DOIS BRAÇOS DESTROS

Entretanto há um abismo imenso entre ser esquerdista e pertencer a atual Esquerda. Será que os militantes, e me refiro sobretudo aos jornalistas, artistas e hospedeiros da mídia em geral, não percebem que a ideologia cega é tão estúpida quanto a alienação? Busco me informar em ambos os lados (e convenhamos existir no Brasil mais de dois!). Revistas, jornais, sites... E em um momento de procura, eis que compro novamente a revista Caros Amigos. E a leio. E me estarreço com o linguajar ofensivo e neurótico de muitos dos articulistas desesperados em provar a importância histórica de Lula e a nefasta existência de Alckmin.
Assim, descaradamente? É, assim... Alguém que precisa ser defendido de maneira tão febril não merece desconfiança?
Não é exatamente a defesa o meu incômodo, pois Wanderley Guilherme dos Santos a faz com primazia e lucidez, mostrando os por quês de sua respeitabilidade. Tanto quanto José Arbex Jr., ao defender não o Alckmin mas o não ao Lula...
O patético está na militância esquizofrênica que parece desconsiderar tudo o que assistimos nos últimos anos, enfrentando o PSDB como único e eterno culpado. Como se o PT não tivesse de fato se tornado o reflexo do inimigo.
Respeito a revista como a todos que possuem uma opinião, ainda que divergente da minha, mas desta vez, gostaria de ter meu dinheiro de volta. Comprei-a por acreditar no debate. De outra forma me contentaria em assistir aos programas eleitorais.
Ora, meus caros e Caros, saiam às ruas com suas bandeiras, berrem em suas janelas. Quem sabe não estaremos juntos? Como disse, sou um esquerdista, o que nos coloca juntos em muitas das opiniões. Mas a vergonha da nossa esquerda caolha é real. Não me cego pelo interesse em defender minhas ideologias. Os acontecimentos estão aí, gostemos ou não.
A publicação da revista não é um fato isolado. Toda a imprensa tomou sua posição de um jeito ou outro. Manipulando noticiários, deturpando fatos, moldando pesquisas... A decepção fica ao perceber que mesmo a crítica jornalística, onde muitos dos nomes mais importantes e influentes da nossa esfera política circulam, é igualmente vendida. Quando não ao mercado, aos “ideais". A imparcialidade da caneta não está no não-dizer contra, concentra-se na clareza de uma abordagem coerente, fundamentada. E não na agressão animalesca de torcidas de futebol.
Recordei-me das entrevistas de Caetano Veloso e Dedé para o projeto sobre Lygia Clark, realizadas por Suely Rolnik, quando descreviam a crueldade com que a Esquerda de 60 atuara sobre eles, por entender que a estética musical criada não se adequava aos ideais da luta contra a ditadura. E me vejo, então, aprisionado por uma névoa burra de defesas calorosas e desmedidas por supostos intelectuais que mais parecem pertencer a uma espécie de mobral ideológico, nesse ‘esquerdicismo’ amargurado instaurado em nossa história.
Bom, como diria o mais brasileiro dos brasucas: “Ai, que preguiça...”