados por bons atores e passam a se apresentar arquétipos. Ali estão ainda Gero e Paula, reconhecíveis e idiossincráticos, cada qual como previmos ser, contudo despidos de suas próprias essências e compostos pela persona de seus personagens. Há mais na puta e no travesti desenhados do que meramente a apresentação de personagens dramáticos.

O que parece simples e óbvio revela-se imensamente complexo se confrontado ao trabalho de Gustavo Machado. Este, mais tradicional, acaba por muitas vezes construindo estereótipos rígidos, próprios de uma escola interpretativa que constitui o tipo como princípio de elaboração. Não se trata, todavia, de uma má realização do ofício, apenas, em tal tradicionalismo, revelam-se claramente ao público a diferença entre a maleabilidade da construção arquetípica e a rigidez do tipo característico.

Driblando tantas questões, a direção de Pedro Granato efetua o mais precioso movimento: ser despercebida. Sem malabarismos exibicionistas, o diretor conduz delicadamente os atores ao melhor de suas capacidades, e se afasta, generosamente, de qualquer exposição para determinar ao espetáculo sua existência na presença do intérprete. Mantendo o texto e suas características datadas, Granato ainda vence o desafio de tornar o passado natural em outro momento. E gera uma montagem incapaz de comparações históricas, precisa na atualidade de sua expressão e na maneira de lidar com os códigos simbólicos.

Navalha na Carne, em cartaz no Sesc Paulista, é uma estimulante aula de como o contemporâneo pode abrigar a história sem o pedantismo da releitura, de como a interpretação pode ser destituída do naturalismo simplista do virtuosismo técnico, de como a direção se releva infinitamente essencial ao mentir sua ausência. Deveria sair das salas de teatro para invadir de vez as salas das academias. Ao seu exemplo, teríamos um futuro muito mais instigante.

05 maio 2008

ANTRO EXPOSTO

O último ano tem se revelado fundamental quando olho para frente. Planos, sonhos, decisões... Foi sentado na entrada de uma coxia que Gerald Thomas me disse: “acho que está na hora de você ir e acreditar mais em você!”. Estávamos no meio de 2007. Remoendo diariamente a cobrança de que eu, de alguma maneira, fugia de qualquer confronto com meus pensamentos e arte, decidi seguir mais uma vez os conselhos desse qual chamo sem pudor algum por pai. Porque fora Gerald quem me mostrara todos os princípios que me tornaram um artista inquieto e desagradável. Porque fora ele quem me ensinara a triste opção de valer-me da própria vida transpondo-a ao simbolismo do inconformismo. É cedo, com certeza, para falar em ‘minha arte’. Mas cedo, sempre será. Então me arrisco. E volto ao centro do desafio de me mostrar quem sou. Se o que trago ao público hoje é fato, então é porque Gerald soube me conduzir ao mais tenebroso e viciante aspecto da vida: a alma humana. Que seja assim, então. Eis que surge hoje, para todos, a Cia. de Teatro Antro Exposto.

Ainda é preciso, todavia, assumir outro responsável. No ano que passara, e assim tem sido cada vez mais, Zé Celso, aquele que me levara, aos 20 anos, desistir da medicina para ingressar ao teatro, tem oferecido seus mais gentis abraços. E no respeito construído, nos encontros casuais, nas conversas sigilosas entre olhares, igualmente me confronta ao espelho como se dissesse: “Já não é hora...?”. Disse-lhe dias atrás: “Eu te entendi. Você não tem a sabedoria de quem viveu, mas de quem está vivo!”. No pulso heróico, erótico, da compulsão pela vida, Zé Celso me mostrara outra vez o caminho. Minha vida não são coleções de discursos retóricos e idéias desarranjadas ao tempo. Ao contrário. Justifico-me na relação do conjunto, na absorção do outro, na transformação do todo, em busca da sobrevivência do que há de menor e mais precioso em mim: minha humanidade. Que seja assim, então. E eis que surge, hoje, para todos, a Cia. de Teatro Antro Exposto.

E ainda outros: Samir Yazbek, Silvana Garcia, Alberto Guzik, Heloísa Sales, Ivam Cabral, Ana Helena Curti, Fernanda Borges, Kiki Vassimon, Guga Stroeter, Celso Cury, Thaís Ruiz, Pascoal da Conceição, Leona Cavalli, Celso Frateschi, Helena Katz, Christine Greiner, Dora Longo Bahia, Nelson Leiner, Aimar Labaki, Eugênio Bucci, António Araújo, François Tanguy, Patrick Grant, Matthew Barney, Verônica Cordeiro, Carlos Augusto Calil, Diva Pavesi, Eduardo Semerjian, Edson Zampronha, Fabiana Gugli, Pancho Cappeletti, Cibele Forjas, Lúcio Agra, Renato Cohen, Luís Damasceno, Agnaldo Farias, Clóvis Garcia, Dalva Abrantes, Sérgio Coelho, Suely Rolnik, Camila Morgado, Tânia Torraca, Gleico, Juliano Antunes, Walter Garcia, Jorge Carvajal, Célia Ramos, Amadeo Lamounier, Cássio Pires, Domingos Varela, Geondes, Natália Lorda, Thaís Almeida Prado, Pedro Brás, Carla Bastet, Sônia Lopes, Fernando Coimbra, Aline Fanju, Lígia Tourinho... Cada um, amigo, colega, chefe, professor, mestres às suas maneiras, construíram algo e destruíram outros tantos para que do caos chegasse eu ao meu ‘segundo nascimento’, como diria Zé Celso.
E também Priscila e Régis Dudena, por estarem desde sempre ao meu lado, acreditando num futuro pra eles tão óbvio e que para mim apenas agora chega à realidade.

Nada disso seria possível não fosse o amor incondicional e a presença completa de Patrícia.

Nada seria possível não fossem Eduardo e Maria Helena loucos suficiente para aceitarem como genro um garoto, na época, de cabelos compridos, roupas pretas rasgadas, pés descalços, fumante e aspirante a artista.

Nada disso seria possível não fosse a persistência de Diego Torraca, Guilherme Gorski, Priscila Nicolielo, Giuliana Rocha, Ana Carolina Godoy, Gabriela Rosas e Raiani Teichman em me apoiar e conduzir por suas cobranças a efetivação da companhia. E Gustavo Palma. Eterno companheiro. De cena, de discussões, de discordâncias, de confrontos, de cervejas, risadas, viagens e viagens transportadas em idéias para milhares de rascunhos em guardanapos.

Nasce a Cia. de Teatro Antro Exposto!

Um medo horrível.

Uma dor indescritível.

A vontade de abraçar a cada um dos citados acima e agradecer por tudo ou nada ou pelo fato de existirem em minha vida em algum momento.

Não é mais possível dormir. A insônia agora passa a ser companheira...

Junto a uma puta vontade idiota e romântica de querer mudar o mundo.

RUY FILHO