CLOSER
A estréia do espetáculo Closer, no Teatro Augusta, pode ser descrita como uma reunião de vertentes da nossa classe teatral. De muitos lugares e tribos, representantes circulavam pela calçada e saguão aos cumprimentos e cruzando olhares.
O texto original de Patrick Marber ficou mais conhecido com a versão cinematográfica, estrelada por Natalie Portman. Na mais recente montagem brasileira, o papel coube a Rachel Ripani, também tradutora e produtora.
A peça, logo de início, mostra uma das suas maiores qualidades, a excelente relação entre a luz de Wagner Freire e a direção de Florência Gil, inteligente ao solucionar as questões de tempo e espaço da narrativa, determinando consistência ao ritmo e levando a platéia conhecedora apenas da filmagem a descobrir nuances novas.
Contudo, é necessário melhor afinar a interpretação. Falas que se perdem na imprecisão das intenções, dicções confusas. E, ainda que o nervosismo da estréia surgira uma hora e outra, a peça segue bem até o final.
Críticas sobre o texto saíram às dezenas acompanhando a estréia do filme. Portanto, volto meu olhar para uma questão pouco debatida no circuito cultural.
Segundo Ripani, a produção levou três anos para ser efetivada. Dificuldades comuns como patrocínio e manutenção dos direitos de montagem atravessaram o percurso desde sempre. A força na crença de ser este o texto certo e a vontade de realizá-lo dentro de padrões profissionais são atributos esquecidos não só entre os artistas iniciantes. Reflexos de um mercado consagrado por fórmulas condicionadas pelas empresas, instituições e casas de espetáculos.
Dizer, hoje, por qual teatro o público se interessa, não passa de mecanismo manipulador a serviço das vontades de quem escolhe. Mas de alguma maneira estamos submetidos às escolhas, seja pelos editais, prêmios-estímulo, interesses corporativos, escritórios de marketing etc.
Closer aparece sobre o palco três anos depois de ser desejado. E lá está. Exemplo claro da importância de se manter fiel aos ideais originais e de ser possível, sim, fazer teatro sem estar alicerçado e carimbado por esta ou aquela chancela. Fugir da venda submissa, da reformulação conceitual como moeda de troca pelo galgar reconhecimento é possível desde que a arte seja de fato sua maior coerência de discurso.
A maneira como o espetáculo se revela ao público, a consistência de uma direção precisa, a intimidade entre os atores, revela Closer como um exemplo a ser seguido. Enfrentemos os leões diários, então. Os absurdos e exigências que descaracterizam quase sempre a arte e o artista. Pois, enquanto ficarmos aprisionados em condições que nada têm com o trabalho em si, ou instrumentais comerciais de divulgação, na tentativa de solucionar o desinteresse explícito das pessoas pelo Teatro, estaremos verdadeiramente deixando de trazer à tona o mais importante de qualquer trabalho: a sinceridade de usar a arte na construção de diálogos.
Hoje Closer sobe ao palco e grita: ainda há artistas com quem conversar.
O texto original de Patrick Marber ficou mais conhecido com a versão cinematográfica, estrelada por Natalie Portman. Na mais recente montagem brasileira, o papel coube a Rachel Ripani, também tradutora e produtora.
A peça, logo de início, mostra uma das suas maiores qualidades, a excelente relação entre a luz de Wagner Freire e a direção de Florência Gil, inteligente ao solucionar as questões de tempo e espaço da narrativa, determinando consistência ao ritmo e levando a platéia conhecedora apenas da filmagem a descobrir nuances novas.
Contudo, é necessário melhor afinar a interpretação. Falas que se perdem na imprecisão das intenções, dicções confusas. E, ainda que o nervosismo da estréia surgira uma hora e outra, a peça segue bem até o final.
Críticas sobre o texto saíram às dezenas acompanhando a estréia do filme. Portanto, volto meu olhar para uma questão pouco debatida no circuito cultural.
Segundo Ripani, a produção levou três anos para ser efetivada. Dificuldades comuns como patrocínio e manutenção dos direitos de montagem atravessaram o percurso desde sempre. A força na crença de ser este o texto certo e a vontade de realizá-lo dentro de padrões profissionais são atributos esquecidos não só entre os artistas iniciantes. Reflexos de um mercado consagrado por fórmulas condicionadas pelas empresas, instituições e casas de espetáculos.
Dizer, hoje, por qual teatro o público se interessa, não passa de mecanismo manipulador a serviço das vontades de quem escolhe. Mas de alguma maneira estamos submetidos às escolhas, seja pelos editais, prêmios-estímulo, interesses corporativos, escritórios de marketing etc.
Closer aparece sobre o palco três anos depois de ser desejado. E lá está. Exemplo claro da importância de se manter fiel aos ideais originais e de ser possível, sim, fazer teatro sem estar alicerçado e carimbado por esta ou aquela chancela. Fugir da venda submissa, da reformulação conceitual como moeda de troca pelo galgar reconhecimento é possível desde que a arte seja de fato sua maior coerência de discurso.
A maneira como o espetáculo se revela ao público, a consistência de uma direção precisa, a intimidade entre os atores, revela Closer como um exemplo a ser seguido. Enfrentemos os leões diários, então. Os absurdos e exigências que descaracterizam quase sempre a arte e o artista. Pois, enquanto ficarmos aprisionados em condições que nada têm com o trabalho em si, ou instrumentais comerciais de divulgação, na tentativa de solucionar o desinteresse explícito das pessoas pelo Teatro, estaremos verdadeiramente deixando de trazer à tona o mais importante de qualquer trabalho: a sinceridade de usar a arte na construção de diálogos.
Hoje Closer sobe ao palco e grita: ainda há artistas com quem conversar.