UM ESPETÁCULO NÃO SE RESUME AO PALCO
Foi-se a época em que colecionar programas de espetáculos traduziria as diversas correntes de pesquisa estética e conceitual. Abrir gavetas, baús, caixas empoeiradas, agendas possibilitava viajar por entre lembranças e idéias. Não mais.
Hoje, os programas de teatro (acompanhando o que há mais de uma década ocorrera com as artes visuais) banalizaram-se pela objetividade de informações, sem muito a acrescentar ao discurso artístico.
Diversos são os fatores. O mais óbvio explicita a falta de recursos como responsável pela simplificação do material. Menos verba, maior limitação. Menos espaço, maior objetividade. Também o design, a foto, as imagens passaram a dominar o discurso e, quase sempre, a preocupação em torná-lo "belo", ainda que tal avaliação seja extremamente particular, faz-se ponto central. É preciso ser diferente, chamar atenção, estar na moda. Será?
A falta de recursos não impede em nenhum estágio criativo que sejam elaboradas alternativas simples e eficazes para exposição de idéias. Tampouco a perspectiva de ser um bom material aquele com uma foto ´xis´ ou a fonte do momento. Tudo pode participar desde que traga aspectos do discurso permeados no trabalho.
O que lemos e vemos nos programas distribuídos na imensa maioria dos espetáculos em cartaz é inacreditavelmente fútil e desnecessário, e quase sempre explicativo e redundante. E, de alguma maneira, os programas espelham os valores dos artistas que os produzem. Conheço poucas pessoas que, ao serem indagadas sobre seu espetáculo, vão além do narrar a história. Infelizmente. "Sobre o que se trata?", talvez seja a pergunta mais temida dos bastidores, enquanto convivemos com respostas padronizadas, tais como "é a história de um cara...", "bom, o meu personagem é um cara", "fala de dois personagens que precisam de...". Há um imenso abismo entre falar sobre os conceitos e contar a história. Evidentemente, os programas refletem a superficialidade de tais percepções.
Explicações da importância de nomes clássicos, explicações da encenação, trajetória da pesquisa, sinopse e resumo dos personagens, e tantos outros mecanismos de contar o processo e as particularidades do trabalho, ocupam excessivamente espaços que deveriam ser voltados ao aprofundamento de idéias. A redundância em oferecer ao público uma prévia do que será apresentado torna o programa desnecessário, e não é a toa que muitos podem ser reencontrados nas poltronas após a saída do público. Para que levar para casa algo que já entendi no palco e que nada mais me acrescenta?
É preciso pensar o programa como um outro braço do discurso. Ir além da obviedade dos fatos ordinários e do próprio espetáculo, para torná-lo instrumento de expansão. Explorar e aprofundar detalhes que não couberam nas cenas, que só podem existir na retórica, no embate teórico, na reflexão solitária. Seja em um livro experimental, seja em uma simples página. Cabe ao programa dialogar com a montagem e não explicá-la. Fazer-se necessário para inquietar o público a ver o espetáculo, ao mesmo tempo em que se revela igualmente importante após a apresentação como instrumento de aprofundamento do que se viu.
Tudo se inicia antes, portanto. O programa não pode ser meramente o produto, a cara midiática do artista. Pelo contrário. Sua origem é clara. Está naquele momento em que o artista, o grupo, os amigos se olham e se perguntam sobre o que desejam falar.
O problema, certamente, consiste no fato do desaparecimento de que tal questionamento. Monta-se mais hoje em homenagem, em comemoração, no intuito de um prêmio ou incentivo qualquer, e menos por inquietações verdadeiras que, se não expostas, sufocariam o artista ao desespero. Fala-se o mais fácil, o recompensador.
Saudades dos discursos de outrora. Enquanto nada muda, volto às minhas gavetas e recupero dela aqueles que não me deixam dormir.
Hoje, os programas de teatro (acompanhando o que há mais de uma década ocorrera com as artes visuais) banalizaram-se pela objetividade de informações, sem muito a acrescentar ao discurso artístico.
Diversos são os fatores. O mais óbvio explicita a falta de recursos como responsável pela simplificação do material. Menos verba, maior limitação. Menos espaço, maior objetividade. Também o design, a foto, as imagens passaram a dominar o discurso e, quase sempre, a preocupação em torná-lo "belo", ainda que tal avaliação seja extremamente particular, faz-se ponto central. É preciso ser diferente, chamar atenção, estar na moda. Será?
A falta de recursos não impede em nenhum estágio criativo que sejam elaboradas alternativas simples e eficazes para exposição de idéias. Tampouco a perspectiva de ser um bom material aquele com uma foto ´xis´ ou a fonte do momento. Tudo pode participar desde que traga aspectos do discurso permeados no trabalho.
O que lemos e vemos nos programas distribuídos na imensa maioria dos espetáculos em cartaz é inacreditavelmente fútil e desnecessário, e quase sempre explicativo e redundante. E, de alguma maneira, os programas espelham os valores dos artistas que os produzem. Conheço poucas pessoas que, ao serem indagadas sobre seu espetáculo, vão além do narrar a história. Infelizmente. "Sobre o que se trata?", talvez seja a pergunta mais temida dos bastidores, enquanto convivemos com respostas padronizadas, tais como "é a história de um cara...", "bom, o meu personagem é um cara", "fala de dois personagens que precisam de...". Há um imenso abismo entre falar sobre os conceitos e contar a história. Evidentemente, os programas refletem a superficialidade de tais percepções.
Explicações da importância de nomes clássicos, explicações da encenação, trajetória da pesquisa, sinopse e resumo dos personagens, e tantos outros mecanismos de contar o processo e as particularidades do trabalho, ocupam excessivamente espaços que deveriam ser voltados ao aprofundamento de idéias. A redundância em oferecer ao público uma prévia do que será apresentado torna o programa desnecessário, e não é a toa que muitos podem ser reencontrados nas poltronas após a saída do público. Para que levar para casa algo que já entendi no palco e que nada mais me acrescenta?
É preciso pensar o programa como um outro braço do discurso. Ir além da obviedade dos fatos ordinários e do próprio espetáculo, para torná-lo instrumento de expansão. Explorar e aprofundar detalhes que não couberam nas cenas, que só podem existir na retórica, no embate teórico, na reflexão solitária. Seja em um livro experimental, seja em uma simples página. Cabe ao programa dialogar com a montagem e não explicá-la. Fazer-se necessário para inquietar o público a ver o espetáculo, ao mesmo tempo em que se revela igualmente importante após a apresentação como instrumento de aprofundamento do que se viu.
Tudo se inicia antes, portanto. O programa não pode ser meramente o produto, a cara midiática do artista. Pelo contrário. Sua origem é clara. Está naquele momento em que o artista, o grupo, os amigos se olham e se perguntam sobre o que desejam falar.
O problema, certamente, consiste no fato do desaparecimento de que tal questionamento. Monta-se mais hoje em homenagem, em comemoração, no intuito de um prêmio ou incentivo qualquer, e menos por inquietações verdadeiras que, se não expostas, sufocariam o artista ao desespero. Fala-se o mais fácil, o recompensador.
Saudades dos discursos de outrora. Enquanto nada muda, volto às minhas gavetas e recupero dela aqueles que não me deixam dormir.
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