PETER BROOK IS ON THE TABLE
Fora necessário chegar horas antes da abertura das bilheterias do Sesc para conseguir um ingresso de Fragments, espetáculo dirigido por Peter Brook a partir de textos curtos de Samuel Beckett. Tem sido assim já há algum tempo e não apenas na capital. Tantos outros eventos exigiram tamanha disposição do público. Filas intermináveis. Por vezes, acampamentos improvisados reúnem uma juventude ansiosa por encontrar seus ídolos. Ídolos ou produtos midiáticos?
Voltando à Fragments... Conseguido o ingresso restava ir ao espetáculo, portanto. Sesc Santana. Muitos rostos conhecidos, amigos. E a percepção de ser a platéia constituída principalmente por artistas de teatro. Acomodados nas laterais das escadas, o público que não conseguira obter a entrada foi acomodado de maneira a dar mais possibilidades aos eleitos. Uma amiga disse-me, sou o número sessenta da fila, dificilmente entrarei. Após a peça, sua presença no saguão comprovava estar errada.
Primeira cena, segunda, terceira. Fim da peça. E durante a apresentação risadas, aplausos em cena aberta e a previsível ovação final. Enquanto a absoluta maioria urrava de alegria e emoção, perguntava-me: do que afinal tanto gostaram?
Possivelmente não assistimos a mesma peça. A que vi era condenada a uma sucessão infinita de clichês, condenando os textos de Beckett a uma simplificação de sua linguagem, apresentando-o menor e mais próximos aos trejeitos e dispositivos dos mais comuns dos cômicos comerciais.
Fragments nos escancara uma triste lição. Não bastam bons artistas para se construir um discurso artístico. Que o trio Marcello Magni, Hayley Carmichael e Khalifa Natour é formado por bons intérpretes, não há dúvida; tampouco que Brook é um dos maiores encenadores do século XX. A questão é conseguirmos identificar verdades estagnadas e qualificar os adjetivos.
A montagem e atuação mais lembravam um bom exercício de sala de aula universitária corretamente executado. E nada mais.
Mas e os aplausos? E eram tantos...
Gostaria muito de saber como a crítica e público brasileiro, sobretudo nossos artistas (quase sempre voltados à destruição do outro, como se fossemos todos oponentes mortais), agiriam caso Fragments fosse um trabalho local.
“Previsível trabalho, mostrando um Beckett ingênuo e pretensioso, numa montagem onde a luz é o único recurso a constituir de fato uma relevância para a montagem. O diretor se entrega à facilidade e obviedade da aceitação em se trabalhar com textos de um autor inatingível, manipulando a falta de idéia, apropriando-se de um possível carisma trazido por sua trajetória até aqui. Um espetáculo digno de assumir as mais banais páginas do entretenimento”.
Talvez fosse isso que escrevessem. Ou mais além...
Só sei que sendo Peter Brook quem é, não sendo brasileiro, e após horas e horas na fila por um ingresso, os aplausos e urros e emoções são genuinamente a identificação do quanto nosso discurso artístico se tornara fútil e manipulável.
Voltando à Fragments... Conseguido o ingresso restava ir ao espetáculo, portanto. Sesc Santana. Muitos rostos conhecidos, amigos. E a percepção de ser a platéia constituída principalmente por artistas de teatro. Acomodados nas laterais das escadas, o público que não conseguira obter a entrada foi acomodado de maneira a dar mais possibilidades aos eleitos. Uma amiga disse-me, sou o número sessenta da fila, dificilmente entrarei. Após a peça, sua presença no saguão comprovava estar errada.
Primeira cena, segunda, terceira. Fim da peça. E durante a apresentação risadas, aplausos em cena aberta e a previsível ovação final. Enquanto a absoluta maioria urrava de alegria e emoção, perguntava-me: do que afinal tanto gostaram?
Possivelmente não assistimos a mesma peça. A que vi era condenada a uma sucessão infinita de clichês, condenando os textos de Beckett a uma simplificação de sua linguagem, apresentando-o menor e mais próximos aos trejeitos e dispositivos dos mais comuns dos cômicos comerciais.
Fragments nos escancara uma triste lição. Não bastam bons artistas para se construir um discurso artístico. Que o trio Marcello Magni, Hayley Carmichael e Khalifa Natour é formado por bons intérpretes, não há dúvida; tampouco que Brook é um dos maiores encenadores do século XX. A questão é conseguirmos identificar verdades estagnadas e qualificar os adjetivos.
A montagem e atuação mais lembravam um bom exercício de sala de aula universitária corretamente executado. E nada mais.
Mas e os aplausos? E eram tantos...
Gostaria muito de saber como a crítica e público brasileiro, sobretudo nossos artistas (quase sempre voltados à destruição do outro, como se fossemos todos oponentes mortais), agiriam caso Fragments fosse um trabalho local.
“Previsível trabalho, mostrando um Beckett ingênuo e pretensioso, numa montagem onde a luz é o único recurso a constituir de fato uma relevância para a montagem. O diretor se entrega à facilidade e obviedade da aceitação em se trabalhar com textos de um autor inatingível, manipulando a falta de idéia, apropriando-se de um possível carisma trazido por sua trajetória até aqui. Um espetáculo digno de assumir as mais banais páginas do entretenimento”.
Talvez fosse isso que escrevessem. Ou mais além...
Só sei que sendo Peter Brook quem é, não sendo brasileiro, e após horas e horas na fila por um ingresso, os aplausos e urros e emoções são genuinamente a identificação do quanto nosso discurso artístico se tornara fútil e manipulável.
4 Comments:
O melhor tempero é a fome. Na cozinha e no teatro. He he he
Porto
By Anônimo, at 12:03 AM
entao, tá.
By Contrera, at 1:31 AM
Ruy,
fiquei muito agradecido em receber suas palavras no meu blog, com sua disponibilidade de lê-lo e de comentá-lo. Priscila sempre fala muito de você e da Cia. Assistindo a ENTULHO, soube que, além da admiração, ela também tem razão. Sim, é verdade que seu trabalho aliado ao dela e ao do Guilherme me deixou pensativo, me incomodou, tirou-me as teias do conforto. Se caminharam bem? Muito. Sei como é complicado se fazer teatro e dos riscos que se corre ao empreender a aventura. Mas também sei, especialmente, das dificuldades que se tem ao produzir coisas de qualidade, que valham a pena o deslocamento. Há mais barreiras para trabalhos como o seu do que para o que normalmente estamos acostumados a ver. Sim, os meus elogios não vieram à toa. Se não tivesse gostado teria dito, assim como falei, sem medo algum, das impressões acerca do posiconamento do Guilherme no início do espetáculo. No entanto, repito o que você escreveu: o que importa mesmo é a provocação e o afastamento das verdades prepotentes. Objetivo atingido a cada minuto, a cada movimento. Ponto para você, para o texto da Priscila, para Guilherme que, na intensidade do papel, sabe dosar quês de sobriedade. Eu me senti muito bem na companhia de vocês e agradeço a atenção e a reflexão que me incitaram. Pode ter certeza que, além de espectador, a Cia. de Teatro Antro Exposto tem também mais um admirador e, dentro das minhas possibilidades, um divulgador, porque bom gosto não pode passar despercebido. Grande abraço,
Fellipe.
By Anônimo, at 3:02 PM
Obrigado pela coragem! Isso, as vezes, me faz pensar que nosso espírito colonializado ainda impera...
By Anônimo, at 11:36 AM
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