ELEIÇÃO 2006: sem desculpas
O maior país católico do mundo. Esse é o Brasil. O brasileiro! Infinito em sua capacidade de continuar a vida acima de todas as intempéries, sejam da seca nordestina, dos alagamentos paulistanos, das balas perdidas dos morros cariocas, da alma faminta, dos corruptos comandantes. Que lindo sentimento é esse o perdão. Oferecer a outra face!
E o povo paulista traz ao mundo como ninguém tal exemplo. Faz-se Cristo aos olhos pecadores de tantos outros por aí. E escolhe para si, nas urnas de todo o Estado, como se dialogassem com a máquina insensível feito o homem em crise no jardim e seu deus, a crucificação lenta.
O que justifica a eleição em primeiro lugar de Paulo Maluf, com seus 730 mil votos? E Palocci, Berzoini, Genoíno, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto? Senão que a fé suprema pelo sofrimento por opção trará de alguma maneira a redenção.
Há um tom trágico na incapacidade reflexiva da “outra chance”. E nesse momento me pego contradizendo minhas ideologias e amaldiçoando a tal da democracia... Ridículo desespero de quem não estava disposto a oferecer nenhuma face, e que agora, atropelado pela misericórdia da maioria, vê-se obrigado a conviver com o fato de ser representado por corruptos de todas as espécies.
Talvez meu ateísmo tenha me levado aos julgamentos mais corretos no momento de votação, sem piedade. E durmo em paz por não ser parte dessa massa moldada. Mas com a certeza que novos pesadelos infelizmente virão, continuarão a me acordar aos pulos!
Collor e Sarney estão de volta ao Senado. Feito a ressurreição no terceiro dia. Sentados em tronos estofados azuis, lá estarão, nas terras de Brasília, os mesmos reis que outrora foram destronados. Roseana está a um passo do Governo de Maranhão. O futuro igual ao passado de sempre, é o que se revelou nos cantos do país. Enquanto surgem por aqui e ali herdeiros de todas as facções, boas ou más: ACM Neto, Sarney Filho, Bruno Covas, Brizola Neto, Ricardo Montoro... Chegou a tal renovação? O incessante "pagar pra ver" que tanto domina os mecanismos brasileiros.
São Paulo. Minha terra. Cuja criatividade, também típica do povo brasileiro, consegue surpreender ainda mais elegendo como seus deputados Clodovil e Frank Aguiar. Claro, porque cabem ao perdão religioso a festa, a alegria. A comunhão com vestimenta apropriada em liturgia cantada aos versos modernos do teclado cafona.
Parabéns, Brasil. E obrigado meus irmão paulistanos. Realmente desta vez vocês conseguiram me fazer entender a necessidade e importância da fé para sobreviver a este país.
Sem desculpas. Desta vez não quero simplesmente disfarçar nada. Dane-se os bons modos e as frases corretas! Não sei se fico triste, ou bato no peito e mando vocês pro inferno.
E o povo paulista traz ao mundo como ninguém tal exemplo. Faz-se Cristo aos olhos pecadores de tantos outros por aí. E escolhe para si, nas urnas de todo o Estado, como se dialogassem com a máquina insensível feito o homem em crise no jardim e seu deus, a crucificação lenta.
O que justifica a eleição em primeiro lugar de Paulo Maluf, com seus 730 mil votos? E Palocci, Berzoini, Genoíno, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto? Senão que a fé suprema pelo sofrimento por opção trará de alguma maneira a redenção.
Há um tom trágico na incapacidade reflexiva da “outra chance”. E nesse momento me pego contradizendo minhas ideologias e amaldiçoando a tal da democracia... Ridículo desespero de quem não estava disposto a oferecer nenhuma face, e que agora, atropelado pela misericórdia da maioria, vê-se obrigado a conviver com o fato de ser representado por corruptos de todas as espécies.
Talvez meu ateísmo tenha me levado aos julgamentos mais corretos no momento de votação, sem piedade. E durmo em paz por não ser parte dessa massa moldada. Mas com a certeza que novos pesadelos infelizmente virão, continuarão a me acordar aos pulos!
Collor e Sarney estão de volta ao Senado. Feito a ressurreição no terceiro dia. Sentados em tronos estofados azuis, lá estarão, nas terras de Brasília, os mesmos reis que outrora foram destronados. Roseana está a um passo do Governo de Maranhão. O futuro igual ao passado de sempre, é o que se revelou nos cantos do país. Enquanto surgem por aqui e ali herdeiros de todas as facções, boas ou más: ACM Neto, Sarney Filho, Bruno Covas, Brizola Neto, Ricardo Montoro... Chegou a tal renovação? O incessante "pagar pra ver" que tanto domina os mecanismos brasileiros.
São Paulo. Minha terra. Cuja criatividade, também típica do povo brasileiro, consegue surpreender ainda mais elegendo como seus deputados Clodovil e Frank Aguiar. Claro, porque cabem ao perdão religioso a festa, a alegria. A comunhão com vestimenta apropriada em liturgia cantada aos versos modernos do teclado cafona.
Parabéns, Brasil. E obrigado meus irmão paulistanos. Realmente desta vez vocês conseguiram me fazer entender a necessidade e importância da fé para sobreviver a este país.
Sem desculpas. Desta vez não quero simplesmente disfarçar nada. Dane-se os bons modos e as frases corretas! Não sei se fico triste, ou bato no peito e mando vocês pro inferno.
7 Comments:
Olá, Ruy Filho,
só há uma solução: lançar edições, em forma de cartilhas, dos escritos de Glauber Rocha, para intensiva distribuição nacional, e adotá-los em aulas de leitura, análise sintática e outras didáticas. Tudo, claro, acompanhado de projeções de seus filmes, com ênfase em "Terra em transe" e "A Idade da Terra", explicando antes e debatendo depois, pelas manhãs, tarde e noites adentro.
Como os intelectuais dos anos-70/80 encoimavam-no de pirado, porque dizia desabridamente coisa com coisa, e disso a gente não gosta no faz-de-conta pindorâmico, há que ressuscitá-lo.
É o que tenho a dizer-lhe, por ora e agora.
Abraço palestino do glauberiano
Arnaldo C.
P.S.: e não pensemos que, no resto do mundo, as coisas estejam lá muito diversas, não. Mutação antropológica homologada pelo neo-capitalismo consumista dá nisso, como anteviu Pasolini. Ao menos o Zé Serra é trabalhador, com seu velho sotaque meio-carcamano do Mooca, e gosta de cinema pra xuxu. Já não são lá pontos positivos?
By Anônimo, at 3:43 AM
Pois é, Arnaldo. Faltam-nos Glaubers para apontar os caminhos. E sobretudo em salas de aula...
A primeira vez que assisti um filme de Glauber, estudava ainda a quinta série. Residia, de passagem, em Fortaleza.
Foi uma projeção feita sobre a parede amarela da sala, o que dava mais impacto sobre a seca e os contrastes da terra.
A projeção era uma improvisação do Grêmio da escola. Garotos de 15, 16 anos, que por não ter quase salas de cinema na cidade, decidiram nos mostrar outros caminhos além dos filmes americanos. E assim nos conduzir ao universo da reflexão.
Lá assisti meu primeiro Glauber e meu primeiro Fellini entre tantos outros.
As imagens amareladas nunca mais saíram da minha mente... E já se vão quase vinte anos.
Por onde andarão esses garotos?
Abraços,
RUY FILHO
By Ruy Filho, at 3:56 AM
'Tá vendo só como temos razão? A parede amarela...a gente precisa de muitas por esse País imenso, oprimido pelos genocídios cultural-televisivos, facultando oportunismos administrativos e políticos. Por isso as lideranças dão coteveladas entre si, num "à qui mieux, mieux!" daqueles, embora cultivem um pacto de dominação sobre as massas de que nem o PT se livraria.
Todos sabemos que o Poder isola, mas nunca vi nenhum Presidente mais solitário que o Lula. Não fosse retirante, subproletário e, mais tarde, metalúrgico e líder sindical ou, como se diz no Nordeste, tenha passado pela casca do angico, suponho não agüentaria.
Ninguém dos seus auxiliares e colaboradores mais diretos lhe disse reorganizasse a Administração Pública, levando-o a aceitar os pérfidos organogramas que herdou do Fernando Henrique. Ninguém lhe sugeriu passasse creolina na máquina de favores do Estado.
O Álckmin, já indicado pelo PSDB, esteve em Israel e não veio aos TPOs (Territórios Palestinos Ocupados), onde represento o Brasil e assisto a barbaridades quotidianas. Venceu disparado, entre os 47 votatantes em Telavive, enquanto Lula obteria 299 votos contra 37 dados ao homem de Pinda.
Israel abriga uns 15 mil brasileiros e registrou 246 eleitores. Os TPOs não contam mais que 4 mil e poucos concidadãos e, apesar das dificuldades de deslocamento (barreiras militares e muralhas de concreto de oito metros de altura), cadstraram-se 823 pessoas.
O que você infere desses dados, mesmo que não seja tão relacionado à quase sexagenária Questão da Palestina? Houve algum raciocínio cívico por aí, pois não?
abraço do
Arnaldo C.
By Anônimo, at 5:39 AM
Tenho recebi emails de amigo residentes fora do país. E o raciocínio cívico de qual fala é nítido entre os que não aqui estão. Parece-me haver mais clareza sobre a necessidade de aproximação política do povo às políticas públicas quando se enxer o Brasil depois do oceano. Infelizmente, aqui ainda é raro encontrar um brasileiro que se proponha pesquisar e refletir. Vamos dominados por uma mídia mediocrizada em nome de sobrevivência, que se outrora incluía o poder como sustentação ideológica/mercadológica, hoje luta maquiavélicamente para se mantér entre crises financeiras.
Os dados que trouxera sobre Israel e TPOs são realmente estimulantes à reflexão!
Quanto ao Collor, memórias minhas outra vez. Pois morei em Maceió quanto ele surgira como o "caçador de marajás". E fico com uma imagem de dois homens assassinados em praça pública, no centro comercial, conduzidos em carro oficial! Não se fala, pouco se disse, apenas serem placas frias...
E vamos vivendo. E infelizmente se esquecendo de tudo e todos.
Da minha parte, vejo-me cada dia mais misturando minha arte com política. E me norteio pela idéia de que vontade e acreditar que o mundo pode ser melhor, não o melhora em nada, mas, ao menos, faz-me uma pessoa potencialmente pronta para ajudar a melhorar, e portanto alguém mais ético e digno.
Contudo confesso estar amedrontado. Me assustam mais os calados do que os que gritam.
Um grande abraço,
RUY FILHO
By Ruy Filho, at 5:39 AM
Olá Ruy Filho,
meu texto, escrito pouco antes dos primeiros raios da alvorada, quando os maometanos fazem sua última refeição antes do jejum ramadânico, teve imprecisões que agora corrijo, aumentando-o um pouco, se me permite. Foi a bisavó, não a avó, que se enviuvou do Boeckel, como está abaixo, e adotou o sobrenome do novo marido para os rebentos, Collor, recém-eleito Senador da República.(por que partido?). Quais os dois senadores sufragados no Rio? E em Minas?
Novo abraço do
Arnaldo C.
By Anônimo, at 3:27 PM
Oi, Arnaldo,
No Rio o senador eleito foi FRANCISCO DORNELLES, do PP (coligação PP, PTB, PMDB, PSC, PL, PAN, PMN, PTC e PRONA), com 3.373.731 votos (45,86% dos votos válidos).
Em Minas, ELISEU RESENDE, do PFL (coligação PP, PTB, PSC, PL, PPS, PFL, PAN, PHS, PSB e PSDB), com 5.055.629 (60,89%).
Quanto ao partido de Collor, é o PRTB, Partido Renovador Trabalhista Brasileiro. Presidido por Levy Fidelix, candidato derrotado à Camara de Deputado Federal, em São Paulo.
E uma curiosidade sobre a candidatura de Collor: fora eleito com 44,04% dos votos válidos, mas com uma taxa de brancos e nulos de 17,39%, enquanto para Governador e Presidente, as taxas variaramm entre 6 e 7%. Perspectivas futuras de mudança sobre ele, não? Ou eu sou esperançoso demais?
Abraços,
RUY FILHO
By Ruy Filho, at 3:28 PM
Várias vezes já disse ser seu fã e de seus textos . Mais tem uns que são iluminados de tão bem fechadinhos . E esse último que me mandou é um deles.Parabéns .
By Anônimo, at 4:26 PM
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