CHAMADA A COBRAR: campanha faça um preso sorrir
O telefone toca. A ligação é a cobrar. Do outro lado a pessoa se identifica como sargento, tenente, policial rodoviário, corpo de bombeiro. A conversa começa calma e tateante. O som distante, como em ambiente público ou rua. Cordialmente o suposto policial fala-lhe sobre um acidente com alguém próximo a você, e que logo é transformado em um seqüestro, com ameaças de tortura e morte. Segundo a polícia federal, essas ligações ocorrem mais de seis mil vezes ao mês, em todo o Estado de São Paulo. Sendo 10% ações de presos paulistas e 90% advindas de presídios cariocas. Os números de telefones são aleatoriamente escolhidos ou via lista telefônica que os presos conseguem contrabandear para suas celas. E se você já foi um dos sorteados o segredo é manter a calma e pensar nos detalhes da conversa, quando se torna óbvio o trote. Deixe-o falar mais do que você para cair em contradições. O difícil é a parte de se manter calmo.
Minha primeira vez fora via o celular da minha esposa, durante almoço dela, no meio de um shopping. Eu estava em casa. Nervosa, sem nunca ter ouvido falar do golpe, conseguiu que uma amiga telefonasse para o meu celular e descobrisse assim a mentira. Muitos não pensam nisso ou não conseguem o contato com o suposto ente seqüestrado, e acabam entrando em acordo e pagando o resgate para não correr nenhum risco de haver alguma verdade em tudo aquilo.
A segunda vez ligaram para o meu celular, no meio da tarde. Assustado com o fato de estar conversando com um criminoso, logo lhe disse que não tinha ninguém da minha família na rua. A ligação então terminou sem muito mais conversa.
Na terceira, já me acostumando, consegui me controlar e dizer um nome fictício e descrever a pessoa e o carro que nunca existiram. Ao confirmarem, revelei a minha mentira, para que não ficassem insistindo com novas ligações, e desliguei. É uma ótima saída, pois invariavelmente eles irão confiar nos dados, já que partem do princípio que você não estará inventando nada.
Ontem, a quarta vez. Quase três horas da manhã. Assim que o meu telefone tocou, vi que era a cobrar. Olhei para minha esposa e antes de atender passei o telefone para o viva-voz.
- Aqui é o sargento... Encontramos o telefone do senhor nos objetos de algumas pessoas envolvidas em um acidente. O senhor tem alguma pessoa que possa estar nesse momento fora de casa, de carro?
- Tenho. Minha irmã. (eu não tenho irmã, até onde sei!)
- Qual o carro dela, senhor?
- Um Fiat azul.
- Certo, confere. Qual o nome da sua irmã para que possamos checar se é ela mesmo, senhor?
- Clarissa.
- Larissa?
- Cla-ris-sa!
- Positivo. É ela mesma. Como é o nome do senhor?
- Jonas.
- Sr. Jonas, eu vou explicar o que está acontecendo. O senhor está aonde?
- (como o valor do meu resgate, naquela primeira ligação, fora a miséria de dez mil reais, resolvi dar motivo pra eles se entusiasmarem) Estou na minha casa de praia.
- O senhor está sozinho?
- Sim.
- Então, Sr. Jonas. O senhor sabe o que é um seqüestro?
- Sei.
- A tua irmã foi seqüestrada. E nós vamos dar dois tiros nela agora se você não pagar... 150 mil reais. Quanto o senhor pode pagar agora por ela?
- Nada!
Pausa: nesse instante ouço o prisioneiro afastar o celular e tentar segurar o riso junto aos outros.
- Como nada?
- Nada.
- O senhor acha que eu to brincando?
- Ela não vale nada mesmo. Eu não pago um centavo. Pode atirar.
- Se o senhor não pagar nós vamos executar a tua irmã e o senhor vai ouvir os tiros.
- Olha, faz o seguinte: ela está me devendo um dinheiro. Então fala pra ela pagar pra vocês e fica tudo bem.
Alguns minutos depois de repetir as ameaças
Minha primeira vez fora via o celular da minha esposa, durante almoço dela, no meio de um shopping. Eu estava em casa. Nervosa, sem nunca ter ouvido falar do golpe, conseguiu que uma amiga telefonasse para o meu celular e descobrisse assim a mentira. Muitos não pensam nisso ou não conseguem o contato com o suposto ente seqüestrado, e acabam entrando em acordo e pagando o resgate para não correr nenhum risco de haver alguma verdade em tudo aquilo.
A segunda vez ligaram para o meu celular, no meio da tarde. Assustado com o fato de estar conversando com um criminoso, logo lhe disse que não tinha ninguém da minha família na rua. A ligação então terminou sem muito mais conversa.
Na terceira, já me acostumando, consegui me controlar e dizer um nome fictício e descrever a pessoa e o carro que nunca existiram. Ao confirmarem, revelei a minha mentira, para que não ficassem insistindo com novas ligações, e desliguei. É uma ótima saída, pois invariavelmente eles irão confiar nos dados, já que partem do princípio que você não estará inventando nada.
Ontem, a quarta vez. Quase três horas da manhã. Assim que o meu telefone tocou, vi que era a cobrar. Olhei para minha esposa e antes de atender passei o telefone para o viva-voz.
- Aqui é o sargento... Encontramos o telefone do senhor nos objetos de algumas pessoas envolvidas em um acidente. O senhor tem alguma pessoa que possa estar nesse momento fora de casa, de carro?
- Tenho. Minha irmã. (eu não tenho irmã, até onde sei!)
- Qual o carro dela, senhor?
- Um Fiat azul.
- Certo, confere. Qual o nome da sua irmã para que possamos checar se é ela mesmo, senhor?
- Clarissa.
- Larissa?
- Cla-ris-sa!
- Positivo. É ela mesma. Como é o nome do senhor?
- Jonas.
- Sr. Jonas, eu vou explicar o que está acontecendo. O senhor está aonde?
- (como o valor do meu resgate, naquela primeira ligação, fora a miséria de dez mil reais, resolvi dar motivo pra eles se entusiasmarem) Estou na minha casa de praia.
- O senhor está sozinho?
- Sim.
- Então, Sr. Jonas. O senhor sabe o que é um seqüestro?
- Sei.
- A tua irmã foi seqüestrada. E nós vamos dar dois tiros nela agora se você não pagar... 150 mil reais. Quanto o senhor pode pagar agora por ela?
- Nada!
Pausa: nesse instante ouço o prisioneiro afastar o celular e tentar segurar o riso junto aos outros.
- Como nada?
- Nada.
- O senhor acha que eu to brincando?
- Ela não vale nada mesmo. Eu não pago um centavo. Pode atirar.
- Se o senhor não pagar nós vamos executar a tua irmã e o senhor vai ouvir os tiros.
- Olha, faz o seguinte: ela está me devendo um dinheiro. Então fala pra ela pagar pra vocês e fica tudo bem.
Alguns minutos depois de repetir as ameaças
- Quanto o senhor acha que pode pagar?
- (respiro fundo) “Dé real”.
- “Dez real” não paga nem a coroa de flores!
- Mas eu não vou dar um real a mais.
- Nós vamos jogar sua irmã dentro de um carro e o corpo só vai ser encontrado, se for encontrado, daqui uns dois dias. O senhor não subestime a inteligência do Primeiro Comando da Capital. Eu sou do PCC!
- Bom, façam bom proveito dela.
- Eu vou ligar pro senhor daqui a dois dias.
- Posso pedir uma coisa? Quando for me ligar, liga em horário comercial. Nesse horário eu já estou dormindo.
E desligamos. Menos de um minuto depois, eles voltam a ligar
- É o Jonas?
- Sim.
- Seu Jonas, eu...
- Escuta. Posso te dizer uma coisa?
- Pois não?
- Meu nome não é Jonas, não existe irmã e vai pra puta que pariu.
Quase três horas da manhã. O presídio parecia estar em festa. Barulho, muita conversa. O golpista, ao telefone, falava alto e claramente. Durante a reportagem da Rede Globo, hoje, a polícia mostrava-se satisfeita com a descoberta de oito criminosos que realizavam as ligações. O que a polícia não explicou é como eles ainda têm celulares.
Enfim, começo aqui uma nova campanha, já que as ligações serão inevitáveis mesmo, e nossa única sobrevivência é o humor.
PRESIDIÁRIO TAMBÉM É GENTE E TEM O DIREITO DE SER FELIZ
AJUDE OS CRIMINOSOS A TER MOMENTOS DE DIVERSÃO E DESCONTRAÇÃO.
Ao receber a ligação, invente a sua história e me envie para ser publicada no Antro Particular.
As regras são bem simples: Ser o mais criativo que conseguir; segurar a ligação a maior quantidade de tempo; conseguir o maior valor possível no pedido de resgate; levar o golpista ao riso.
Ao vencedor... Sei lá se tem algum vencedor nisso tudo.
Ah, Brasil... Que país é esse?
- (respiro fundo) “Dé real”.
- “Dez real” não paga nem a coroa de flores!
- Mas eu não vou dar um real a mais.
- Nós vamos jogar sua irmã dentro de um carro e o corpo só vai ser encontrado, se for encontrado, daqui uns dois dias. O senhor não subestime a inteligência do Primeiro Comando da Capital. Eu sou do PCC!
- Bom, façam bom proveito dela.
- Eu vou ligar pro senhor daqui a dois dias.
- Posso pedir uma coisa? Quando for me ligar, liga em horário comercial. Nesse horário eu já estou dormindo.
E desligamos. Menos de um minuto depois, eles voltam a ligar
- É o Jonas?
- Sim.
- Seu Jonas, eu...
- Escuta. Posso te dizer uma coisa?
- Pois não?
- Meu nome não é Jonas, não existe irmã e vai pra puta que pariu.
Quase três horas da manhã. O presídio parecia estar em festa. Barulho, muita conversa. O golpista, ao telefone, falava alto e claramente. Durante a reportagem da Rede Globo, hoje, a polícia mostrava-se satisfeita com a descoberta de oito criminosos que realizavam as ligações. O que a polícia não explicou é como eles ainda têm celulares.
Enfim, começo aqui uma nova campanha, já que as ligações serão inevitáveis mesmo, e nossa única sobrevivência é o humor.
PRESIDIÁRIO TAMBÉM É GENTE E TEM O DIREITO DE SER FELIZ
AJUDE OS CRIMINOSOS A TER MOMENTOS DE DIVERSÃO E DESCONTRAÇÃO.
Ao receber a ligação, invente a sua história e me envie para ser publicada no Antro Particular.
As regras são bem simples: Ser o mais criativo que conseguir; segurar a ligação a maior quantidade de tempo; conseguir o maior valor possível no pedido de resgate; levar o golpista ao riso.
Ao vencedor... Sei lá se tem algum vencedor nisso tudo.
Ah, Brasil... Que país é esse?
2 Comments:
HAHAHAHAHAHAH
RUY, A SUA CARA FAZER ISSO!!!!
MUITO ENGRAÇADO!
NUNCA RECEBI ESSAS LIGAÇÕES! ACREDITA?
MAS VOU FICAR ESPERTA!
INVENTAREI QUE TENHO UMA VOVÓ NA RUA FAZENDO UMA GRANA!
HAHAHAHAHHA
By Anônimo, at 12:13 PM
Muito bom, Ruy! Não sei se sua campanha terá alto índice de aceitação, mas eu pelo menos me diverti demais com sua presença de espírito! Ótimo texto!
Beijo
By Anônimo, at 6:15 PM
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