FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA 2005: Mais ou Menos?
Postado na hospedagem anterior do blog quinta-feira, 31 de março de 2005
19:16:03
O Festival de Teatro de Curitiba de 2005 não revelou grandes novidades, seja pela organização, seja pelos artistas presentes. Inchado, mais do que os anos passados, o Fringe, constituído por espetáculos amadores e profissionais, com 187 espetáculos, distribuídos em 11 dias de festival, aconteceu morno e sem criatividade. Há no exagero quantitativo das inscrições, entretanto, algumas boas considerações a respeito. De cara percebe-se a falta de possibilidades para os artistas iniciantes, que terminam por eleger o festival como uma das poucas e raras possibilidades de se apresentarem para críticos, jornalistas e um público que vai além dos amigos habituais. Também a falta de uma curadoria ou diretriz para selecionar tantos espetáculos - a grande maioria com baixa qualidade artística e nítida falta de pesquisa estética e temática - faz de Curitiba o ponto mais democrático das artes cênicas do país. Com problemas, mas de fundamental relevância.
Paradoxalmente, o alto valor por apresentação (R$ 50,00 cada, para o Fringe) e o aumento no valor das entradas (R$ 14,00 a inteira), afastou o público das salas e o principal valor da mostra: a circulação por outros espetáculos e espaços, a troca de referências, o conhecimento e reconhecimento. Em um ano em que a home-page do festival mostrou um aumento no número de patrocinadores (Petrobrás, Vivo, Itaú, Fiat, Gol, Folha de S. Paulo, por exemplo), incluindo o Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, fica a questão de serem tais valores um pouco de abuso. Afinal, já que a verba de patrocínio chega via lei de incentivo, o Governo Federal deveria cobrar do festival uma posição mais paternalista. Não é justo que os artistas sejam obrigados a pagar pelo inchaço descontrolado no número de participantes, há que se pensar em uma maneira de abrangência sem conseqüência direta aos grupos.
Segundo a organização do festival, as inscrições são para custear o aluguel dos equipamentos de iluminação e som. Os 20% retirados das bilheterias (10% para o espaço, 10% para a organização) servem ao pagamento dos 700 funcionários envolvidos. Entretanto, é unânime o despreparo dos produtores e a falta de organização se revela latente. Outros descontos acompanham o borderô, como SBAT (10% para os textos que não estiverem liberados), ECAD (de 2 a 10%, dependendo da minutagem da trilha proporcionalmente ao tempo do espetáculo), ISS (5%). Sem contar que grande parte dos ingressos vendidos é para estudantes, portando, meia-entrada. No final, a caneta mostra que aos grupos fica a vontade de participar, mas sobra muito pouco para que continuem.
Quando decidi participar mais uma vez do Festival, este ano, então como produtor, minha única preocupação era revelar à própria organização novas possibilidades para os dois lados. A criação de uma casa - CASA PROVISÓRIA - onde os recém-formandos da USP pudessem apresentar suas pesquisas, surgiu com a característica de assumir outros pontos falhos dentro do festival: a compreensão do texto teatral como obra e o aprofundamento de discussões que abrangessem todas as especificidades do teatro atual. Em ambos os casos, a aceitação e participação do público foram ainda tímidos, mas demonstrando, na prática, que havendo interesse em assumir estas posturas, o festival terá muito que crescer.
Realizando leituras de textos inéditos de Aimar Labaki e Cássio Pires, e outras releituras de Samir Yazbek, Mário Bortolotto e Hugo Possolo, a CASA conquistou dia-a-dia um público interessado em dramaturgia, comprovando ser o texto um atrativo com valores próprios, restritos por olhares preconceituosos dos festivais em geral. Já os debates revelaram a necessidade dos jovens pela discussão e a procura por parâmetros mais experientes junto a nomes como Juliana Galdino, Renato Borghi, Cibele Forjaz, Verônica Fabrini, Valmir Santos, Fernando Ribeiro, Paulo de Moraes e Françoise Tanguy. Todos enfrentando suas agendas apertadas, disponibilizando pouco mais de uma hora em encontros que se tornarão referências aos futuros artistas e suas reflexões.
Paralelamente, UNICAMP e companhias curitibanas assumiram espaços próprios, para driblarem as dificuldades em se organizarem. As casas revelaram ser este o grande caminho para o festival: potencializar os espaços universitários e de escolas técnicas. O ganho está na percepção de como estarão ocorrendo a educação dos futuros artistas, de qual maneira e direcionamento as escolas estão trabalhando. A comparação como preceito de aprimoramento. Já minimamente pode ser percebida uma diferença estrutural entre a USP e UNICAMP: a primeira formando alunos mais autorais, pesquisadores de uma linguagem pessoal; a segunda, alunos mais técnicos, melhores lapidados à cena e suas possibilidades.
Á margem do ensino universitário e técnico, as outras centenas de montagens pouco ou nada revelaram. Sem tantas comédias fáceis e textos sobre sexo - se comparado com o Fringe de 2004 -, as peças deste ano buscaram maior interiorização do homem através da aproximação com textos apropriados e colagens. O que faltou, contudo, fora o aprimoramento do olhar sobre tais textos, de maneira a retirar a primeira impressão e a obviedade das encenações, basicamente sem criatividade crítica.
Enfrenta-se, então, um dilema: como forçar a qualidade dos espetáculos, o aprofundamento das pesquisas, sem atribuir à seleção dos trabalhos um tom curatorial? A facilidade na participação desobriga, ano após ano, os grupos e artistas a se debruçarem sobre suas propostas e criarem peças realmente lapidadas. O valor amadorístico tem tomado espaço com a desculpa do festival ser aberto a todos. O que se enfrenta, então, é a desqualificação dos poucos trabalhos verdadeiramente sérios, igualados dentro do caldeirão de más montagens e besteiróis.
Espera-se, enfim, que a percepção do que ocorrera em 2005 se mantenha no instante de preparação para 2006, recriando a monotonia dos últimos anos em se deixar organizar ao sabor da sorte.
19:16:03
O Festival de Teatro de Curitiba de 2005 não revelou grandes novidades, seja pela organização, seja pelos artistas presentes. Inchado, mais do que os anos passados, o Fringe, constituído por espetáculos amadores e profissionais, com 187 espetáculos, distribuídos em 11 dias de festival, aconteceu morno e sem criatividade. Há no exagero quantitativo das inscrições, entretanto, algumas boas considerações a respeito. De cara percebe-se a falta de possibilidades para os artistas iniciantes, que terminam por eleger o festival como uma das poucas e raras possibilidades de se apresentarem para críticos, jornalistas e um público que vai além dos amigos habituais. Também a falta de uma curadoria ou diretriz para selecionar tantos espetáculos - a grande maioria com baixa qualidade artística e nítida falta de pesquisa estética e temática - faz de Curitiba o ponto mais democrático das artes cênicas do país. Com problemas, mas de fundamental relevância.
Paradoxalmente, o alto valor por apresentação (R$ 50,00 cada, para o Fringe) e o aumento no valor das entradas (R$ 14,00 a inteira), afastou o público das salas e o principal valor da mostra: a circulação por outros espetáculos e espaços, a troca de referências, o conhecimento e reconhecimento. Em um ano em que a home-page do festival mostrou um aumento no número de patrocinadores (Petrobrás, Vivo, Itaú, Fiat, Gol, Folha de S. Paulo, por exemplo), incluindo o Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, fica a questão de serem tais valores um pouco de abuso. Afinal, já que a verba de patrocínio chega via lei de incentivo, o Governo Federal deveria cobrar do festival uma posição mais paternalista. Não é justo que os artistas sejam obrigados a pagar pelo inchaço descontrolado no número de participantes, há que se pensar em uma maneira de abrangência sem conseqüência direta aos grupos.
Segundo a organização do festival, as inscrições são para custear o aluguel dos equipamentos de iluminação e som. Os 20% retirados das bilheterias (10% para o espaço, 10% para a organização) servem ao pagamento dos 700 funcionários envolvidos. Entretanto, é unânime o despreparo dos produtores e a falta de organização se revela latente. Outros descontos acompanham o borderô, como SBAT (10% para os textos que não estiverem liberados), ECAD (de 2 a 10%, dependendo da minutagem da trilha proporcionalmente ao tempo do espetáculo), ISS (5%). Sem contar que grande parte dos ingressos vendidos é para estudantes, portando, meia-entrada. No final, a caneta mostra que aos grupos fica a vontade de participar, mas sobra muito pouco para que continuem.
Quando decidi participar mais uma vez do Festival, este ano, então como produtor, minha única preocupação era revelar à própria organização novas possibilidades para os dois lados. A criação de uma casa - CASA PROVISÓRIA - onde os recém-formandos da USP pudessem apresentar suas pesquisas, surgiu com a característica de assumir outros pontos falhos dentro do festival: a compreensão do texto teatral como obra e o aprofundamento de discussões que abrangessem todas as especificidades do teatro atual. Em ambos os casos, a aceitação e participação do público foram ainda tímidos, mas demonstrando, na prática, que havendo interesse em assumir estas posturas, o festival terá muito que crescer.
Realizando leituras de textos inéditos de Aimar Labaki e Cássio Pires, e outras releituras de Samir Yazbek, Mário Bortolotto e Hugo Possolo, a CASA conquistou dia-a-dia um público interessado em dramaturgia, comprovando ser o texto um atrativo com valores próprios, restritos por olhares preconceituosos dos festivais em geral. Já os debates revelaram a necessidade dos jovens pela discussão e a procura por parâmetros mais experientes junto a nomes como Juliana Galdino, Renato Borghi, Cibele Forjaz, Verônica Fabrini, Valmir Santos, Fernando Ribeiro, Paulo de Moraes e Françoise Tanguy. Todos enfrentando suas agendas apertadas, disponibilizando pouco mais de uma hora em encontros que se tornarão referências aos futuros artistas e suas reflexões.
Paralelamente, UNICAMP e companhias curitibanas assumiram espaços próprios, para driblarem as dificuldades em se organizarem. As casas revelaram ser este o grande caminho para o festival: potencializar os espaços universitários e de escolas técnicas. O ganho está na percepção de como estarão ocorrendo a educação dos futuros artistas, de qual maneira e direcionamento as escolas estão trabalhando. A comparação como preceito de aprimoramento. Já minimamente pode ser percebida uma diferença estrutural entre a USP e UNICAMP: a primeira formando alunos mais autorais, pesquisadores de uma linguagem pessoal; a segunda, alunos mais técnicos, melhores lapidados à cena e suas possibilidades.
Á margem do ensino universitário e técnico, as outras centenas de montagens pouco ou nada revelaram. Sem tantas comédias fáceis e textos sobre sexo - se comparado com o Fringe de 2004 -, as peças deste ano buscaram maior interiorização do homem através da aproximação com textos apropriados e colagens. O que faltou, contudo, fora o aprimoramento do olhar sobre tais textos, de maneira a retirar a primeira impressão e a obviedade das encenações, basicamente sem criatividade crítica.
Enfrenta-se, então, um dilema: como forçar a qualidade dos espetáculos, o aprofundamento das pesquisas, sem atribuir à seleção dos trabalhos um tom curatorial? A facilidade na participação desobriga, ano após ano, os grupos e artistas a se debruçarem sobre suas propostas e criarem peças realmente lapidadas. O valor amadorístico tem tomado espaço com a desculpa do festival ser aberto a todos. O que se enfrenta, então, é a desqualificação dos poucos trabalhos verdadeiramente sérios, igualados dentro do caldeirão de más montagens e besteiróis.
Espera-se, enfim, que a percepção do que ocorrera em 2005 se mantenha no instante de preparação para 2006, recriando a monotonia dos últimos anos em se deixar organizar ao sabor da sorte.
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