Antro Particular

22 julho 2010

ÚLTIMA SEMANA




14 julho 2010

quarta especial


Não passaremos a noite de quarta em branco!

Como não será possível a apresentação de EMVÃO,
nosso quarteto de cordas
(formado por Patricia Maês e Ivan Dantas no violino,
Bruno Menegatti na viola e Rafael Ramalhoso no cello)
apresentará músicas de Harry Crowl,
compostas especialmente para o espetáculo.

Em seguida, a Cia. de Teatro Antro Exposto fará
a leitura do texto REINGRESSO, de Ruy Filho, com estreia em 2011.
Enquanto isso, Diego se recupera...

(ingresso:: R$5)

diego, cadê você...


todos nós esperamos ansiosos a volta de diego. ele está bem.
amanhã dou notícias mais objetivas...

apresentações canceladas...


As apresentações dos dias 13 e 14 de julho estão canceladas por motivos de força maior. Ou melhor: 9 problemas de força maior, em forma de pedras, instaladas nos rins de Diego Torraca. O nosso ator/compositor fará hoje um segundo procedimento cirúrgico para a retirada das "crianças". Nada grave. Ele está bem, mas não o suficiente para subir aos palcos...
Aguardem cenas dos próximos capítulos!

(fotos de Tania Torraca)

12 julho 2010

antro convida marici salomão e celso curi


MARICI SALOMÃO
Após apresentação de
COMPLEXO SISTEMA
DE ENFRAQUECIMENTO
DA SENSIBILIDADE

esta terça
dia 13 de julho, 21h
no Viga Espaço Cênico


CELSO CURY
Após apresentação de
EMVÃO
esta quarta
dia 14 de julho, 21h
no Viga Espaço Cênico

fotos de Rodrigo Gorosito e Isa Brant
em exposição durante toda a temporada

Apito Final?

Impossível não falar sobre futebol. Todos os canais de televisão, as emissoras de rádio, vizinhos e amigos tratam de me lembrar que a Copa do Mundo ainda não terminou. Ao menos, não enquanto escrevo... O constrangimento ao final da patética partida que mandou para casa os jogadores brasileiros, hoje se funde a uma ressurreição patriótica com também a despedida dos hermanos argentinos. Só que esta resenha não se trata dessa síndrome de vingança tardia. Esta coluna foca o olhar sobre a Cultura e, ainda que os jogos resistam, tentarei me ater a sua função.

Mas e a seleção, hein? Como subtrair a vergonha plantada? O que assistimos não foi a derrota, explicitou-se o óbvio de algo que nos preenche princípios e subjetividades. Somos, tanto quanto os atletas que enviamos, igualmente passivos, desinteressados, preguiçosos. Algo, em algum momento na formação de nossa identidade, foi "macunaimizado" e, ao que parece, o balançar da rede, onde nos acomodamos ao sabor dos ventos tropicais, penetrou nossa existência de modo definitivo. A ausente vontade de se colocar e existir diretamente é menos uma caricatura literária, portanto. É arquetípica, cultural e indissociável daquilo que nos constitui brasileiro, seja lá o que isso for.

Culpar e desculpar são atalhos preguiçosos para fugirmos do espelho sobre nossas faces relaxadas e ausentes. Não nos entregamos a nenhuma espécie de desejo que não seja fútil e lúdico. Não nos importamos com a política local, não nos atemos aos valores, não nos arrependemos em destruir qualquer contexto ético. Nossas obrigações morais são sutilmente esquecidas, veladas por jeitosas atitudes condenáveis em origem, mas valentes em espertezas. Assim somos nós, brasileiros. Culturalmente medíocres em nossas responsabilidades e historicamente sortudos em sermos mais aos outros do que realmente somos entre nós, ainda que em aparências.

Querer que nossos jogadores agissem com responsabilidade frente a seus compromissos e que a derrota, ao vir, chegasse respeitosa e digna, é exigir que não fossem brasileiros.

O fato das nossas atitudes revelarem indisposição ao ético e ao construtivo desencadeia consequências insolúveis na maneira como o produto cultural resultante de ações verdadeiramente responsáveis se encontra submetido às deturpações do mercado e mesmo do próprio consumidor. Perceba não tratar aqui a problemática da arte sobreviver condicionada a sua produtificação, mas, e apenas mas, à banalização ideológica de sua função.

Exemplos de como o microcosmo do futebol pode explicitar o todo, são as reações às derrotas francesa e americana.

A saída vergonhosa da equipe francesa da competição expôs ainda mais as feridas do racismo e preconceito do país em níveis muito mais profundos. A direita extremista culpa a origem pobre e o imigrante pela falta óbvia de hierarquia e respeito que acometeu atletas e comissão técnica. Estaria na incapacidade das culturais originais daqueles que abrigam as periferias parisienses à baixa propensão ao correto. Dizem os extremistas que, além de inferiores, são os descendentes de imigrantes incapazes de alcançar os valores europeus que tanto se perdem na construção da sociedade contemporânea francesa. E, enquanto a mídia se aproveita para colocar fogo na discussão pelo mero prazer em aumentar seus lucros (em níveis diversos de ganho), o Governo, em camadas perigosas de participação política, descobre os percursos certos para trilhar os labirintos legislativo e jurídico que levarão não a uma saída, mas à aceitação de intervenções sobre aquilo que, por princípio, deveria ser livre e inspirador.

Também os americanos se digladiam enquanto a direita acusa a Europa de interferir na constituição do seu ideário. Em programas de rádio e televisão, a Copa do Mundo se transformara em deturpações ideológicas de preconceito contra os pobres, negros, latinos e europeus. Argumentando que o futebol é uma ideologia de esquerda imposta às escolas para classe baixa e que a Europa já deu muita coisa ao mundo, como duas guerras mundiais, o nazismo e a peste bubônica, personalidades de direita assumem seu radicalismo contra a política de Barack Obama metaforizando que a perda da identidade cultural no esporte americano é semelhante ao sócio-político consequente à mestiçagem do branco com o negro, trazendo alienação, massificação e idealização da pobreza como proposições positivas ao desenvolvimento humano.

Parece forçar um pouco a situação falarmos sobre tudo isso, mas o que se vê, ao fundo, é um amplo favorecimento ao debate público, ainda que os incentivos aos debates sejam deturpações das piores possíveis. Ao se colocarem publicamente como proposições ideológicas, as ideias de ambas as direitas (francesa e americana) se jogam ao fogo da discussão comparativa sobre suas filosofias e morais, exigindo que setores diversos da sociedade contraponham os argumentos, traduzindo, portanto, a estupidez em debate a todos.

Por aqui, nada mais é dito, a não ser que 2014 está logo aí. Muito se conversa sobre a culpa e os verdadeiros merecedores de desculpas, como escrevi antes. A alienação submete o contexto à simplicidade de uma competição. Percepção correta, à princípio, de ser uma competição apenas isso mesmo, não fosse o ocorrido sobre os gramados africanos a perfeita exposição de como nos postamos nação.

Retornando aos valores culturais, os absurdos que polemizaram os dias recentes nos dois outros países, da mídia mais sensacionalistas aos intelectuais mais respeitados, explicita igualmente a participação do indivíduo sobre a formatação de suas culturas. E o que parece gratuito se revela igualmente potência quando entendemos as violências das atitudes sobre a percepção e importância do produto cultural e a responsabilidade na escolha do consumo. Isso não quer dizer que não há produtos meramente comerciais, tampouco que não são esses os mais consumidos e em maior número, mas que à existência desses há a contramão das manifestações responsáveis e conscientes, tanto quanto de um consumidor que busca transformação ao invés de entretenimento.

Estamos muito longe disso. Não olhamos para nosso umbigo, guardado como está por tecidos importados de qualidade inferior. Vestimos a necessidade do momento, o produto do instante, desapegados que somos de qualquer responsabilidade na construção de um amanhã mais eficiente e produtivo a todos. Querer mudar se tornou estereotipo de bandeira de esquerdismo populista, que nada mais possui de ambos os preceitos. Nossa esquerda se consolidou por um assistencialismo manipulador, enquanto o indivíduo espera ser atendido em suas necessidades mais básicas, desapropriando de sua realidade a conquista e o desenvolvimento, e o populismo se valoriza, quase sempre, em atitudes de cunho cultural cujo produto oferecido nada possui em qualidade de modificação do sujeito ou de inclusão de inquietações.

Ficamos assim, então. Fora da Copa e distantes de nós, enquanto aguardamos o apito para a próxima partida. Ainda que esta esteja com o placar vendido, se, aparentemente, o resultado puder, ao menos, nos levar ao sorriso satisfeito da diversão, então se prova válido. A mediocridade do silêncio sobre si mesmo do brasileiro se resumiu à passividade em campo de estrelas sem brilho. O bom é que logo deve começar outra novela na televisão, e tudo, então, poderá voltar ao normal, ao lado de discursos artísticos que se enterram em solidão tanto quanto os jovens craques e as promessas futuras se perceberam subtraídos de reconhecimento.

Antro Exposto por Marina de la Riva

Conheci por uma sequência interessante de acontecimentos, o diretor Ruy Filho e a Cia de teatro Antro Exposto, há mais ou menos dois anos. Me procuraram para colaborar em uma peça e gravar uma música composta por um dos atores, Diego Torraca. Aceitei, fiz, fui e gostei de ter estado entre eles. Ao longo deste caminho, nos víamos em alguns shows que fiz, tínhamos desde sempre afinidade, mas não tinha ainda percebido a dimensão do trabalho destas pessoas na sua totalidade.

Recebia constantemente o convite para assistir suas mais recentes peças, ora uma e depois outra. E tanto acumulei ausência, que aconteceu o improvável. Consegui assisitir as duas, em dias consecutivos. E foi simplesmente uma experiência maravilhosa.

Convidei duas amigas e fomos assistir a peça. Sim “a” pois não previ o que aconteceria.

“Dentre tantos desvios possíveis, um caminhar pode ser resumido em duas estradas: seguir ou desviar-se. Nada é mais fácil e resultante positivo que o seguir, permanecer em linha reta conforme a rotina sugere, com a certeza de estar próximo ao reconhecimento e satisfação. Olhar ao lado é compreender estar no desvio a possibilidade de conhecer o desconhecido, trair a sorte entregando-se a escuridão transformando o percurso em preciosidade. Desviar-se do seguro acarreta perda dos referenciais óbvios, enquanto exige a criação de outros individualizados na vivenciação. A Cia de Teatro Antro Exposto surgiu por um desvio um desvio obrigatório, manipulado na ausência de vontade em continuarmos a rotina segura. Unindo trajetórias diversas e historias particulares, optamos, sem receio, pela estrada da incerteza, não percorrida, abandonada e assistida ao longe como um convite à exploração. Assim surgimos. No experimento de prosseguir desejosos de tornar a partida a própria chegada, e assim descobrir cúmplices outros pertencentes aos mesmos trajetos. Não queremos levar o expectador a nenhum lugar a não ser, dentro de si mesmo. Tornar o teatro o desvio estranho convidativo para que nele possamos juntos nos perder e descobrir de fato onde estamos e quem na escuridão nos tornamos. A expectativa de ser Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade o primeiro referencial para uma outra consciência. Orgulhamo-nos por errarmos o caminho natural”. ( Ruy Filho)

Ao ler isto, entro na sala escura com a luz preciosamente causando uma plástica nunca antes vista por mim, um som que me causou estranheza imediata, faixos de material, sombra, luz e gente… o resto é preciso viver. A minha “viagem” foi intensa. Ruy estava certo, eles nos levam a nós mesmos. Houve um debate no final do espetáculo e tudo que queria era voltar e ver mais e sorver mais e vislumbrar mais do inusitado. “Y así fué”. Voltamos no dia seguinte para assistir o “ EMVAO”, livre transcrição sobre Galáxias, de Haroldo de Campos.

Ao adentrar na sala outra vez, tive uma sensação que só senti com o ser amado, muito amado, por sinal. A ausência do tempo. O hiato de 24 horas entre sentar naquela cadeira outra vez não existia. Tudo era conectado, outra vez.

Aqui transcrevo um trecho do programa

“Ao olharmos para além de nós, o que encontraremos são os infinitos círculos de pertencimentos sociais, culturais, políticos estéticos, econômicos, maiores, minúsculos, explícitos ou tímidos. De alguma maneira, o homem tem se desenhado por suas escolhas. Mas se todo pertencimento pressupõe localizações, há, ainda o margeamento como conseqüência. Margens são espaços indefinidos que definem os lados que as constroem, vãos entre algo, existências invisíveis, presenças despercebidas. São também cicatrizes que maculam a unidade, para dela subtraírem suas próprias identidades independentes ao todo. Do lado de dentro daquilo que nada parece ser, está a complexidade de um sentido restrito multiplicado em potência de outro existir. Fugidio `a realidade concreta da dualidade provida pela divisão do uno. Um existir em si. Feito poesia, valor próprio de tempo e lugar, cujo sentido mais amplo encontra-se na ausência dialética do servir, na impotência em responder. Ou simplesmente , no não querer responder a algo. E se cabe ao observável de uma margem, ao seu contorno, uma função clara de sua existência, aquilo que a integra limita-se a ser sem qualquer contexto e fim, em vão. Dai, de novo, a poesia…..Não pertencemos se não a nós mesmos, ao risco de existirmos em vão, a ausência de localizações que nos afunda a uma contemporaneidade indecifrável em uma espécie de vão moral e histórico, enquanto descobrimos as faces que recombinadas trazem de volta a unidade. EMVAO surge convite para que outros adentrem a margem. Daqui, vocês sao outros. Chega a ser divertido olhar…”

Ainda preciso comentar que a música e a direção de arte fechavam tudo com uma complexidade elegante e simples assombrosa. Diego Torraca, Guilherme Gorski, Raiani Teichmann, Tiago Torraca entre outros simplesmente arrasam em cena. Ainda estou sem fôlego.

Queridos todos, Patrícia Cividanes, Ruy filho, muito obrigada pelo tapete mágico, vocês ainda estão em mim.

Aqui fica o meu desejo de que você que está lendo, vá e que tenha tanto proveito quanto tivemos.
Boa viagem…

Texto publicado no site Yahoo - colunistas

05 julho 2010

Reestreia de
COMPLEXO SISTEMA
DE ENFRAQUECIMENTO
DA SENSIBILIDADE


+ bate-papo com
LEONARDO BRANT

+ exposição de
FOTOS DE CENA

info::: www.viga.art.br