Antro Particular

28 outubro 2006

DOIS BRAÇOS DESTROS

Assumo... E se isso me trouxer alguma culpa futura, então que venha, enquanto aprendo a lidar com ela. Mas assumo: antes de qualquer coisa, sou um esquerdista. Pronto, lá se vão mais alguns enfurecidos leitores do blog; emails em minha caixa aos negritos exigindo serem esquecidos. Sinto-me melhor em não ter tantos amigos a quem depender. Assumo por mim e mais ninguém.

Entretanto há um abismo imenso entre ser esquerdista e pertencer a atual Esquerda. Será que os militantes, e me refiro sobretudo aos jornalistas, artistas e hospedeiros da mídia em geral, não percebem que a ideologia cega é tão estúpida quanto a alienação? Busco me informar em ambos os lados (e convenhamos existir no Brasil mais de dois!). Revistas, jornais, sites... E em um momento de procura, eis que compro novamente a revista Caros Amigos. E a leio. E me estarreço com o linguajar ofensivo e neurótico de muitos dos articulistas desesperados em provar a importância histórica de Lula e a nefasta existência de Alckmin.

Assim, descaradamente? É, assim... Alguém que precisa ser defendido de maneira tão febril não merece desconfiança?

Não é exatamente a defesa o meu incômodo, pois Wanderley Guilherme dos Santos a faz com primazia e lucidez, mostrando os por quês de sua respeitabilidade. Tanto quanto José Arbex Jr., ao defender não o Alckmin mas o não ao Lula...

O patético está na militância esquizofrênica que parece desconsiderar tudo o que assistimos nos últimos anos, enfrentando o PSDB como único e eterno culpado. Como se o PT não tivesse de fato se tornado o reflexo do inimigo.

Respeito a revista como a todos que possuem uma opinião, ainda que divergente da minha, mas desta vez, gostaria de ter meu dinheiro de volta. Comprei-a por acreditar no debate. De outra forma me contentaria em assistir aos programas eleitorais.

Ora, meus caros e Caros, saiam às ruas com suas bandeiras, berrem em suas janelas. Quem sabe não estaremos juntos? Como disse, sou um esquerdista, o que nos coloca juntos em muitas das opiniões. Mas a vergonha da nossa esquerda caolha é real. Não me cego pelo interesse em defender minhas ideologias. Os acontecimentos estão aí, gostemos ou não.

A publicação da revista não é um fato isolado. Toda a imprensa tomou sua posição de um jeito ou outro. Manipulando noticiários, deturpando fatos, moldando pesquisas... A decepção fica ao perceber que mesmo a crítica jornalística, onde muitos dos nomes mais importantes e influentes da nossa esfera política circulam, é igualmente vendida. Quando não ao mercado, aos “ideais". A imparcialidade da caneta não está no não-dizer contra, concentra-se na clareza de uma abordagem coerente, fundamentada. E não na agressão animalesca de torcidas de futebol.

Recordei-me das entrevistas de Caetano Veloso e Dedé para o projeto sobre Lygia Clark, realizadas por Suely Rolnik, quando descreviam a crueldade com que a Esquerda de 60 atuara sobre eles, por entender que a estética musical criada não se adequava aos ideais da luta contra a ditadura. E me vejo, então, aprisionado por uma névoa burra de defesas calorosas e desmedidas por supostos intelectuais que mais parecem pertencer a uma espécie de mobral ideológico, nesse ‘esquerdicismo’ amargurado instaurado em nossa história.

Bom, como diria o mais brasileiro dos brasucas: “Ai, que preguiça...”

23 outubro 2006

Palestra Ufscar - 25/out

A relação "teatro - política" pode ir além do engajamento visto em montagens cujos teores são explicitamente posicionamentos ideológicos quais se busca defender e/ou difundir.
Há no próprio contexto criativo a possibilidade de se obter o Político através da elaboração Estética, como princípio de induzir o espectador a paradigmas que reflitam a percepção de si mesmo junto ao Sistema.
A palestra "A estética como instrumento político: teatro brasileiro contemporâneo", trata a questão do indivíduo no meio socio-cultural e os confrontos ideológicos, a partir dos principais diretores brasileiros: Antunes Filho, Antônio Araújo, Gerald Thomas e José Celso Martinez Corrêa.
A palestra toma por ponto de partida, texto apresentado aqui no Antro Particular sobre a dramaturgia dos diretores.

06 outubro 2006

ELEIÇÃO 2006: sem desculpas

O maior país católico do mundo. Esse é o Brasil. O brasileiro! Infinito em sua capacidade de continuar a vida acima de todas as intempéries, sejam da seca nordestina, dos alagamentos paulistanos, das balas perdidas dos morros cariocas, da alma faminta, dos corruptos comandantes. Que lindo sentimento é esse o perdão. Oferecer a outra face!

E o povo paulista traz ao mundo como ninguém tal exemplo. Faz-se Cristo aos olhos pecadores de tantos outros por aí. E escolhe para si, nas urnas de todo o Estado, como se dialogassem com a máquina insensível feito o homem em crise no jardim e seu deus, a crucificação lenta.

O que justifica a eleição em primeiro lugar de Paulo Maluf, com seus 730 mil votos? E Palocci, Berzoini, Genoíno, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto? Senão que a fé suprema pelo sofrimento por opção trará de alguma maneira a redenção.

Há um tom trágico na incapacidade reflexiva da “outra chance”. E nesse momento me pego contradizendo minhas ideologias e amaldiçoando a tal da democracia... Ridículo desespero de quem não estava disposto a oferecer nenhuma face, e que agora, atropelado pela misericórdia da maioria, vê-se obrigado a conviver com o fato de ser representado por corruptos de todas as espécies.

Talvez meu ateísmo tenha me levado aos julgamentos mais corretos no momento de votação, sem piedade. E durmo em paz por não ser parte dessa massa moldada. Mas com a certeza que novos pesadelos infelizmente virão, continuarão a me acordar aos pulos!

Collor e Sarney estão de volta ao Senado. Feito a ressurreição no terceiro dia. Sentados em tronos estofados azuis, lá estarão, nas terras de Brasília, os mesmos reis que outrora foram destronados. Roseana está a um passo do Governo de Maranhão. O futuro igual ao passado de sempre, é o que se revelou nos cantos do país. Enquanto surgem por aqui e ali herdeiros de todas as facções, boas ou más: ACM Neto, Sarney Filho, Bruno Covas, Brizola Neto, Ricardo Montoro... Chegou a tal renovação? O incessante "pagar pra ver" que tanto domina os mecanismos brasileiros.

São Paulo. Minha terra. Cuja criatividade, também típica do povo brasileiro, consegue surpreender ainda mais elegendo como seus deputados Clodovil e Frank Aguiar. Claro, porque cabem ao perdão religioso a festa, a alegria. A comunhão com vestimenta apropriada em liturgia cantada aos versos modernos do teclado cafona.

Parabéns, Brasil. E obrigado meus irmão paulistanos. Realmente desta vez vocês conseguiram me fazer entender a necessidade e importância da fé para sobreviver a este país.

Sem desculpas. Desta vez não quero simplesmente disfarçar nada. Dane-se os bons modos e as frases corretas! Não sei se fico triste, ou bato no peito e mando vocês pro inferno.

04 outubro 2006

Já estão no blog os resultados da eleição 2006 para Deputados Federais por São Paulo, Senadores de todos os Estados, Governadores e estatística para Presidente.
Também o gráfico comparativo entre Lula e Alckmin para o segundo turno.