complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade pelo blog POLLYANA BARBARELLA
Uma das coisas de que eu mais gosto é discutir idéias. Principalmente quando na discussão os pontos de vista se colocam à prova reciprocamente. Concordar sempre é fácil, o divertido é tentar convencer, sem usar a força física, alguém a questionar o próprio modo de pensar a ponto de cogitar mudar de opinião. Acho que por isso tenho tendência a gostar de espetáculos de teatro no estilo de A Coleira de Bóris, texto de Sérgio Roveri, e O Arquiteto e o Imperador da Assíria, texto de Fernando Arrabal. Em ambas as peças, somente dois personagens com posicionamentos diferentes à respeito de algum assunto - a liberdade no primeiro, o conhecimento/ignorância - no segundo, discutem entre si. Os dois diálogos são maravilhosos. Deixam idéias em aberto para que o público tenha sua própria interpretação, mas não deixam de ser consistentes, de apresentarem um conteúdo. Estão na minha lista Top 5, até hoje.
Uma vez, conversei com o Antunes Filho e ele me disse que, para ele, diálogos e poesias são as coisas mais difíceis de se escrever com qualidade - e eu concordo plenamente, não por ser ele quem disse, mas porque eu mesma tenho uma dificuldade enorme com isso. Segundo ele, pouquíssimas pessoas têm esse dom (entre elas, senão o único na poesia, Fernando Pessoa), e as que têm devem ser aclamadas.
Acho que é porque um bom diálogo apresenta o embate entre pontos de vista diferentes e ambos precisam ser bem embasados, precisam ter força. Qualquer pessoa, mesmo um dramaturgo, um jornalista, um escritor, geralmente tem um conjunto próprio e fechado de idéias, e é difícil deixar as convicções pessoais de lado, adotar a imparcialidade e construir argumentos para justificar algo que não é o que a gente pensa. Além disso, um bom diálogo, na minha opinião, é o que fala não só com as palavras, mas por meio das entrelinhas. E ter a sutileza e a sensibilidade de transmitir idéias que não foram ditas é uma proeza para poucos.
Hoje, quarta-feira, estréia no Espaço dos Satyros II, na Praça Roosevelt, um outro espetáculo que conseguiu me chamar a atenção pelos diálogos: Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade. Com texto e direção de Ruy Filho, apresenta um tordurador e um garoto que, submetido a todo tipo de violência física e psicológica, consegue subverter seu agressor usando apenas as palavras. Mais do que a aura tensa, criada com chutes, cadeiras de rodas, balões de oxigênio, referências a delírios, cenário obscuro e efeitos sonoros, o que faz a platéia sair perturbada do espetáculo é a discussão sobre esse sistema de enfraquecimento da sensibilidade pelo qual somos dominados e que nos faz aceitar submeter nossas vidas à uma certa mediocridade, sem nenhum questionamento. É daqueles espetáculos que deixam o público sem piscar do início ao fim. Para quem não tem medo de ser provocado. A trilha sonora original do compositor nova-iorquino Patrick Grant completa o clima e se faz indispensável. Guilherme Gorski e Diego Torraca dão um show de interpretação*.
*além de serem lindos e fofos! (desculpem, meninos, sei que o talento é mais importante, e vocês têm de sobra, mas eu tinha que falar! ;) )
Uma vez, conversei com o Antunes Filho e ele me disse que, para ele, diálogos e poesias são as coisas mais difíceis de se escrever com qualidade - e eu concordo plenamente, não por ser ele quem disse, mas porque eu mesma tenho uma dificuldade enorme com isso. Segundo ele, pouquíssimas pessoas têm esse dom (entre elas, senão o único na poesia, Fernando Pessoa), e as que têm devem ser aclamadas.
Acho que é porque um bom diálogo apresenta o embate entre pontos de vista diferentes e ambos precisam ser bem embasados, precisam ter força. Qualquer pessoa, mesmo um dramaturgo, um jornalista, um escritor, geralmente tem um conjunto próprio e fechado de idéias, e é difícil deixar as convicções pessoais de lado, adotar a imparcialidade e construir argumentos para justificar algo que não é o que a gente pensa. Além disso, um bom diálogo, na minha opinião, é o que fala não só com as palavras, mas por meio das entrelinhas. E ter a sutileza e a sensibilidade de transmitir idéias que não foram ditas é uma proeza para poucos.
Hoje, quarta-feira, estréia no Espaço dos Satyros II, na Praça Roosevelt, um outro espetáculo que conseguiu me chamar a atenção pelos diálogos: Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade. Com texto e direção de Ruy Filho, apresenta um tordurador e um garoto que, submetido a todo tipo de violência física e psicológica, consegue subverter seu agressor usando apenas as palavras. Mais do que a aura tensa, criada com chutes, cadeiras de rodas, balões de oxigênio, referências a delírios, cenário obscuro e efeitos sonoros, o que faz a platéia sair perturbada do espetáculo é a discussão sobre esse sistema de enfraquecimento da sensibilidade pelo qual somos dominados e que nos faz aceitar submeter nossas vidas à uma certa mediocridade, sem nenhum questionamento. É daqueles espetáculos que deixam o público sem piscar do início ao fim. Para quem não tem medo de ser provocado. A trilha sonora original do compositor nova-iorquino Patrick Grant completa o clima e se faz indispensável. Guilherme Gorski e Diego Torraca dão um show de interpretação*.
*além de serem lindos e fofos! (desculpem, meninos, sei que o talento é mais importante, e vocês têm de sobra, mas eu tinha que falar! ;) )
1 Comments:
Já comentei isso lá no blog da Pollyana que também tem tudo de Barbarella - é ela: aliás Barbarella disfarçada de Pollyana, e como!!! É fácil decifrar essa não esfinge!!!
By Anônimo, at 12:38 PM
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