ZOOLÓGICO DE VIDRO: o correto em demasia atrapalha o sonho
Nem sempre o correto é a melhor opção. Explico. Alguns textos se qualificam com o tempo e assumem a carga de representar um estilo de dramaturgia, uma época, uma identidade. Pense nos clássicos como exemplos inquestionáveis. O mais complicado em se montar um texto demasiadamente trabalhado por tantas montagens, está na necessidade de empregar-lhe certo diferencial, outra compreensão. Do contrário, para que montá-lo?
Alguns mais contemporâneos sofrem ainda a presença recente de sua existência. É o caso de Zoológico de Vidro, tantas vezes encenado por aí como À Margem da Vida, de 1943. Tennessee Williams, consagrado autor americano, leva para o palco personagens perdidos em suas próprias incapacidades de ação. É a América pós-depressão, de guerras mundiais e tantas outras desconfigurações do sujeito em meio ao social deformado pela indústria e urbanidade das metrópoles.
Ulysses Cruz assina a direção da nova montagem que se propõe festejar os 30 anos de carreira de Cássia Kiss. Conhecemos a atriz por personagens grandiosos, de novelas e seriados televisivos, com sua capacidade de elaborar minuciosamente tantos tipos durante as últimas décadas.
Contudo, algo sai da ordem. Algo se estranha no espetáculo apresentado. Nada de superficialidade, tampouco de erros absurdos. Pelo contrário. Cássia Kiss muitas vezes passa um pouco da representação proposta e esbarra em certo tom caricatural na construção da matriarca. Algo semelhante ocorre também com os outros atores em tantos outros momentos, o que pode ser entendido como norte estipulado pela direção dentro da concepção original.
Não está no exagero das interpretações o elemento estranho ao qual me refiro. Opções são pessoais. A questão é outra. Tudo é tão bem equalizado para formar o espetáculo que, ao fim, falta-lhe certo sabor. A tentativa de levar a atriz das novelas para o público que a assiste pela televisão dá ao correto previsibilidade e cansaço. Não há o frescor da ousadia, da proposição de reinvento, da leitura além do óbvio.
Ao escolher Tennessee Williams, Cássia Kiss foi até o cerne de um dos autores mais inquestionáveis no desenhar de personagens, sobretudo femininos. E cobrou de si a capacidade do risco e da escolha.
Entretanto, nada aconteceu. Está lá um espetáculo razoavelmente bem acabado, com uma ruga ou outra no painel ao fundo, boa afinação da iluminação azul e o desenho preciso das plataformas, porém figurativas demais. Tudo devidamente correto e impreciso. Para quem quer reencontrar o autor, Zoológico de Vidro o traz caricato e ainda sim pertinente. Aos fãs da atriz, uma certa decepção frente ao olhar mais apurado. Aos que sentiam falta de Ulysses em nossos palcos, fica a saudade dos seus primeiros trabalhos.
Alguns mais contemporâneos sofrem ainda a presença recente de sua existência. É o caso de Zoológico de Vidro, tantas vezes encenado por aí como À Margem da Vida, de 1943. Tennessee Williams, consagrado autor americano, leva para o palco personagens perdidos em suas próprias incapacidades de ação. É a América pós-depressão, de guerras mundiais e tantas outras desconfigurações do sujeito em meio ao social deformado pela indústria e urbanidade das metrópoles.
Ulysses Cruz assina a direção da nova montagem que se propõe festejar os 30 anos de carreira de Cássia Kiss. Conhecemos a atriz por personagens grandiosos, de novelas e seriados televisivos, com sua capacidade de elaborar minuciosamente tantos tipos durante as últimas décadas.
Contudo, algo sai da ordem. Algo se estranha no espetáculo apresentado. Nada de superficialidade, tampouco de erros absurdos. Pelo contrário. Cássia Kiss muitas vezes passa um pouco da representação proposta e esbarra em certo tom caricatural na construção da matriarca. Algo semelhante ocorre também com os outros atores em tantos outros momentos, o que pode ser entendido como norte estipulado pela direção dentro da concepção original.
Não está no exagero das interpretações o elemento estranho ao qual me refiro. Opções são pessoais. A questão é outra. Tudo é tão bem equalizado para formar o espetáculo que, ao fim, falta-lhe certo sabor. A tentativa de levar a atriz das novelas para o público que a assiste pela televisão dá ao correto previsibilidade e cansaço. Não há o frescor da ousadia, da proposição de reinvento, da leitura além do óbvio.
Ao escolher Tennessee Williams, Cássia Kiss foi até o cerne de um dos autores mais inquestionáveis no desenhar de personagens, sobretudo femininos. E cobrou de si a capacidade do risco e da escolha.
Entretanto, nada aconteceu. Está lá um espetáculo razoavelmente bem acabado, com uma ruga ou outra no painel ao fundo, boa afinação da iluminação azul e o desenho preciso das plataformas, porém figurativas demais. Tudo devidamente correto e impreciso. Para quem quer reencontrar o autor, Zoológico de Vidro o traz caricato e ainda sim pertinente. Aos fãs da atriz, uma certa decepção frente ao olhar mais apurado. Aos que sentiam falta de Ulysses em nossos palcos, fica a saudade dos seus primeiros trabalhos.
2 Comments:
vc tem uma certa razão em apontar uma certa falta de acabamento . mas feito em questão de horas e uma peça desse tamanho , algo sobra mesmo .
os exageros ficam por conta de uma adequação ao imenso espaço do guairão , nem sempre conseguido com a delicadeza necessaria . quanto aos seus outros comentariso
penso em acertar mais na proxima , se vc me der a honra de ir ver .
ulysses cruz
By ulysses cruz, at 10:35 PM
Oi Ulysses
antes, bem-vindo ao Antro. Que bom que escrevera. O diálogo é sempre fundamental. E a generosidade da resposta me leva a compreender distâncias.
como todo garoto que começara a ir ao teatro décadas atrás, vc é referência de uma geração que surgia dentre um caldeirão de consagrados nomes. Respeito tua história e teus caminhos, e isso é muito.
sempre estarei próximo de seus trabalhos sim. assim como gostaria de tê-lo próximo aos de minha cia.
que num futuro próximo possamos dividir uma cerveja e conversas mais e mais.
um grande abraço
RUY FILHO
By Ruy Filho, at 4:34 AM
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