MENOS INCENTIVO, MAIS CONSCIÊNCIA
A recente polêmica que atingiu a reestruturação da Lei Rouanet esbarra em uma problemática muito mais complexa do que se a referida lei é funcional ou não, se necessitamos de outros mecanismos, se tudo está errado.
Chama-me atenção a desenfreada atitude da classe artística em defender a existência da lei e seu aprimoramento. Não por parecer um movimento genuíno em busca de sobrevivência. Tal argumento trata-se de uma imensa falácia. Indigno-me com a postura dos artistas que se manifestam com tamanho vigor.
Teme-se, e isso é um fato, que um cancelamento, ou seja lá o que vier a acontecer, desestruture o sistema como os recursos são recolhidos juntos aos patrocinadores. Mas evidentemente esse não é o maior de todos os problemas.
A questão é outra. A manutenção da lei explicita a postura vigente do artista transformar a criação em produto. A produtificação da arte entende os resultados estéticos como objetos de troca. E aí está o engodo. Como explicar ao empresariado, ao espectador, que ao entrar num espetáculo ele está também consumindo algo? Como não cair na armadilha das comparações? Pra que investir milhares de reais em um show, já que quase nunca conseguimos nos lembrar, horas depois, dos patrocinadores, e não numa eficiente campanha em jornal?
A produtificação conduz ao distanciamento do principal aspecto que constitui importância à obra, seu valor imaterial, sua capacidade de apresentar novidades, outros discursos. Aí está o gancho principal. Sem nunca ter se emocionado com uma ópera, dificilmente o individuo comprará um CD ou DVD do assunto. Ou seja, o encontro possibilitado com uma linguagem estética amplia o interesse pelo o que o sensibilizara, capitalizando essa sensação em forma de produtos. Seja no exemplo de um CD, DVD, no interesse turístico, ou no reencontro com a linguagem mediante a freqüência de outros espetáculos, shows, etc.
Apresentar a arte, a cultura, como um meio de expandir as capacidades do público, através da ampliação de seu conhecimento, passa a ser um dos grandes argumentos para nos livrarmos da necessidade dos incentivos fiscais. Quando os empresários entenderem o desdobramento, inclusive monetário, dos investimentos em cultura, alcançaremos a maturidade dos nossos mecenas. E quem melhor que os artistas para modificar os paradigmas do mercado? Às vezes sinto falta de uma boa conversa com Andy Warhol.
Chama-me atenção a desenfreada atitude da classe artística em defender a existência da lei e seu aprimoramento. Não por parecer um movimento genuíno em busca de sobrevivência. Tal argumento trata-se de uma imensa falácia. Indigno-me com a postura dos artistas que se manifestam com tamanho vigor.
Teme-se, e isso é um fato, que um cancelamento, ou seja lá o que vier a acontecer, desestruture o sistema como os recursos são recolhidos juntos aos patrocinadores. Mas evidentemente esse não é o maior de todos os problemas.
A questão é outra. A manutenção da lei explicita a postura vigente do artista transformar a criação em produto. A produtificação da arte entende os resultados estéticos como objetos de troca. E aí está o engodo. Como explicar ao empresariado, ao espectador, que ao entrar num espetáculo ele está também consumindo algo? Como não cair na armadilha das comparações? Pra que investir milhares de reais em um show, já que quase nunca conseguimos nos lembrar, horas depois, dos patrocinadores, e não numa eficiente campanha em jornal?
A produtificação conduz ao distanciamento do principal aspecto que constitui importância à obra, seu valor imaterial, sua capacidade de apresentar novidades, outros discursos. Aí está o gancho principal. Sem nunca ter se emocionado com uma ópera, dificilmente o individuo comprará um CD ou DVD do assunto. Ou seja, o encontro possibilitado com uma linguagem estética amplia o interesse pelo o que o sensibilizara, capitalizando essa sensação em forma de produtos. Seja no exemplo de um CD, DVD, no interesse turístico, ou no reencontro com a linguagem mediante a freqüência de outros espetáculos, shows, etc.
Apresentar a arte, a cultura, como um meio de expandir as capacidades do público, através da ampliação de seu conhecimento, passa a ser um dos grandes argumentos para nos livrarmos da necessidade dos incentivos fiscais. Quando os empresários entenderem o desdobramento, inclusive monetário, dos investimentos em cultura, alcançaremos a maturidade dos nossos mecenas. E quem melhor que os artistas para modificar os paradigmas do mercado? Às vezes sinto falta de uma boa conversa com Andy Warhol.
7 Comments:
beleza de artigo
By Anônimo, at 6:39 PM
obrigado, maurício...
By Ruy Filho, at 6:47 PM
haha...eu já li...muito interessante Ruy...vc inclusive já tinha comentado isso em aula...
É uma idéia ultra recente né?...foi sua?
Vc já usou isso na prática para algum espetáculo???
By Anônimo, at 7:53 PM
Tati,
Não sei se posso dizer que é uma idéia minha. Mas tenho defendido essa posição em palestras por aí, pelas universidades e em minhas resenhas. Mas não conheço outros artistas que pensem assim, pelo menos publicamente. Por tantos e tantos fatores, de maneira genérica, os artistas persistem nas fórmulas seguras. É um enorme confronto: segurança ou ideologia? Mas desde sempre a arte permeou essa relação, não é?
No meu grupo, nos meus trabalhos de produção, venho desenvolvendo mecanismos que demonstrem a funcionalidade desses argumentos. É uma batalha infinita contra o mercado, contra a mentalidade vigente, contra os esteriótipos, mas estamos caminhando sim. Algumas pessoas pararam pra pensar. Isso, por sí só, já é muita coisa. Quem sabe, amanhã e depois e depois, outros não se sintam encorajados para chacoalhar o sistema e acabem criando mecanismos alternativos também?
Pode ser um imenso delírio, mas aí, sim, teremos de fato um movimento contra a corrente destinado ao engrandecimento do artista e da arte. Sonhar ainda não paga imposto, não é mesmo?
Beijos
RUY FILHO
By Ruy Filho, at 7:55 PM
Com certeza Ruy, sonhar não paga imposto e ser idealizador, mais do que não precisar pagar imposto...é necessário para evolução...daí que surgem as revoluções!!!
Nossa Ruy!!!
É muito engenhoso e idealista esse pensamento!
Me inspira!!!!
Eu vou encaminhar essa coluna a todos amigos artistas...aliás não precisa ser necessáriamente artista...todos precisam ao menos conhecer esse ponto de vista!
De mais Ruy!
O dia em que vc for dar alguma palestra aberta sobre esse assunto...avise se possível!
bjus
Tati
By Anônimo, at 2:23 PM
a história é a seguinte...assim como na política, a arte também não esta fazendo por merecer PORRA alguma, Brasília tá uma merda, como diz o Zuenir, claro que os jovens não se interessam por política...a arte tá uma bosta, claro que os teatros estão vazios, claro que não temos patrocínio.
Você leu a folha -ilustrada de hoje, os caras batendo cabeça sobre a lei, sobre a lei, lei que lei nem porra nenhuma. Essa história de ´me da um troco pra eu faze meu espetáculo´ é uma bosta.
Cansei!!!
SAudades
p.
By PANCHO CAPPELETTI, at 9:50 AM
Gostei muito do artigo, Ruy.
Estou do seu lado. Penso o mesmo.
Beijo, Patricia Maês.
By Unknown, at 5:44 PM
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