Antro Particular

31 julho 2008

ENTULHO por Veja São Paulo


25 julho 2008

GUILHERME GORSKI e ENTULHO hoje no programa Papo de Amigos

Hoje, às 22h, na TV Gazeta,
Guilherme Gorski será um dos convidados
de Amanda Françozo, no programa Papo de Amigos.
Uma boa conversa sobre a peça
e os entulhos de todo nós.
Beijos
RUY FILHO

fotografia: Fred Mesquita

24 julho 2008

ENTULHO por Luiza Novaes

Será que As Sereias cantaram?

Esta época, que mostra a si própria o seu tempo como sendo essencialmente o regresso precipitado de múltiplas festividades, é igualmente uma época sem festa. O que era, no tempo cíclico, o momento da participação de uma comunidade no dispêndio luxuoso da vida, é impossível para a sociedade sem comunidade e sem luxo. Quando as suas pseudofestas vulgarizadas, paródias do diálogo e do dom excitam a um excedente de dispêndio econômico, elas não trazem senão a decepção sempre compensada pela promessa de uma nova decepção. O tempo da sobrevivência moderna deve, no espetáculo, gabar-se tanto mais alto quanto mais o seu valor de uso se reduziu. A realidade do tempo foi substituída pela publicidade do tempo.
Guy Debord - Sociedade do Espetáculo


Uma das dúvidas mais existenciais do mundo pede uma resposta concreta: sim ou não. Corpo e Cabeça, Razão e Emoção.

Em uma de suas aventuras Ulisses na Odisséia conta que ao navegar pelos Mares e passar próximo às Sereias todos os marinheiros prevenidos pelo capitão da Nau taparam os ouvidos com cera para não ouvir o canto, como estratégia tática, basicamente.

Ora, o sagaz Ulisses, astuto e desejoso de ouvir o belo canto das sereias, decidiu amarrar-se ao mastro para não ter a atitude de se deixar levar pela beleza estética e sonora da brincadeira. E ele amarrado ao mastro ouviu o canto das sereias, mas como estava amarrado, não se permitiu ser tomado pelo impulso de ir, lugar onde nenhum outro havia voltado.

Impasse, Kafka escreve um conto sobre as sereias e Ulisses, e a discussão baseia-se no silêncio, o mesmo impulso que provoca o canto pode provocar o silêncio.

Qual a força criativa necessária para o canto da Sereia que não a necessidade de perder-se no mais doce e estético que o corpo pode provocar, porém se o humano não deseja perder-se nada melhor do que saborear a derrota, Ulisses foi condenado ao silêncio por não querer sentir, dessa forma, via a beleza, os cabelos esvoaçando de maneira horripilante, mas nada de som.

A proximidade com o sentir, e a possibilidade ou não de saber o que fazer, o obrigou inclusive a questionar sua existência, compreenda, não há nada pior do que não querer sentir, astuto ele se aprisionar com cordas, porém surdo ele de não entender propósitos.

O silêncio reinou.

Pela primeira vez na vida não acredito que minha proposta de análise isentará sentimentos e inclusive de maneira visceral, até por que não acho que seja possível isentar-se de maneira absoluta nem ao menos ideal.

Ódio à peça foi o primeiro necessário sentimento, o que estava eu lá fazendo, muitas vezes a cabeça se movia com intenção de fugir às repetições de movimentos, que a princípio me pareciam extremamente cansativos.

Pensei em quanto assistia: o que faço aqui? Que tipo de proposta sobre a discussão da mercadoria poderia acrescentar algo que 200 séculos, de marxistas e românticos em geral não haveriam trabalhado, e todo mais tipo de preconceito básico de um bom acadêmico da ciência social.

Porém quando dormimos nossos monstros retornam. Quando acordei foi um chute no estômago, a questão me perturbava sobre a impossibilidade real que temos de sentir. A falta de fala repetia para mim o vazio daquilo (coisa objeto) que havia deixado de ser coisa e havia se transformado em sentimento coisificado. Ultrapassava até mesmo a mesa que dançava de Marx, para tornarmos-nos pessoas incapazes de definitivamente sentir e ser qualquer coisa significativa (explique: com significado).

Não consigo explicar o choro emocional, eu estava vazia sozinha e com dinheiro para pagar contas e viagens planejadas, e com documentos desorganizados, roupas entulhadas, livros empilhados e vazia, completamente sozinha.

Daí surge para mim o significado de reificação, como pessoas coisificadas incapazes de sentir o próprio corpo, ou reagir a necessidades, e que não haja simplesmente com impulsos mecânicos como abrir a porta, ou lavar o rosto, em nome de seguir o mesmo tipo de rotina incansável e irreal. Afinal para que, por que fazemos tudo isso, em nome do que?

Para que nossas sacolas? Aonde vamos? Para que também organizá-las, todo o sentido de causa e conseqüência torna-se o nada, o mesmo que sinto no momento em que as teclas tocam em meu dedo.

Porque não é senão como categoria universal do ser social total que a mercadoria pode ser compreendida na sua essência autêntica. Não é senão neste contexto que a reificação surgida da relação mercantil adquire uma significação decisiva, tanto pela evolução objetiva da sociedade como pela atitude dos homens em relação a ela, para a submissão da sua consciência às formas nas quais esta reificação se exprime... Esta submissão acresce-se ainda do fato de quanto mais a racionalização e a mecanização do processo de trabalho aumentam, mais a atividade do trabalhador perde o seu caráter de atividade, para se tornar uma atitude contemplativa.

Lukács - História e consciência de classe

Porém além do lixo humano, há o texto, primeira crítica, esse era um texto teatral? Perguntava-me quantas páginas ele possui etc.

Não consigo retornar a uma sequer palavra significativa no texto, mas, a repetição dele ou das marcas de lojas citadas, determina na repetição da própria idéia de prazer e produção dele a incansável improbabilidade de sua existência.Estou cansada agora, percebo que superar obstáculos de dominação de nossa natureza não é fácil, pobre Ulisses, na tentativa de enganar Sereias se engana também. Nossa natureza ainda é animal, mesmo que...

Não estou disposta a sacrificar-me de minhas pulsões como Ulisses. O fez em nome da Civilização. Ainda acredito que o esclarecimento é tão mágico quanto à ficção. Ainda pertenço à classe de pessoas que compreende o mundo pela janela da mitologia, e esta possível de não ser menor que a ciência ou o saber, mas somente outra janela. Não é nem causa nem conseqüência também como alguns a pensam, quase como uma linha evolutiva, mas apenas outra forma.

Cego são aqueles que não ouvem o chamado dos guardiões, nossa porta ainda aguarda por batermos em seu casco. Silêncio.

16 julho 2008

ENTULHO pelo blog AS CANÇÕES DE F.

Um Texto Precisa de Imagens


É fato.

Mas quando as imagens precisam de texto?

Ontem, ao assistir à performance ENTULHO, com Guilherme Gorski sob direção de Ruy Filho, a sensação que tive foi que as cenas plásticas sobre consumismo, fetichismo e o constante sufocamento que decorre da combinação de ambos pediam, antes mesmo de serem encenadas, as palavras de Mme. Nicolielo, dramaturga da performance e minha amiga.

Cada palavra desde o início do ato fala por si, sem precisar de muitos devaneios. A descrição dos objetos, a localização deles, o que representam na vida daquele personagem genérico que se atordoa no monte de roupas, livros e revistas espalhados pelo chão da arena do Centro Cultural Rio Verde, em Pinheiros, levam consigo a marca de quem as escreveu.
Quando, entretanto, chega-se ao excerto lido pela voz de Débora Falabella atinge-se a um belo que, não bastasse ser sozinho em sua beleza, exige do espectador a entrega das paixões fulminantes que mais se prendem na saudade e no que poderia ter sido do que na busca quase infindável daquilo que poderá vir a ser.

É quase a mesma culpa que se sente quando se gasta dinheiro sem necessidade. Ou melhor, o mesmo flagelo que é comprar e acumular sem, no entanto, preencher os vazios.
Cada vez que compramos coisas das quais prescindimos, cada vez que, diante do afogamento diário em informações desnecessárias, em equipamentos que, sob a premissa de facilitar a vida, nos prende ainda mais a uma linha invisível e muito frágil chamada insegurança, falta-nos o sopro das importâncias.

Cada um sabe da sua.

Mme. Nicolielo, em pouco mais de um par de páginas gravadas, traduziu isso em poesia numa prosa objetiva, despretensiosa e, sem uma única vez sequer ter citado claramente em letras aquilo sobre o que o texto falava, muito coerente.

Gostei da iluminação, da cenografia e da utilização dos espaços. Muitas vezes durante os 70 minutos do espetáculo você se vê esquivando de livros voadores, camisetas indiscretas, gritos ultrajantes, ouvindo muito de perto o ator ofegante, provando um pouco do soterramento pelos entulhos do que hoje temos por vida.

Determinados momento, senti que eu queria me por no lugar dele e, na construção de sua pirâmide de lixo, símbolo de um poder do desespero, opressor em sua veleidade, pegar os livros que ele não pegou, ver as fotos que ele não viu, dobrar as roupas que estão espalhadas pelo chão e limpar o futuro antes que seja tarde demais.

Só que estamos a um passo desse momento.

O que me incomodou um pouco - nada tão prejudicial quanto foi a encenação para Senhora dos Afogados, peça sobre a qual falei aqui noutro dia - foi o Gorski já ter começado a performance num ponto sem volta. A mim teria me incomodado muito mais se ele, como qualquer pessoa, tivesse entrado em cena do ponto em que nós mesmos, enquanto espectadores, estamos, sem muito dar pelo que nos rodeia.

Isto é, fazer crescer o movimento paradoxal da minimalização.

Quem se interessar em assistir, preste atenção em algumas imagens como a final e em algumas metáforas em relação ao cotidiano insensato em que muitos de nós vivemos.
No entanto, vá sabendo: se ver é muito importante nesta dramaturgia, ouvir é imprescindível.

Literatura.


http://fellipefernandes.wordpress.com/

ENTULHO pelo blog Pollyanabarbarella

Há alguns dias fui à estreia do espetáculo Entulho, com direção de Ruy Filho, em cartaz no novo e simpático Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena. O texto de Priscila Nicolielo me tocou pela poesia com que mostra como o mundo de aparências e estímulo ao consumo exacerbado faz com que o indivíduo perca sua identidade. Me lembrou a fala de um dos personagens do filme Beleza Americana: "Para ter sucesso, é preciso projetar uma imagem de sucesso". Em meio a centenas de peças de roupas, sacolas de compras, livros, jornais e fotografias, Guilherme Gorski interpreta um personagem angustiado, que consome compulsivamente, principalmente coisas de marcas famosas. A narração em off, nas vozes de Débora Falabella, Alberto Guzik e Pancho Capeletti, estimula a reflexão sobre como perdemos a inocência da infância, abandonamos uma vida simples e passamos a seguir os padrões impostos pela sociedade. Muito bonito e poético mesmo. Tudo tem um preço. Quer ser aceito no mundo? Venda sua alma para Armani, Chanel e companhia.

11 julho 2008

PETER BROOK IS ON THE TABLE

Fora necessário chegar horas antes da abertura das bilheterias do Sesc para conseguir um ingresso de Fragments, espetáculo dirigido por Peter Brook a partir de textos curtos de Samuel Beckett. Tem sido assim já há algum tempo e não apenas na capital. Tantos outros eventos exigiram tamanha disposição do público. Filas intermináveis. Por vezes, acampamentos improvisados reúnem uma juventude ansiosa por encontrar seus ídolos. Ídolos ou produtos midiáticos?

Voltando à Fragments... Conseguido o ingresso restava ir ao espetáculo, portanto. Sesc Santana. Muitos rostos conhecidos, amigos. E a percepção de ser a platéia constituída principalmente por artistas de teatro. Acomodados nas laterais das escadas, o público que não conseguira obter a entrada foi acomodado de maneira a dar mais possibilidades aos eleitos. Uma amiga disse-me, sou o número sessenta da fila, dificilmente entrarei. Após a peça, sua presença no saguão comprovava estar errada.

Primeira cena, segunda, terceira. Fim da peça. E durante a apresentação risadas, aplausos em cena aberta e a previsível ovação final. Enquanto a absoluta maioria urrava de alegria e emoção, perguntava-me: do que afinal tanto gostaram?

Possivelmente não assistimos a mesma peça. A que vi era condenada a uma sucessão infinita de clichês, condenando os textos de Beckett a uma simplificação de sua linguagem, apresentando-o menor e mais próximos aos trejeitos e dispositivos dos mais comuns dos cômicos comerciais.

Fragments nos escancara uma triste lição. Não bastam bons artistas para se construir um discurso artístico. Que o trio Marcello Magni, Hayley Carmichael e Khalifa Natour é formado por bons intérpretes, não há dúvida; tampouco que Brook é um dos maiores encenadores do século XX. A questão é conseguirmos identificar verdades estagnadas e qualificar os adjetivos.

A montagem e atuação mais lembravam um bom exercício de sala de aula universitária corretamente executado. E nada mais.

Mas e os aplausos? E eram tantos...

Gostaria muito de saber como a crítica e público brasileiro, sobretudo nossos artistas (quase sempre voltados à destruição do outro, como se fossemos todos oponentes mortais), agiriam caso Fragments fosse um trabalho local.

“Previsível trabalho, mostrando um Beckett ingênuo e pretensioso, numa montagem onde a luz é o único recurso a constituir de fato uma relevância para a montagem. O diretor se entrega à facilidade e obviedade da aceitação em se trabalhar com textos de um autor inatingível, manipulando a falta de idéia, apropriando-se de um possível carisma trazido por sua trajetória até aqui. Um espetáculo digno de assumir as mais banais páginas do entretenimento”.

Talvez fosse isso que escrevessem. Ou mais além...

Só sei que sendo Peter Brook quem é, não sendo brasileiro, e após horas e horas na fila por um ingresso, os aplausos e urros e emoções são genuinamente a identificação do quanto nosso discurso artístico se tornara fútil e manipulável.

08 julho 2008

ENTULHO por...


Priscila Nicolielo
Não posso. Tenho de terminar ENTULHO. Quantas pessoas não reclamaram desta frase que soltei por alguns meses? Renunciei a sessões de cinema, festas de aniversário, outros projetos, respostas de e-mails, encontros com amigos e até show da minha cantora preferida por este texto. Quando ficou pronto, pensei em cada noite que passei sofrendo e encarando o laptop, com meus dedos revezando entre as teclas e a caneca pink de café: valeu cada minuto ansioso, cada formigamento no pé esquerdo, cada ligação que ignorei (Não posso. Tenho de terminar ENTULHO). Este não é só mais um texto. É o resultado de uma boa amizade e de muito trabalho com todos da Cia. de Teatro Antro Exposto. Espero que ENTULHO incomode vocês tanto quanto nos incomodou em seus meses de gestação.


Diego Torraca
Quando olho para essa narrativa, não consigo deixar de elencar tentativas ou estruturar um repertório de ferramentas, que lidam com a percepção que se tem do material excedente. O contato áspero e profano com os objetos e a quase hipnose por aquilo que é sagrado são algumas dessas ferramentas. Se tomarmos emprestado o artifício da vírgula, quando elas separam tais ferramentas, elas não deixam de testemunhar a inevitabilidade do fracasso. Na relação do indivíduo com o espaço, estar acima daquilo que passa a ser trivial, pode ser somente mais uma ferramenta com prazo de validade. As coisas se acumulam e temos que dar conta dessa questão. E quando tudo é “coisificado”, as próprias emoções vão se acumulando em um canto de nós mesmos. Por outro lado, a experiência do vazio pode ser aterrorizadora. Como encarar um universo que se mostra desprovido da opulência daquilo que sacia? O problema do entulho é crônico, por isso, o bom intervalo de uma vírgula, que suspende por um instante o que virá a seguir, pode ser aquilo que se torna essencial. A repetição se torna a rotina de um movimento que segue para a imobilidade, que não encontra outra solução, se não a de ceder e se metamorfosear naquilo que ela tinha como grotesco e vulgar, porém inevitável.


Ruy Filho
A constituição do sujeito está condicionada à maneira como damos realidade aos nossos anseios. Efetivamos as expectativas adornando falsas realizações, compreendidas, cada vez mais, pelo princípio de valor comparativo, e traduzimos a importância de uma existência por sua maior capacidade em se produtificar. Capitalizamos a nós mesmos e nossas relações e desejos, numa troca objetiva pelo ganho imediato, como se tal processo identificasse alguma espécie de superioridade. As substituições do sensível e do simbólico pelo lucro objetivo vem conduzindo à uma padronização do sujeito. Travestimos, hoje, o indivíduo em um nebuloso coletivo de iguais, onde deixara de compor uma representação mítica em uma jornada pessoal, para existir como uníssona presença desprovida de real aspiração. Por conseguinte, nossos desejos tornaram-se massificações de vontades desenhadas para manutenção de uma realidade, seja ela qual for. Afastamo-nos de sonhos ordinários e ingênuos, cujas presenças serviam ao movimento de um estado para a surpresa de uma novidade inesperada. Seguimos juntos para o mesmo monótono e previsível fim sem risco. E nesse processo, nada é mais solitário e dolorido que a busca por se reencontrar indivíduo, por se reconhecer único.

07 julho 2008

GUILHERME GORSKI e ENTULHO hoje no programa Todo Seu

Hoje, às 22h, na TV Gazeta,
Guilherme Gorski será um dos convidados
de Ronnie Von, no programa Todo Seu.
Diversão garantida...
Beijos
RUY FILHO

fotografia: Fred Mesquita.

Satyros Sons e Furya

Hoje, 07 de julho, o Sons e Furya tem um convidado especial para substituir André Sant'Anna, ausente por alguns meses por conta de outros trabalhos. Nesta segunda, DIEGO TORRACA invadirá o Satyros 2. Sintam-se convidados a participar desse encontro.

02 julho 2008

ESTRÉIA ENTULHO

Esta quinta, 03 de julho, 21h,
no CENTRO CULTURAL RIO VERDE.

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