Antro Particular

29 julho 2007

WORSHOP - GERALD THOMAS: início 30 de julho, Sesc Consolação, Sala Ômega - 17h.

LISTA DOS APROVADOS:
  • Admir Calazans
  • Adriana Lobo
  • Ailton Rosa
  • Ana Carolina Lima
  • Ana Guasque
  • André Luis Patrício
  • Bárbara Mello
  • Célia Garcia
  • Diego Torraca
  • Dina Tomchinsky
  • Elis Regina Alonso Lagua
  • Flávio Galliano
  • Guta Ruiz
  • Hemilin Faustino
  • Ivano Lima
  • Ivo Leme
  • Jean Carlos Leite da Cunha
  • Liv Izar
  • Luz de Oliveira
  • Marcelo Pio
  • Natalia Galini
  • Odara Carvalho Curri
  • Patrícia Aguille
  • Patrícia Luna
  • Paulo da Mata
  • Raiani Teichmann
  • Renê de Lima Sobral
  • Simonia Queiroz
  • Tatiana Batista Godoi
  • Tatiane Passarelli
  • Wanderley Safir

Qualquer dúvida entre em contato pelo email ruyfilhosp@yahoo.com.br .

15 julho 2007

ALÉM DA ROUANET

Não importa a origem de um projeto ou o real envolvimento com a comunidade, é impraticável a realização de uma atividade cultural, hoje, sem ser viabilizada através de lei de incentivo federal, estadual ou municipal. Mas, de modo geral, a Lei Rouanet é ainda o principal mecanismo requerido.

A questão mais relevante, porém esquecida das discussões, é se esse nosso modelo de mecenato serve às finalidades de fomentar e democratizar o acesso aos eventos culturais. Obviamente que não.

Alguns dados são estarrecedores. Segundo o IBGE, 92,5% dos municípios brasileiros não possuem sala de cinema, 20% não possuem biblioteca pública e somente 5,6% possuem orquestras municipais. Os números revelam a falta de políticas para a cultura e uma vertiginosa desconexão entre as esferas públicas. Ainda que o Ministério da Cultura traga à mesa de debates conceitos amplos de sociabilização da cultura, como os traçados por Antônio Negri, entre outros, os secretários municipais permanecem mudos ao diálogo proposto, mantendo as escolhas dos projetos condicionadas aos interesses dos diretores de marketing.

Assistimos passivos, às vontades do mercado, a Cultura fugir da esfera de proposições dialéticas para se submeter aos interesses e serviços das empresas. Cada vez mais produtores percebem a facilidade do dialogar com grandes corporações, apreendendo os vocábulos, orientando-se por suas metas. Adequamo-nos rapidamente às salas de reuniões, ao invés de os trazermos ao ambiente da experimentação.

A ilusão de ser a inscrição na Rouanet a solução para a viabilização de uma idéia, cria a cultura do inatingível. Em 2004, o MinC obteve 7.360 projetos submetidos à valiação, dos quais 5.748 foram aprovados. Dentre esses, apenas 1.923 conseguiram patrocínio, espalhados, sobretudo, nas grandes capitais do sudeste.

Na maneira como a Rouanet se propõe, volta-se mais a sustentabilidade de um projeto do que propriamente ao seu acesso. E enquanto os artistas e profissionais da cultura correm por construir pseudas-seguranças por salários irreais, à produção resta o elevar estratosférico das cifras, buscando assegurar os ganhos no montante captado. Pois é fato a não proporcionalidade do público à quantidade de eventos em oferta. Mais caros, menos empresas potencialmente disponíveis, maiores dificuldades para a captação, mais projetos sem patrocínio, mais projetos voltados aos interesses de corporações.

O aumento dos custos gera distúrbios óbvios. Quem são os pagantes de shows a R$ 100,00 ou teatros a R$ 50,00? Quem perde com isso são as mesmas pessoas que já não tinham condições de freqüentar teatros, cinemas, shows, museus. A Rouanet acaba aumentando, na verdade, a abrangência da população excluída.

É preciso ir além da produção de projetos com os recursos públicos. Re-entender semanticamente esse ‘Público’. Sem a inclusão cultural, o indivíduo situa-se aprisionado em uma bolha que o suspende da participação social de sua comunidade. E sem sua participação, a democracia não se concretiza no seu discurso mais primário, o de existir a todos para igualar em direitos as diferenças. Cabe aos artistas buscar alternativas, e ao governo a compreensão de ser a população esquecida igualmente cidadã.

02 julho 2007

A GAIVOTA: o teatro de Enrique Diaz

Gaivota [tema para um conto curto], em cartaz no Sesc Pinheiros, pode ser considerado um braço estendido de Ensaio.Hamlet, também com direção de Enrique Diaz, pela estruturação da cena, pela desconstrução da escrita, no reaver da história pelas referências atualizadas.

Se Tchekhov, à primeira olhada, relembra um passado de passagem entre séculos, em uma Rússia desprovida de vontade e alegria, a montagem de Enrique reaproxima-o no espelhar nossas almas em seus vazios, em suas falácias ideológicas, na transitoriedade do efêmero travestido de imediatismo, no confronto entre o comodismo conservador e o desestabilizar vanguardista.

Muitos já falam sobre Tchekhov. E não sendo especialista, prefiro deixá-lo aos outros.

A peça A Gaivota, como em Hamlet, traz a “peça-dentro-da-peça” (utilizando o termo cunhado no programa). A montagem de Enrique traz o ensaio-dentro-da-montagem. E acumula, no sobrepor de uma estrutura instigante, em forma de jogo, uma perspectiva fractal de como a cena pode conduzir e ser conduzida simultaneamente pelas realidades do jogo e ficção. Primeiro temos a peça escrita por Tchekhov, depois a peça do personagem Treplev, então o ensaio como linguagem estética, a montagem tendo o ensaio como base dramatúrgica, e finalmente o espetáculo.

Como se assistíssemos ao drama criado por Tchekhov para Treplev, Enrique nos fornece angústias próximas a partir do processo de criação e motivações para a realização do espetáculo. São atores se questionando pelas falas de Treplev, na verdade. São “trepleves” distribuídos fragmentados lutando por se encaixar numa construção que os traduzam. Treplev e os atores são os mesmos, então.

Atores sobrepondo suas falas, elementos cenográficos movidos a todo instante sem nem sempre haver uma função, iluminação precisa, figurinos trocados... Enrique Diaz vai além da obviedade do fazer uma cena corretamente para instigar o público ausente do processo inicial a participar desde o início. Como se traduzisse aos desavisados o que venha a ser teatro, com seus necessários ensaios, estudos, aprofundamentos, questionamentos, crises, disputas, erros e estados. Transita entre a realidade da ficção tal qual o rizoma deleuziano, acenando pontos de encontro entre diferenças temporais, afastando instantes lineares.

Na consistência do meta-teatro, o teatro surge por completo, aprisionando o espectador, incluindo-o, exigindo dele a disponibilidade perceptiva para compreender que Tchekhov é antes de tudo um pedaço do homem de hoje, e que mais importante do que traduzi-lo ou entendê-lo é recuperar sua face no que pode haver de humano em todos nós.

Se Gaivota não traz mais o frescor da descoberta de Ensaio.Hamlet, ainda assim serve ao propósito de estudar outras possibilidades em se lidar com a dramaturgia e o ator. E faz do teatro de Enrique Diaz e da Cia. dos Atores um respiro necessário para a cena nacional. É esperar para se embriagar com tudo o que ainda há de vir por aí.