Antro Particular

19 novembro 2008

Complexo Sistema por LUIZA NOVAES

Tratado da consciência do possível...

Protótipo da epopéia de retificação da estrutura do papel... Do Aluno, sem luz...
Crítica da peça Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade.


Comecemos assim: Primeiro tópico, o trabalho da sociedade humana frente às novas gerações e todo embate provocado. Acreditamos que os mestres de nossa vida, são aqueles que nos ensinam o que sabem, será... O conhecimento só pode ser construído na diferença, cada ser um mundo novo, acredito. A nova geração vem para matar o velho, sem exceção, quando isso não ocorre devemos nos preocupar, afinal ninguém quer torna-se salsicha prensada...

Lembro-me de uma palestra do Abumjamra, comentando a incapacidade que a nova geração tem frente ao passado geracional. Estudo de caso: sempre lembrado de forma idílica da década de 70, onde valores e morais estavam sendo debatidos, para se construir o novo, e nós os jovens da arte, com nossa incapacidade de construir o pós (qualquer coisa). Ás vezes me questiono se realmente não sou bem mais moralista e tradicional do que meus pais e me reconheço assim na permanência de valores repetidos anteriormente pelos meus avós...

Porém em consonância com a peça Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade reconheço a incapacidade do torturador em tocar o instrumento que era utilizado como símbolo de fragilidade e sentimento do novo. Para fazer arte é necessário estar impregnado de alguma forma do espírito da época, ao menos se a intenção real seja a de reprodução pura e simplesmente.

No estranhamento que construímos o eu, bem como o outro. Valores diferentes na relação social, indivíduo se constrói frente ao outro. Conceito básico importado da Antropologia, a natureza humana como fim em si já era pressuposto metodológico para Marx, de construção do que a sociedade poderia fazer com os seus em estágio de evolução, tanto material quanto cultural.

O verdadeiro protocolo da reificação de um mundo no qual somente as coisas agem, onde o tempo humano desapareceu e onde o próprio homem tornou-se um simples espectador reduzido ao estado mais abstrato: um olho que registra
. (Lucien Goldmann, Recherches dialectiques).

O herói descontrolado, problemático, romanesco tem como prerrogativa uma palavra que tomo emprestada do vocabulário americano, uma definição primordial para discutir esse tipo ideal, o FUCKED UP... Aquele que é incapaz de fugir da sua fortuna pela contradição que se estabelece no cerne de sua existência determinado pelo valor de uso e pelo valor de troca, o herói não se conforma com a sociedade tal como ela é dada e não aceita o valor de troca. Um inadaptado que caminha pelo mundo como dinossauro cujos sentimentos excedem a capacidade de compreensão das pessoas rotineiras e grita o Ai de mim... Da alma.

Dessa forma, pensa e age pelo simples prazer de acreditar em um valor primário que aparece hoje em dia dissolvido em um monte de palavras que perderam sua função real. Seu valor de uso é do sentimento, de solidariedade entre pessoas, do afeto, do carinho, do tempo da disponibilidade do amor, por conseqüência a dor nasce da incapacidade de agir de acordo com qualquer outro uso social de suas ações que não perpassem esse tipo de Moral.

Nunca mais... (Edgar Allan Poe - O corvo)

O idílico volta mais uma vez se, pensarmos que há uma vontade de reminiscência de uma solidariedade mecânica que está impregnada de passado de uma busca incondicional ao fracasso, e que a sociedade moderna tende a crer que dessa forma há uma dissolução no outro que é inevitável, uma solidariedade orgânica de Durkheim que contamina e dissolve o novo adaptando-o a crua realidade do sistema quase orgânico no sentido do corpo humano.

A morte é dos nossos, sem enterro, não há espaço para Antígonas, abandonamos Ulisses e suas peripécias. Em sua viagem, Ulisses volta ao passado, à era de ouro, à história da Grécia... A distância torna-se radical e construímos seres impossibilitados de agir frente essa força social bruta, como os heróis kafkianos que acordam insetos, ou a espera eterna por um personagem que não chega Godot, ou o Ulisses de Joyce que faz a barba e pensa no que irá realizar no seu dia, tempo moderno pautado no acordar e dormir.

Morrer, dormir não mais, morrer, dormir, talvez sonhar... (Shakespeare - Hamlet)

A dúvida mortal de toda essa jornada é imaginar se o herói moderno é o torturado ou o torturador, até que ponto eles se assemelham ou se afastam e se o anseio é à volta ou a ida...

Agora, a certeza é que eles definitivamente estouraram o balão. Não há mais volta, as coisas estão organizadas, o cenário está colocado, e as cadeiras continuam enferrujadas e são ainda assim, poucos que podem sentar-se nelas.

Mother do you think they will drop the bomb... (Pink Floyd, The Wall)

Garanto que ao assistir a peça não me restava dúvida de que deixaria escapar as referências possíveis mesmo dentro do meu espectro de mundo. A minha retificação também estava em questionamento.

O romance já foi tratado de tantas formas por tantos autores, e penso que ele acaba de ser introduzido ao teatro, pela CIA Antro Exposto. Benjamin fala da morte do narrador, outros da História compartilhada, ainda assim fico com Bakhtin...

O romance é o único gênero não acabado, em devir, que desconhece qualquer cânon. Ele formou-se em oposição à epopéia, no "processo de destruição da distância épica, no processo de familiarização cômica do mundo e do homem, no abaixamento do objeto da representação artística ao nível de uma realidade atual, inacabada e fluida"
. (Mikhail Bakhtin, Questões de literatura e estética).

2 Comments:

  • Ótimas colocações. Me deixou absurdamente intrigada isso, e me fez pensar se podemos ter como referência as ações do passado para nos posicionarmos no 'hoje' e no 'amanhã'

    By Anonymous Anônimo, at 1:59 AM  

  • Ruy, a apresentação de ontem foi muito especial!

    Beijos,

    By Blogger Unknown, at 1:14 PM  

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