Antro Particular

30 setembro 2009

eu em livro?

O convite surgiu de repente. E foi aceito igualmente de imediato. Em breve, algumas das minhas peças serão publicadas pela Imprensa Oficial, através do projeto Satyros Literatura, pelo selo Primeiras Obras. Bacana, não?

convite aos performers

ainda este ano...

Os amigos não devem estar entendendo nada. Passo os dias cansado, esgotado por pensamentos e trabalhos que me exigem um tempo que não tenho. E mesmo assim assumo a direção de um monólogo? O Homem com a Bala na Mão não é simplesmente um texto. É daqueles que tiram o fôlego já na primeira leitura. Daqueles nos levam a construir toda a encenação logo no primeiro parágrafo. E, como se fosse pouco, escrito por alguém que aprendo a cada dia admirar mais. Paulinho Faria. Os ensaios correm tanto quanto o tempo. Mas em breve estaremos no Satyrianas e depois em temporada. Pra todos que gostam de sair do teatro com o cérebro e coração em chamas.








fotos do ensaio: Patrícia Cividanes

Patrícia Cividanes: e a amplitude do design

Uma das características que me fascinam em construir uma companhia de teatro é a possibilidade de expandir pela estética, ao limite de sua elasticidade, um conceito. A Cia. de Teatro Antro Exposto amplia, cada dia mais, esse pensamento atribuindo a cada espetáculo um estudo mais vertical sobre o trabalho do palco e fora dele. E não poderia ser diferente. Diversas são as áreas e as linguagens. E entre as mais relevantes está todo o pensamento sobre o design gráfico trazido por Patrícia Cividanes. Agora, aos que não conhecem tão profundamente suas pesquisas, muito pode ser encontrado em seu portifólio virtual. Uma boa viagem a todos...

O PAPA E A BRUXA: Hugo Possolo definitivo

Não gosto de comédia. Prefiro começar esse texto por aqui para deixar claro os motivos que me levam a escrevê-lo. As produções recentes, ao menos boa parte das apresentadas nas últimas décadas, lidam com o indivíduo de maneira óbvia, superficial, caricata em demasia. O riso que pleiteiam, quase sempre, alicerçam-se em preconceitos estúpidos e estruturas manjadas, artificializadas em recorrentes fórmulas do que se entende por engraçado. Enfim, não gosto mesmo de comédia.

Nos últimos dias voltei ao teatro para assistir pela segunda vez, em uma semana, a mesma montagem. Vi ao lado de algumas pessoas e, ao fim, dei-me conta de tantas outras que mereceriam estar lá. Quantas vezes fiz isso? Poucas, ou quase nunca. Nada é mais incomum em mim que a vontade incontrolável do retorno. Porque acredito estar na experiência do momento o encontro com o teatro. Tudo se dá na relação em que feito o público me disponibilizo ao diálogo com o artista. E, ainda que apaixonado, o contato me basta pelo veio único e preenche, por maiores que sejam as identificações alcançadas. Sendo assim, a incontrolável vontade do retorno revelou-se um questionamento: o que ali me transtornara a ponto de querer mais?

A peça em questão é O Papa e a Bruxa de Dario Fo, com tradução de Luca Baldovino e adaptação e direção de Hugo Possolo. A relação de poder eclesiástico é colocada à prova no instante em que o pontífice vivencia a estrutura mais marginal da sociedade.

Que a dramaturgia de Fo é um degrau acima da comum, sabemos. Há na estrutura de seus textos a perspicácia de quem conhece os dois lados: a técnica que torna a palavra instrumento cênico e o patético que constitui o mais humano em nós. Entre a sabedoria (em seu sentido ordinário do possuir o saber) e a ousadia de discursos ousados, Fo genializa a comédia no melhor sentido da palavra, oferecendo ao espectador a mais profunda reflexão sobre si mesmo, a sociedade e as estruturas de poder, sejam estas econômicas ou religiosas. Em O Papa e a Bruxa, a reunião das duas esferas - poder e religião - ri da fé como é consolidada em nossas carências, em nossas necessidades de pertencer a uma história maior. Nada mais patético que a busca pela sobrevida, pela existência paradisíaca, como se dar continuidade à existência fosse suficiente para nos traduzir mais próximos ao humano. Nada mais palhaço que descobrir no próprio homem a falência de sua humanidade.

E é aí que a montagem dos Parlapatões vence a comédia e se faz diálogo. Hugo Possolo descostura as dobras frágeis do riso, capazes de levar o espectador a compreender a si mesmo pelo ridículo, e faz, de maneira eficaz, uma provocação benéfica ao bom senso e aos nossos valores. Poucas vezes assistimos comediantes que utilizam o riso como exposição do próprio espectador. E esta é a vantagem de Hugo ser, antes de qualquer coisa, palhaço. Daqueles que não precisam mais de estereótipos históricos ou narizes vermelhos para nos conduzir ao picadeiro.

Sem sombra de dúvida, O Papa e a Bruxa, e precisamente o Papa de Hugo Possolo, é um de seus melhores trabalhos. Maduro, consistente, eficiente. Daqueles que, antes de ser ator, é artista e faz de sua arte força de ação para elevar o trabalho ao patamar de discurso. Discurso esse que se manifesta amplificado na capacidade de Hugo em compreender as entrelinhas, os subtextos, dar vazão aos timbres e olhares.

O Papa e a Bruxa resolve a cena cômica do instante e serve de modelo àqueles futuros profissionais do humor. São 18 anos de Parlapatões. E a maturidade chega em formato definitivo. Não gosto de comédia, insisto. Mas aprendi a rir de mim mesmo e me olhar no espelho um pouco mais envergonhado.

Guia da Semana - entrevista

Experimentando teatro

Direto do cenário alternativo de São Paulo, o Grupo Antro Exposto conversa com o Guia da Semana sobre como é viver de arte experimental no Brasil, critica leis de incentivo e peças stand-up.


Por Marcus Oliveira e Maria de Luna

Por trás de espetáculos realizados em grandes cidades como São Paulo (que possui em média mil peças por ano) existe um outro cenário não muito conhecido pelas grandes plateias. Ao contrário das mega-produções, muitos grupos batalham cotidianamente para se manter vivos e divulgar sua arte ao grande (ou nem tanto assim) público. Por meio de parcerias ou até favores, diversas trupes teatrais são formadas com nomes desconhecidos. Com o espírito de fazer do simples fato de ir ao teatro um evento único para o espectador surgiu o grupo
Antro Exposto.

Com rostos bonitos e cercados de muito trabalho, a companhia iniciou suas atividades em dezembro de 2007, por uma realização do diretor Ruy Filho. Formada por Diego Torraca, Guilherme Gorski, Giuliana Rocha, Tiago Torraca, Gabriela Rosas, Raiani Teichmann, Priscila Nicolielo e Patrícia Cividanes, dirigidos pelo idealizador, o grupo traz no currículo peças como Entulho, Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensiblidade e ensaia para o próximo projeto EmVão, previsto para 2010.

Em um bate papo descontraído, o grupo revelou os bastidores de como é fazer Teatro Experimental no Brasil. Confira!

História do grupo

A companhia nasceu da vontade de experimentar teatro e pesquisar novas linguagens. O nome antro exposto é uma referencia ao nome do blog do diretor ruy filho, o antro particular, canal que gerou a intenção de experimentar novas ideias em vários formatos, contrastando pontos de diversas opiniões e submeter todos à experiência. Segundo o diretor Ruy Filho, as empresas patrocinadoras não entendem que o experimental pode se tornar o comum de amanhã. "Temos um público muito reduzido e as empresas não bancam, já que as peças têm uma visibilidade limitada. Leva tempo e esse período sem sustentação financeira é impossível de ser realizado. Ou seja, você precisa do dinheiro rápido para virar grande, mas se você se tornar grande muito rápido você deixa de ser considerado experimental, assim é difícil", pontua o idealizador.

Polêmicas

Viver de arte experimetal não é tarefa nada fácil para a trupe. "A gente se vira. Vivemos de parcerias, vamos nos adequando ao que temos em mãos. Cada um tem uma vida paralela ao grupo. Mesmo dando a maior importância a companhia", afirma o ator Diego Torraca. Dividindo espaço com espetáculo de stand-up comedy, na visão do diretor Ruy, a liberdade é algo benéfico na hora de fazer esse tipo de arte. "Stand up no Brasil parece cabide de emprego para ator que não conseguiu ter um grupo de teatro. Não tem nada e vai fazer carreira solo com 20 anos de idade, com piadas tiradas da Internet. Já que nos sustentamos fora daqui, não ficamos aprisionados a nada e ninguém e dessa forma podemos experimentar", atira R. Filho.

Perfil

Com rostos jovens e espírito de quem sabe o que faz, os atores não abandonam a possibilidade de enveredar por caminhos ainda não percorridos, porém, não cogitam a possibilidade de abandonar suas raízes. "Não discordo de uma pessoa que vá lá e faça Malhação e depois, no fim de semana, venha e faça o teatro dela. Eu faria novela, cinema e o teatro experimental, que é uma coisa que eu gosto. É tudo trabalho. Se você levar suas ideias e trabalhar dentro desses sistemas da forma que você acha correto, é válido", opina Raianni Teichmann.Já na visão de Guilherme, a cultura do ator é muito banalizada e muita gente que entra no meio quer fazer parte da filosofia de celebridade. "Todos já conviveram com pessoas assim. E são pessoas que não vão sobreviver. Se ela realmente quer isso, vai se aprofundar e conseguir chegar onde quer. Mesmo um grande ator pode trabalhar apenas na TV", afirma.

Pé na estrada

Entre altos e baixos, a companhia estreou seu primeiro espetáculo Entulhos em 2008. A peça causou curiosidade com a solo performance de Guilherme Gorski e contou com as vozes de Débora Falabella, Pancho Capeletti e Alberto Guzik. Ao contrário do imaginado, mesmo após estampar as telinhas na novela Duas Caras, o sucesso do personagem de Guilherme na dramaturgia não refletiu na plateia do teatro, mas sim em um outro tipo de público. "É legal isso das pessoas virem assistir à peça, não o cara da novela. A repercussão não trouxe o mesmo público para a peça. Era um espetáculo alternativo, performático, experimental e que não é muito comum de se ver no teatro de São Paulo", afirma o protagonista. Com a repercussão, o grupo pegou carona em Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensiblidade, que contou com a participação do músico Patrick Grant (compositor e diretor musical do grupo The Living Theatre). "Combinamos dele não ver a peça e eu não ver a musica até ele chegar aqui. E foi muito bom. Pensamos que ele ia até se sobressair a imagem do grupo, mas foi totalmente o oposto. Foi o primeiro trabalho dele com trilha no Brasil. Ele estudou português para chegar aqui e saber trabalhar bem com a gente. Ficou tudo pronto uma semana antes da estreia, masdeu muito certo", confessa o diretor Ruy Filho. O espetáculo rendeu temporada em São Paulo, participações no Festival de Curitiba e no Festlip (Festival de Teatro da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro).

Futuro

Para o próximo ano, o grupo pretende contar com novos trabalhos e envolver ainda mais pessoas na arte de fazer teatro experimental. Pra isso, ensaiam seu primeiro trabalho realizado em processo colaborativo, a peça EmVão. "Somos livres para criar as cenas e fazer do modo que achamos melhor. Estamos em processo de criação, jogando cenas e ideias que passam pelas nossas cabeças. Cada um traz algo escrito e realmente é feito de forma coletiva. Temos um apontamento, mas não sabemos onde vai acabar", adianta Diego Torraca.O grande diferencial desse trabalho, além do texto feito de forma coletiva, é a preparação, segundo o diretor. "Estamos trabalhando muito mais voz e corpo para essa peça. No Complexo não tínhamos esse tipo de trabalho com a voz, já agora estamos tendo essa preocupação. Estamos crescendo muito e cada dia mais, até descobrirmos o tipo de teatro que queremos fazer", ressalta Ruy. Ainda nos projetos futuros, o grupo pretende para 2010 estrear os espetáculos Re-in-gresso e Exilados. Além disso, não abandonam projetos paralelos como: o Antro Invadido, que trará artistas convidados a trabalhar por um dia com a companhia em ensaios abertos ao público, o Antro Literário que são leituras de peças, crônicas, contos e poemas e o conversa no Antro, um programa de rádio sobre política e cultura contemporâneas com convidados, realizado no Centro Cultural Rio Verde (Vila Madalena São Paulo), local onde ensaiam.Lei Rouanet e Vale CulturaCriadas para beneficiar toda e qualquer forma de fazer arte, os benefícios são subsidiados pelo Governo e ao contrário do que pareça, são mecanismos de duas vias. "Acho que a Lei Rouanet não funciona e deve ser reestruturada. A maneira como o Governo está distribuindo e o fato de decidir o percentual de desconto no imposto de renda das empresas vai manipular insatisfatoriamente de alguma forma. Preocupa a forma como será manipulada essa distribuição", destila o diretor.Já o benefício do Vale Cultura, aprovado recentemente pelo Governo, é benéfico na visão dele. Segundo Ruy, mesmo não sendo uma grande quantia (R$ 50,00 ao mês), já possibilita que uma pessoa que não se interessava em arte, passe a ver com outros olhos. "Já que está lá, a pessoa uma hora ou outra vai gastar. Que seja com um livro, filme ou qualquer coisa ligada à arte. Às vezes o cara economiza seis meses para ir com a família ver a peça da Marilia Pêra e esse é o sonho de vida dele, isso sim é política cultural", acredita.


FÓRUM

Você acha que o teatro experimental pode chegar ao grande público no Brasil?

Renata - SP11/09/2009 O teatro sempre esteve na mira dos moralistas. Que bom que é possível acabar com isso fazendo uso da arte experimental.
Ana Cláudia Tabalipa - Sampa11/09/2009 Gorski, te assisti em Entulho. Fantástico, grandioso. Muito mais que a Rede Globo pode te dar na noveleca do Juvenal Antena. Parabéns pelo trabalho. Estarei na platéia para ver Em Vão.
Wagner Siqueira - BH11/09/2009 Teatro no Brasil é luxo, as pessoas só admiram as superproduções, os grandes musicais. É lamentável!
Beatriz - Never Land11/09/2009 Eu gosto de teatro alternativo, mas nem todo enredo merece destaque. Assisti Complexo Sistema e gostei bastante, mas acho que para um leigo, a peça ainda é um mistério.
Marcelo Castro - Rio de Janeiro11/09/2009 Tudo depende do governo investir numa mídia decente para divulgar esses bons trabalhos. Se a gente esperar o boca a boca, vai demorar demais.
ana moura - são paulo11/09/2009 só se um milagre acontecer. Brasileiro tem tendência a ver no teatro só o que é popular, tem celebridade ou comédiazinha barata.