DOMINGOS NÃO SÃO BONS DIAS PARA MIM
Semana passada concordei com a confidência de um amigo: “Estou tomando cuidado com o que digo por aí, para as pessoas...”. E me arrependo disso! Não quero ter cuidado. Não quero me submeter ao medíocre sistema de tapas nas costas e sorrisos fotográficos. Mato-me todos os dias nas saídas dos teatros, das exposições, dos reencontros casuais, ao agir assim. Mato-me enquanto artista. Enquanto cidadão. E pessoa.
Cabe-me mais. Se escolho o palco como manifestação de minhas idéias, ou melhor, escolho a Arte, então não posso usar tantas máscaras. Danem-se os hipócritas que me abraçam por aí (tenho certeza que muitos desses não lerão mesmo esse texto ou não se reconhecerão). Parei de aplaudir a muito tempo. Conhecidos ou não. Na última ou primeira fila. Prefiro o reconhecimento do meu descontentamento ao comodismo indecifrável da massa comum. E assumo o meu silêncio muitas vezes como gesto político, provocativo. Aos que acompanham o blog, a sensação de diminuir o ritmo dos textos acrescentados. É por não querer dizer o que enfim acredito ter que dizer. Esse destrutivo mal-estar estabelecido subjetivamente com a expulsão imediata do círculo social. Basta!
Quero os socos entre Haroldo de Campos e Ferreira Gullar durante o concretismo e neo-concretismo. As páginas de jornal escritas por críticas verdadeiramente capazes de acrescentar ao artista um parâmetro de reflexão de seu trabalho. É desesperador saber que a crítica não existe mais pois está aprisionada pelo mercado editorial e seus milionários anunciantes. Sinto-me só. Sem pessoas capazes de olhar no meu rosto com sinceridade e me dizer “acho que você se equivocou desta vez!”.
Suspiro...
Enquanto escrevo, olho na minha estante o livro de Roger Taylor, Arte Inimiga do Povo, e percebo o quanto estou cansado da hipocrisia latente, da minha própria hipocrisia em troca de sobrevivência. Quero tornar-me inimigo, então. Contagiante. Epidêmico. Mas no fundo, para quem? Quem quer sair de casa para se ver pressionado pela própria consciência, ter escancarado a sua frente o pior de si mesmo, a podridão do mundo, rever sua moral, seus parâmetros?
Faço, então, para mim mesmo. Para me lembrar que Busch existe; que as guerras surgem diariamente; que a popularidade de Lula cresce ao esquecimento dos escândalos e que os tucanos agradecem, bêbados por champanhe, também serem esquecidos; que a África existe; que pertencemos à América Latina; que a crueldade tem se revelado não-circunstancial, que a falência capitalista se instaura nos mais mínimos níveis, que a mídia destrói a cultura, que a educação fabrica dejetos sociais... Faço para me obrigar a lembrar disso e tanto mais amanhã e depois e depois... E ter a certeza de que me cabe a responsabilidade de tentar algo, do jeito que der, como souber, como conseguir.
Faço para mim, e para todos os que quiserem, aos que se olham no espelho pela manhã e vão além de si mesmos. São todos bem-vindos. Mas deixo claro desde já: cansei de adulação, de amabilidade. Não leve sua pipoca e saquinho de bala para me ver. Não quero mais fabricar amigos. Quero fazer arte.
Suspiro...
E desculpe o desabafo e se desagrado. Os domingos me deixam assim... desesperado. Solidão carente do dia em que o Criador nos deixou a sós? Falta de espectativa por outra "nova" semana? Pense os absurdos que quiser, mas para mim os domingos são um reflexo da mediocridade de nós mesmos. Mesmo esse, que me fez declarar amar no meio da rua, em meio a centenas de pessoas, sob uma Lua em forma de sorriso e uma banda de blues. Sorte de quem como eu tem alguém.
Talvez esteja aí o enigma deste domingo: o amor. Amar o outro a ponto de não permitir que se aliene; mostrar-lhe a vida, a história, a realidade crua, revelar-lhe a si mesmo. Trazer do desagradável a consciência plena do momento, da vida. E, através do outro, completar-se, e então se descobrir pronto para mudar o todo, todos, tudo.
Suspiro...
Onze anos e meio. E se me descrevo artista, é porque me vejo completo nesse amor, meu próprio reflexo do ideal. Onze anos e meio, quem diria... Sem vergonha alguma digo: Eu te amo, Patrícia.
Ah, domingos... Eu preciso é dormir um pouco...
Cabe-me mais. Se escolho o palco como manifestação de minhas idéias, ou melhor, escolho a Arte, então não posso usar tantas máscaras. Danem-se os hipócritas que me abraçam por aí (tenho certeza que muitos desses não lerão mesmo esse texto ou não se reconhecerão). Parei de aplaudir a muito tempo. Conhecidos ou não. Na última ou primeira fila. Prefiro o reconhecimento do meu descontentamento ao comodismo indecifrável da massa comum. E assumo o meu silêncio muitas vezes como gesto político, provocativo. Aos que acompanham o blog, a sensação de diminuir o ritmo dos textos acrescentados. É por não querer dizer o que enfim acredito ter que dizer. Esse destrutivo mal-estar estabelecido subjetivamente com a expulsão imediata do círculo social. Basta!
Quero os socos entre Haroldo de Campos e Ferreira Gullar durante o concretismo e neo-concretismo. As páginas de jornal escritas por críticas verdadeiramente capazes de acrescentar ao artista um parâmetro de reflexão de seu trabalho. É desesperador saber que a crítica não existe mais pois está aprisionada pelo mercado editorial e seus milionários anunciantes. Sinto-me só. Sem pessoas capazes de olhar no meu rosto com sinceridade e me dizer “acho que você se equivocou desta vez!”.
Suspiro...
Enquanto escrevo, olho na minha estante o livro de Roger Taylor, Arte Inimiga do Povo, e percebo o quanto estou cansado da hipocrisia latente, da minha própria hipocrisia em troca de sobrevivência. Quero tornar-me inimigo, então. Contagiante. Epidêmico. Mas no fundo, para quem? Quem quer sair de casa para se ver pressionado pela própria consciência, ter escancarado a sua frente o pior de si mesmo, a podridão do mundo, rever sua moral, seus parâmetros?
Faço, então, para mim mesmo. Para me lembrar que Busch existe; que as guerras surgem diariamente; que a popularidade de Lula cresce ao esquecimento dos escândalos e que os tucanos agradecem, bêbados por champanhe, também serem esquecidos; que a África existe; que pertencemos à América Latina; que a crueldade tem se revelado não-circunstancial, que a falência capitalista se instaura nos mais mínimos níveis, que a mídia destrói a cultura, que a educação fabrica dejetos sociais... Faço para me obrigar a lembrar disso e tanto mais amanhã e depois e depois... E ter a certeza de que me cabe a responsabilidade de tentar algo, do jeito que der, como souber, como conseguir.
Faço para mim, e para todos os que quiserem, aos que se olham no espelho pela manhã e vão além de si mesmos. São todos bem-vindos. Mas deixo claro desde já: cansei de adulação, de amabilidade. Não leve sua pipoca e saquinho de bala para me ver. Não quero mais fabricar amigos. Quero fazer arte.
Suspiro...
E desculpe o desabafo e se desagrado. Os domingos me deixam assim... desesperado. Solidão carente do dia em que o Criador nos deixou a sós? Falta de espectativa por outra "nova" semana? Pense os absurdos que quiser, mas para mim os domingos são um reflexo da mediocridade de nós mesmos. Mesmo esse, que me fez declarar amar no meio da rua, em meio a centenas de pessoas, sob uma Lua em forma de sorriso e uma banda de blues. Sorte de quem como eu tem alguém.
Talvez esteja aí o enigma deste domingo: o amor. Amar o outro a ponto de não permitir que se aliene; mostrar-lhe a vida, a história, a realidade crua, revelar-lhe a si mesmo. Trazer do desagradável a consciência plena do momento, da vida. E, através do outro, completar-se, e então se descobrir pronto para mudar o todo, todos, tudo.
Suspiro...
Onze anos e meio. E se me descrevo artista, é porque me vejo completo nesse amor, meu próprio reflexo do ideal. Onze anos e meio, quem diria... Sem vergonha alguma digo: Eu te amo, Patrícia.
Ah, domingos... Eu preciso é dormir um pouco...
15 Comments:
Ruyeeee, o meu único comentário é te aplaudir de pé! CLAP, CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP,CLAP.Mas por favor, não deixe de ter domingos...Beijo Pri
By Anônimo, at 5:46 AM
Ruy dear,
li o texto sobre o Domingo e fiquei pensando, o que eu realmente mais curti neste texto? O conteúdo do desabafo? É importante e pontual, mas não foi exatamente isso que me marcou. Então me dei conta, enquanto leio sobre as experiências de George Orwell quando morou na rua em Paris e Londres (início anos 30) que curti o fato de você estar se entregando, com este texto, à arte da prosa. É por isso que é tão importante. Ao querer mandar todo (o) mundo para a puta que (nos/o) pariu, você se entrega um pouco mais à delícia da arte de escrever.
O conteúdo do nada do domingo te DES-ABAFOU, literalmente. Deixe que os políticos comam a sua própria merda, e se desabafe mais e mais, pois aqui você está fazendo arte.
By Anônimo, at 5:59 AM
cara invejo teu heroismo, tb já pensei assim, acho q ja to velho para polemicas,quantas vezes me esforço para manter a língua relaxada dentro da boca em prol da boa convivência social.
infelizmente só com os mais íntimos ouso dizer o q penso.
e sigo assim com sorrisso amarelo, forçado, hipertenso, a beira de um ataque de nervos.
só o amor me redime...
By Anônimo, at 7:59 AM
ruy, vá para o inferno, por me fazer chorar a estas horas da manha.
By Anônimo, at 9:42 AM
Olha, Ruy, se tem algo que não fecho em nome da boa convivência, é a boca. Perde-se muito. O amor não me redime, porque até ele não gostou da metralhadora giratória que se instalou definitivamente na minha mente, há algum tempo, e disse "gosto de você como você era antes" (o tempo estático - prefiro o extático). Todos nos querem 'bons rapazes' e 'boas moças', mesmo que sejamos maus, muito maus. A sociedade espera o comportamento multicrente que ela vive, de nós, também. Temos artistas panfletários (do mundo menor, das artes; o pior, te garanto) que se auto-nomeiam politizados, que cagam pras regras dessa sociedade decadente, mentirosa, alarmista e escravocrata, mas na hora do dito tapinha nas costas em cima do ombro de alguém que detenha uma idéia do contra, logo em seguida fecham os punhos porque sabem que ali já foi depositado sua paga. E fecham a boca. E se maquilam. Viram bonecos, bonecas, andróides fascistas que só funcionam movidos a dinheiro e cargos. Mas bebem nas noites paulistanas (as que conheço) por saberem que suas putices agora, devidamente orçadas, perderam o real valor. Eu não me engano. Posso me foder com meu jeito de pensar e ser, e de chamar atenção para o esgoto que muitos fingem ser uma pequena poça, mas não vou desistir. Fico feliz ao ver em você, mais um. Abraço.
By Anônimo, at 1:15 PM
Ruy.
...
Fique sabendo que você não fere quando expõe o seu ponto de vista. Mesmo o pior deles. Você tem um jeito educado de detestar as coisas. Sempre achei que fosse natural. Você disfarça bem, hein! Mas, olha, um pouco de "ODEIO. ODEIO. ODEIO E ODEIO PORQUE..." Não vai fazer mal a ninguém. Podem não gostar na hora, mas é a melhor coisa que um artista pode ouvir quando está no caminho errado. Você não é um qualquer que diz odiar e depois sai pra comer pizza e discutir o Revellion.
Lindo o texto. EU SOU SUA FÃ! Beijos
By Anônimo, at 2:03 PM
Domingo que vem, vamos sair?
Beijo
Ri
By Anônimo, at 2:57 PM
Vc é fantástico cara . Pode me "desagradar" o quanto quiser com seus textos rsss
Sou seu fã e companheiro em 99% de suas ideologias . 1 % me reservo ao direito de ser diferente pra ser um SER original rsss
Abração
By Anônimo, at 4:29 PM
Tantos domingos e eu não canso de me apaixonar por todo este seu radicalismo e paixão pela vida!!
Continue me fazendo chorar e sorrir, e chorar e mais uma vez sorrir SEMPRE!!
Também te amo, moreno...
Ní
By Anônimo, at 4:49 PM
ruy, ruy...
sei bem o que você tá falando e me identifico muito...
pra que fazermos caras e bocas se no fundo a gente só quer ser a gente mesmo e falar o que dá na telha...
Fodam-se esses que acham que nos impedem de sermos artístas... pelo menos ainda temos algo puro... uma certa integridade com a gente mesmo...
engraçado, porque neste sábado para domingo estava reclamando exatamente disso na vida...
ehhhh pscianossss
Beijos
By Anônimo, at 6:52 PM
E aí Ruy, como vão, vc e a Patrícia?
Notei que os textos do blog voltaram a ser frequentes!!!
E, comentários sobre o último texto...
Primeiro: Parabéns pelos 11 anos!!!
A sociedade respira a hipocrisia para conseguir viver nos moldes que ela cunhou. Quanto à mediocridade, cabe aos lúcidos sobreviver neste meio e VIVER fora dele.
Abc,
Eleandro
By Anônimo, at 9:47 PM
Não costumo entrar sempre no blog..mas acho que o título me chamou muito a atenção...Pois os domingos também me fazem pensar...pensar e me sentir pessimista diante de tanta coisa errada que nos cerca e pessoas perdidas que vivem para agradar mais aos outros que a si mesmos...Não sei se seu desabafo é duro demais(talvez realista demais), eu sempre tento viver no meio termo, talvez esteja errada...Acho que é você que é realmente livre!
Ruy, mesmo com as ausências, tive, tenho e sempre vou ter enorrrme carinho por você e pela Pat... Pra mim, o que sempre salva os domingos também é o amor! Que seja sempre assim. Parabéns a vocês!beijos, Ana (Capella, eu mesma)
By Anônimo, at 9:56 AM
Oi Ruy,
Muuuuito bonito esse texto! Fico aliviada quando percebo pessoas como vc que se deixam transparecer, nesse mundo que nos desanima. Mais bonito ainda é terminar o texto com uma declaração de amor...
Engraçado que, geralmente, sinto-me assim às segundas-feiras...será talvez porque elas me impõem, sem piedade, à realidade dos nossos carimbos e máscaras sociais? Não sei...só sei que ADOREI! Continue produzindo!!
Muitos beijos para vc e para a Patricia.
Adriana Petrilli
By Anônimo, at 11:51 AM
Oi Ruy,
Muuuuito bonito esse texto! Fico aliviada quando percebo pessoas como vc que se deixam transparecer, nesse mundo que nos desanima. Mais bonito ainda é terminar o texto com uma declaração de amor...
Engraçado que, geralmente, sinto-me assim às segundas-feiras...será talvez porque elas me impõem, sem piedade, à realidade dos nossos carimbos e máscaras sociais? Não sei...só sei que ADOREI! Continue produzindo!!
Muitos beijos para vc e para a Patricia.
Adriana Petrilli
By Anônimo, at 11:51 AM
RESPOSTA AOS AMIGOS
Pri Lopes: que saudade!!!!!!!!! Você e o Regito era tudo o que eu gostaria de ter agora. Muitos beijos pra vcs dois.
Verônica: você sabe que muito do meu tornar artista se espelha em vc. Poxa, como vc vai fazer falta! E quanto ao G. O. sou apaixonado por ele, as idéias dele! E como está a Europa? Beijos e não suma!!!
Herse: sem escolha, o negócio é abrir a boca mesmo, e aguentar a dor... Fazer o quê? Amar, amar, amar...
Anita: risos... Na próxima vez, leia mais de tardezinha, então! E quando vc vai me levar pra S. Carlos de novo, heim? Beijos.
Ana Peluso: Arrisco, sei disso, mas decido não mais abrir mão. As vezes escrevo aqui o que penso, alguns importantes nomes por aí se ofendem e pedem para sair. Ok, tchau! Respeito a todos os que me respeitam. Se fecho portas, abro outras, e a vida continua. Não pretendo (como você bem colocou) virar minhas noites bebendo e fingindo felicidade. Prefiro a tristeza verdadeira da solidão. Ao menos sei qual mundo é de fato o meu. Não tinha a menor dúvida que você também pensaria assim. Poetas são sempre melhores... Beijos.
Pri Nicolielo: valeu pelos elogios! Não é fácil ser sempre cordial, educado, mas muitas pessoas por aí esquecem que quando se trabalha com teatro basicamente se trabalha com seres-humanos! Tento me lembrar disso todo o tempo. Fiquei muito feliz em saber que já começou o trabalho com a Sandra, que bom que deu certo. Encontrei com ela na Pina Bausch e ela estava bastante entusiasmada. Parabéns!
Ri Porto: ah, sei lá, liga aí... Vamos fazer algo, sim!
Rogério Dolabella: querido, quando vc vem pra SP? A Aline na pára de pentelhar sobre fazermos o curta; Tomei minha decisão: vou fazê-lo! E gostaria muito de conversar com vc, suas idéias, suas críticas ao texto... Enfim, quando??
Ana: poxa, faz tempo, heim?
Adriana, Eleandro, Thaisinha: valeu, queridos. Obrigado mesmo.
By Ruy Filho, at 4:46 PM
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