Antro Particular

28 abril 2009

tragédia da vida privada, um pouco do que rola por aqui

Fernando Antônio de Lima, juiz da vara da Infância e Juventude da cidade de Ilha Solteira, caminha pelas ruas da cidade e observa atônito jovens se drogando, entregues em pleno vício aos passantes, absorvidos por toda sorte de violência e agressão em um horrendo espetáculo de degradação humana, onde a ingenuidade infantil é cerceada completando a depreciação de seus valores morais. De dentro de seu carro público, protegido pelas janelas fechadas e o ar-condicionado que mantém o interior do veículo na temperatura adequada para que seu corpo não transpire antes de chegar ao trabalho, entre uma ordem e outra ao motorista, um velho já sem perspectiva e trinta e tantos anos de profissão, bêbados e viciados em nicotina, agrupados como estão nas sargetas, atiram-se uns aos outros. Alguns se empurram numa estranha vontade de agredir o companheiro, ainda que acreditem ser o gesto a coreografia de uma inabalável amizade composta para dar forma à altíssima música de qualidade pra lá de duvidosa. Outros, em carícias indevidas se entregam ao descontrole do desejo e frutificam a perda de suas consciências em inoportunas cenas de sensualidade explícita. Tudo culpa das drogas, da educação errada absorvida pelas vielas tortas em madrugadas. Essa violência maior que atinge a todos descaradamente. Lima chega ao gabinete atordoado. Poderiam ser seus filhos e netos, genros, filhos de seus amigos. Uma decisão deve ser tomada. Alguém precisa agir primeiro, combater a desgraça inevitável que atordoa e desconfigura nossos jovens e crianças. O toque do telefone o assusta. Ele retorna a realidade. Um amigo da cidade vizinha. Conversam. E o juiz analisa os fatos trazidos do outro lado e define seu julgamento. Na manhã seguinte, a mais fácil difícil decisão de sua vida. Pelo bem de todos, determina na cidade de Ilha Solteira e Itapura, o toque de recolher. Jovens, em casa, protegidos, então. Seguros como deveria estar sempre. O juiz pode agora se dedicar novamente ao seu trabalho diário e monótono, ao combate do crime e das impunidades. Em sua sala vazia de qualquer outro alguém, rascunha as próximas idéias, toma novas decisões. Sempre interrompido pela imagem de ver num futuro próximo uma estátua de bronze ser erguida em sua homenagem.

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Numa rádio de sampa, os ouvintes conconrdam. A porcentagem de 3/4 assusta e tira o prazer de dormir tranquilo.