5PSA -O Filho: Muito além da obviedade
Postado na hospedagem anterior do blog na sexta-feira, 28 de janeiro de 2005
10:14:09
Uma família. Quatro irmãos e uma mãe, assim denominada pelos irmãos, mas que logo se apresenta ao público qual recepciona informando que o tratamento recebido não passa de uma criação. Irmãos? A própria consciência da personagem-mãe nos conduz ao questionamento se há de fato parentesco ou são as outras personagens semelhantes de uma mesma religião. O culto ao conhecimento trazido por uma estrela. Suas ritualizações e derivações. Não fica de fato claro ao público qual é a religião em questão. Mas alguma quando vista de fora, desapegada de fé, faz sentido?
A peça ocorre dividindo o público presente em quatro salas distintas. Eu fui parar dentro de um banheiro... A experiência do isolamento com apenas uma das personagens enquanto pequenas risadas e ruídos delatavam a existência do restante do público e, portanto, de outras versões da mesma estória qual ouvia.
Há um acerto na forma de se apropriar o espaço. Ainda que se insista na proposta andarilha como uma grande novidade, poucas são as peças onde a circulação por salas e aposentos se justificam não por valores modistas advindo sobretudo da (já) escola do Teatro da Vertigem. Não. 5PSA escapa a isso. Justifica-se e renova a técnica ao introduzir o público à cena de forma passiva porém essencial ao desempenho do ator. Distancia-se do movimento exploratório e vazio da técnica ao não conduzir o público para uma viagem sobre o sofrimento romântico das personagens.
Contudo, dois são os problemas fundamentais da peça: dramaturgia e interpretação. De cara os atores não estão no mesmo patamar. Ora melhores, ora menos, deixam expor suas técnicas de curso dramático - e isso é bom - apoiando-se apenas nela. Falta algo. Uma verdade não naturalista que busque não traduzir os depoimentos em realidade mas em personificação de um outro estado, este próprio dos fanáticos e delirantes. Não que gostaria de assistir atores com olhos arregalados, mãos trêmulas e todos os estereotipos dos loucos. Volto a dizer, uma verdade não naturalista, que me faça aceitar um outro indivíduo como sendo real e lúcido, ainda que diferente de como socialmente somos.
Já a dramaturgia, infelizmente, fica aquém. Os textos são rasos, o que torna os embates superficiais. Há que se acertar uma linguagem para este universo. Uma verbalização própria. A construção dramática se perde em propriedade e fortalece ainda mais o acerto da concepção cênica. Entretanto, falta o que nos dizer frente ao amadurecimento do como.
De um lado 5PSA nos conduz a uma jornada instigante, de outro nos surpreende com uma metáfora sobre a tolerância ao outro e ao desafio de nos colocarmos enquanto indivíduos no mundo moderno, onde nossas observações e reflexões são individualmente versões de um cotidiano compartilhado e inóspito. E nada mais interessante na sua atualidade do que utilizar a religião para representar tudo isso.
Há quanto tempo você não sai do teatro com elementos para reflexão sem a obviedade das combinações estéticas regradas pelas críticas dos jornais? Muito tempo? Bom, esta pode ser uma agradável oportunidade, mas prepare-se para ir ao teatro pelo menos quatro vezes...
10:14:09
Uma família. Quatro irmãos e uma mãe, assim denominada pelos irmãos, mas que logo se apresenta ao público qual recepciona informando que o tratamento recebido não passa de uma criação. Irmãos? A própria consciência da personagem-mãe nos conduz ao questionamento se há de fato parentesco ou são as outras personagens semelhantes de uma mesma religião. O culto ao conhecimento trazido por uma estrela. Suas ritualizações e derivações. Não fica de fato claro ao público qual é a religião em questão. Mas alguma quando vista de fora, desapegada de fé, faz sentido?
A peça ocorre dividindo o público presente em quatro salas distintas. Eu fui parar dentro de um banheiro... A experiência do isolamento com apenas uma das personagens enquanto pequenas risadas e ruídos delatavam a existência do restante do público e, portanto, de outras versões da mesma estória qual ouvia.
Há um acerto na forma de se apropriar o espaço. Ainda que se insista na proposta andarilha como uma grande novidade, poucas são as peças onde a circulação por salas e aposentos se justificam não por valores modistas advindo sobretudo da (já) escola do Teatro da Vertigem. Não. 5PSA escapa a isso. Justifica-se e renova a técnica ao introduzir o público à cena de forma passiva porém essencial ao desempenho do ator. Distancia-se do movimento exploratório e vazio da técnica ao não conduzir o público para uma viagem sobre o sofrimento romântico das personagens.
Contudo, dois são os problemas fundamentais da peça: dramaturgia e interpretação. De cara os atores não estão no mesmo patamar. Ora melhores, ora menos, deixam expor suas técnicas de curso dramático - e isso é bom - apoiando-se apenas nela. Falta algo. Uma verdade não naturalista que busque não traduzir os depoimentos em realidade mas em personificação de um outro estado, este próprio dos fanáticos e delirantes. Não que gostaria de assistir atores com olhos arregalados, mãos trêmulas e todos os estereotipos dos loucos. Volto a dizer, uma verdade não naturalista, que me faça aceitar um outro indivíduo como sendo real e lúcido, ainda que diferente de como socialmente somos.
Já a dramaturgia, infelizmente, fica aquém. Os textos são rasos, o que torna os embates superficiais. Há que se acertar uma linguagem para este universo. Uma verbalização própria. A construção dramática se perde em propriedade e fortalece ainda mais o acerto da concepção cênica. Entretanto, falta o que nos dizer frente ao amadurecimento do como.
De um lado 5PSA nos conduz a uma jornada instigante, de outro nos surpreende com uma metáfora sobre a tolerância ao outro e ao desafio de nos colocarmos enquanto indivíduos no mundo moderno, onde nossas observações e reflexões são individualmente versões de um cotidiano compartilhado e inóspito. E nada mais interessante na sua atualidade do que utilizar a religião para representar tudo isso.
Há quanto tempo você não sai do teatro com elementos para reflexão sem a obviedade das combinações estéticas regradas pelas críticas dos jornais? Muito tempo? Bom, esta pode ser uma agradável oportunidade, mas prepare-se para ir ao teatro pelo menos quatro vezes...
1 Comments:
Ir ao teatro pelo menos 4 vezes para ver "o filho"??
Eu fui 11!!! rs rs rs
Eu achava interessante também o pós-espetáculo, onde você podia conversar com os personagens pelo Orkut ou pelo blogs deles...
Abraços!
By Anônimo, at 1:56 PM
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