Fui assistir, é genial. Confesso que doeu, doeu muito, que chorei, chorei muito. e que me assustei quando o holofote explodiu depois de ser elasticado próximo a mim, e toda hora pensave... meu deus, o ator está perto dos cacos. mas um ator sempre está perto de cacos. Foi a melhor coisa que vi em toda minha vida, juro. Sua emoção no final diante daquele genial elenco, encerrou minhas lágrimas. Fui embora. Lindo, lindo, lindo, quantas vezes for possível haver beleza na dor. Perfeito.
Helen (helenrmart@yahoo.com.br) nada de anonimato num elogio tão sincero....
Helen, obrigado pelo comentário. Esse dia realmente foi muito forte, especial para todos. A emoção fora inevitável. De onde estava não via o chão e a cada segundo imaginava o risco que os atores estariam passando. No fim, tudo certo. E aquela foi uma das melhores apresentações...
Nenhuma circunstância pode ser invocada para justificar a tortura. Ninguém deve ser submetido a tortura ou a tratamento desumano ou degradante. Chamo de tortura, tudo aquilo que deliberadamente uma pessoa possa fazer a outra, produzindo dor física, dor na alma, medo, desgaste moral, imposição deliberada, ordens ou uso do poder de qualquer tipo, desequilíbrio psíquico ou qualquer tipo de sofrimento. Ou algo que faça a dor se renovar, ou o outro acreditar no que não existe sem arbítrio sobre a idéia correta do que seja isso, o que realmente existe. A perpetuação do sofrimento pela incerteza da possibilidade de dúvida ou de poder ser sem que o outro ordene o que, também configura tortura. Obedecer é tortura. Nem a lei, nem o torturador, podem punir idéias, sonhos, opiniões ou delírios. A tortura se esconde sobre máscaras, geralmente é cinica, geralmente é de dar dó, geralmente nunca aprenderá nada sobre o amor. A tortura acontece de várias formas, muitas vezes é consensual, geralmente só se descobre a cumplicidade depois da dor, e da fumaça dos cigarros... A intenção? reduzir a identidade do outro, isentá-lo de características humanas e submetê-lo. Não há motivos geralmente. No mundo, milhares de pessoas vivem ou viveram, ou viverão esse inferno.
Torturar uma pessoa, é acoisa mais desumana que outra pessoa pode fazer. Os desdobramentos são incuráveis, quando se destrói alguém, se destrói parte de si, mas nunca se sabe qual. A tortura não é redutível ao repertório das violências e agressões. Esses são meios, apenas formas dela nascer e morrer. É uma relação de horror com a dor, seja ela qual for. Qualquer um é capaz, todos temos demônios, e anjos negros. Mas alguns sentem prazer, outros se destroem. É a lógica do FAKE, a lógica do aniquilamento, do contrário, do avesso, do não exposto, das postas dos peixes mortos, dos corpos das bailarinas, e das mulheres dessossadas por punheteiros famosos e perturbados. Exorcisar a agressão, vestí-la de fascínio, erotizando-a e vestindo-a de amor, é uma forma de fugir e de morrer. É, finalmente, o abandono da demolição, do esquartejamento, da aniquilação.
Ainda há a necessidade de ser amado, e tanto amor que sobrou, sufocado. Ainda... não é tão complexo assim. os zumbis andam por aí, não sabem que estão mortos... milhares de suicídios em uma única vida.
Helen, que bom que escrevera tudo isso. Acredito em tudo o que disse. E essa é a dor de fazermos o espetáculo. É preciso que cada um dos envolvidos - eu, atores, outros integrantes (Patrícia e Priscila) que lá estão todas as apresentações ajudando a estruturar e organizar as coisas para que tudo funcione -, todos nós somos obrigados a conviver com a dor de um discurso cruel que vai além do que acreditamos.
Isso nos faz artistas. Nem melhores, nem piroes.
Não ocupamos o palco para defender discursos politicamente corretos, mas para construir diálogos incômodos com o público, deixá-lo desconfortável e reflexivo. Se afirmássemos uma posição, apenas traríamos o sentido do correto e da conveniência, utilizando o óbvio do senso comum (correto), sem muito o que acrescentar que não apenas o mero 'eu não penso exatamente assim'.
Optar por desenvolver um espetáculo como o complexo, sem julgamentos morais (porém não imoral, e sim amoral), é propiciar ao espectador os intrumentos para sua própria conclusão.
Infelizmente, a metáfora do espetáculo é intransigente com realidades românticas. Vivemos sim centenas de mecanismos de dominação e manipulação que transformam nossa capacidade de sentir e se relacionar de acordo com as conveniências do dominador. Não há como fugir disso. Nem mesmo se nos isolarmos em um casebre no mato, ainda assim estaremos condicionados aos valores de quem os possibilitam.
Ser artista, ao contrário do que vem sendo vendido nesse país louco, não é simplesmente apresentar idéias próprias, conceitos originais. Hoje, acreditamos, o mais importante é dizer o que precisa ser dito, ainda que isso nos leve ao sofrimento. É essa nossa função, sem qualquer espectativa de redenção por isso.
Pode ter certeza... a dor do espectador pode ser grande, mas a nossa vai além de um dia. Ocupa já seis meses de convivência, e surge insolúvel e incurável no momento de sua gestação.
Somos assim. Sou assim.
Como disse aos meus atores na estréia, entremos no palco não para fazermos o NOSSO espetáculo, mas para devolvermos ao mundo o desagradável que o mundo nos oferece a cada dia, e assim culpar a cada um que lá estiver sentado, assim como culpado somos nós.
Quando o mundo mudar, talvez passemos a criar histórias com finais felizes... por enquanto, apontarei os torturadores nas ruas, mesmo que para que consiga causar sua repulsa, seja obrigado a defendê-lo.
Não estou aqui para oferecer julgamentos, para entregar ao público a capacidade de julgar.
Ruy, seu texto sobre meu comentário está muito bonito de se ler, e verdadeiro...espero que não se importe roubei prá mim e coloquei no meu blog, tá? Abraço! Helen
8 Comments:
Fui assistir, é genial.
Confesso que doeu, doeu muito, que chorei, chorei muito. e que me assustei quando o holofote explodiu depois de ser elasticado próximo a mim, e toda hora pensave... meu deus, o ator está perto dos cacos. mas um ator sempre está perto de cacos.
Foi a melhor coisa que vi em toda minha vida, juro.
Sua emoção no final diante daquele genial elenco, encerrou minhas lágrimas. Fui embora.
Lindo, lindo, lindo, quantas vezes for possível haver beleza na dor.
Perfeito.
Helen
(helenrmart@yahoo.com.br)
nada de anonimato num elogio tão sincero....
By Anônimo, at 6:04 PM
Helen, obrigado pelo comentário. Esse dia realmente foi muito forte, especial para todos. A emoção fora inevitável. De onde estava não via o chão e a cada segundo imaginava o risco que os atores estariam passando. No fim, tudo certo. E aquela foi uma das melhores apresentações...
Abraços,
RUY FILHO
By Ruy Filho, at 11:12 PM
Ruy,
Nenhuma circunstância pode ser invocada para justificar a tortura.
Ninguém deve ser submetido a tortura ou a tratamento desumano ou degradante.
Chamo de tortura, tudo aquilo que deliberadamente uma pessoa possa fazer a outra, produzindo dor física, dor na alma, medo, desgaste moral, imposição deliberada, ordens ou uso do poder de qualquer tipo, desequilíbrio psíquico ou qualquer tipo de sofrimento. Ou algo que faça a dor se renovar, ou o outro acreditar no que não existe sem arbítrio sobre a idéia correta do que seja isso, o que realmente existe. A perpetuação do sofrimento pela incerteza da possibilidade de dúvida ou de poder ser sem que o outro ordene o que, também configura tortura. Obedecer é tortura.
Nem a lei, nem o torturador, podem punir idéias, sonhos, opiniões ou delírios.
A tortura se esconde sobre máscaras, geralmente é cinica, geralmente é de dar dó, geralmente nunca aprenderá nada sobre o amor.
A tortura acontece de várias formas, muitas vezes é consensual, geralmente só se descobre a cumplicidade depois da dor, e da fumaça dos cigarros...
A intenção? reduzir a identidade do outro, isentá-lo de características humanas e submetê-lo. Não há motivos geralmente.
No mundo, milhares de pessoas vivem ou viveram, ou viverão esse inferno.
Torturar uma pessoa, é acoisa mais desumana que outra pessoa pode fazer. Os desdobramentos são incuráveis, quando se destrói alguém, se destrói parte de si, mas nunca se sabe qual.
A tortura não é redutível ao repertório das violências e agressões. Esses são meios, apenas formas dela nascer e morrer. É uma relação de horror com a dor, seja ela qual for.
Qualquer um é capaz, todos temos demônios, e anjos negros. Mas alguns sentem prazer, outros se destroem. É a lógica do FAKE, a lógica do aniquilamento, do contrário, do avesso, do não exposto, das postas dos peixes mortos, dos corpos das bailarinas, e das mulheres dessossadas por punheteiros famosos e perturbados.
Exorcisar a agressão, vestí-la de fascínio, erotizando-a e vestindo-a de amor, é uma forma de fugir e de morrer.
É, finalmente, o abandono da demolição, do esquartejamento, da aniquilação.
Ainda há a necessidade de ser amado, e tanto amor que sobrou, sufocado.
Ainda...
não é tão complexo assim.
os zumbis andam por aí, não sabem que estão mortos... milhares de suicídios em uma única vida.
abraço
Helen
By Anônimo, at 8:56 PM
Helen, que bom que escrevera tudo isso. Acredito em tudo o que disse. E essa é a dor de fazermos o espetáculo. É preciso que cada um dos envolvidos - eu, atores, outros integrantes (Patrícia e Priscila) que lá estão todas as apresentações ajudando a estruturar e organizar as coisas para que tudo funcione -, todos nós somos obrigados a conviver com a dor de um discurso cruel que vai além do que acreditamos.
Isso nos faz artistas. Nem melhores, nem piroes.
Não ocupamos o palco para defender discursos politicamente corretos, mas para construir diálogos incômodos com o público, deixá-lo desconfortável e reflexivo. Se afirmássemos uma posição, apenas traríamos o sentido do correto e da conveniência, utilizando o óbvio do senso comum (correto), sem muito o que acrescentar que não apenas o mero 'eu não penso exatamente assim'.
Optar por desenvolver um espetáculo como o complexo, sem julgamentos morais (porém não imoral, e sim amoral), é propiciar ao espectador os intrumentos para sua própria conclusão.
Infelizmente, a metáfora do espetáculo é intransigente com realidades românticas. Vivemos sim centenas de mecanismos de dominação e manipulação que transformam nossa capacidade de sentir e se relacionar de acordo com as conveniências do dominador. Não há como fugir disso. Nem mesmo se nos isolarmos em um casebre no mato, ainda assim estaremos condicionados aos valores de quem os possibilitam.
Ser artista, ao contrário do que vem sendo vendido nesse país louco, não é simplesmente apresentar idéias próprias, conceitos originais. Hoje, acreditamos, o mais importante é dizer o que precisa ser dito, ainda que isso nos leve ao sofrimento. É essa nossa função, sem qualquer espectativa de redenção por isso.
Pode ter certeza... a dor do espectador pode ser grande, mas a nossa vai além de um dia. Ocupa já seis meses de convivência, e surge insolúvel e incurável no momento de sua gestação.
Somos assim. Sou assim.
Como disse aos meus atores na estréia, entremos no palco não para fazermos o NOSSO espetáculo, mas para devolvermos ao mundo o desagradável que o mundo nos oferece a cada dia, e assim culpar a cada um que lá estiver sentado, assim como culpado somos nós.
Quando o mundo mudar, talvez passemos a criar histórias com finais felizes... por enquanto, apontarei os torturadores nas ruas, mesmo que para que consiga causar sua repulsa, seja obrigado a defendê-lo.
Não estou aqui para oferecer julgamentos, para entregar ao público a capacidade de julgar.
Digamos que vc passou no teste!
Continue em nossas platéias.
Beijos
RUY FILHO
By Ruy Filho, at 1:42 AM
isso
é isso
Obrigada e Parabéns de novo, a vc e a eles
Helen
By Anônimo, at 6:13 PM
Ruy,
seu texto sobre meu comentário está muito bonito de se ler, e verdadeiro...espero que não se importe roubei prá mim e coloquei no meu blog, tá?
Abraço!
Helen
By Anônimo, at 8:29 PM
evidentemente que não me importo. estando aqui, acontecendo aqui esse encontro, devemos permití-lo público sempre.
aliás, qual o teu blog, não o encontrei. me desculpe mas sou bem atrapalhado em processos virtuais... risos
beijos
RUY FILHO
By Ruy Filho, at 4:48 AM
deixa prá lá Ruy, eu prefiro o anonimato
abraço
obrigada pelo acolhimento
tem uma amiga que tem um blog, mas ela nem existe: http://ocaoseosanjos.blogspot.com/
vi um texto seu lá, muito lindo
helen
By Anônimo, at 11:37 AM
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