Os Sertões e a verdadeira face de um teatro infantil
Quando se abrem as portas do Teatro Oficina, tudo pode acontecer. A peça, entretanto, começa antes, nas calçadas e encontros durante a espera, uma vez que os corpos anônimos se tornarão um só, outro personagem a construir e participar do jogo. E entre tantos palcos e espaços, nenhum merece tanto ser associado com esta palavra quanto este.
Cantos, danças, rodas, beijos, fonte d´água, corredor subterrâneo, fogo, o teto móvel expandindo o teatro ao céu, enquanto este traz a essência de todos os personagens. Se somos coro, o maestro é principalmente Zé Celso.
Da faculdade de Direito, Zé trouxe à cena a indagação pelo justo, mas sem o julgamento duro e direcionado das leis. Nesses mais de quarenta anos de teatro, formula diariamente questionamentos sobre a natureza humana, priorizando na retórica de suas melodias a importância da liberdade.
Em cartaz, Os Sertões, baseado no livro de Euclídes da Cunha, e dividido em A Terra, Homem I, Homem II, A Luta - parte I, A Luta - parte II. A guerra de Antonio Conselheiro em criar no sertão nordestino uma sociedade participativa regrada pelo viés religioso fala muito do teatro de Zé Celso. Foram décadas tentando atrair o mundo para o corredor-palco, na busca de transformação.
Contudo, o improvável se manifesta. Inverte-se o diálogo óbvio. Nas ruas e vielas do Bixiga, molda-se um novo Oficina feito por crianças falando de revoluções. Zé Celso prepara a próxima geração com as mais importantes armas: ideologia e história.
Levará ainda uma década para conhecermos de fato as transformações no Bixiga e suas crianças. O fluxo contínuo entre teatro e rua gera uma percepção diferente aos que rodeiam o teatro, enquanto Zé Celso responde criativamente formando... gente! São garotos e garotas que olham para o futuro como quem já o conhece e entende, e se colocam responsáveis por fazê-lo outro.
Não assistir ao espetáculo por preguiça, cansaço, pelo incômodo do sentar sem cadeiras estofadas ou por ser longo, é se abster de um movimento mais profundo. Os Sertões deixou de ser apenas teatro e abstrato manifesto. Transcendeu a isso. Revelou-se possibilidade concreta de dialogarmos com os problemas e traduzir o mundo, destrinchando-o para ser antropofagiado em forma de arte e assim ressurgir em verbo, ação e solução.
Não é preciso concordar com Zé Celso ou o teatro que ele propõe. Basta exercitar a convivência. Sair de casa. Olhar sobre o muro. E perceber a dominância da indiferença e do medo sobre nossas vidas, as distâncias, a felicidade fingida. Ao conseguir, também estaremos recriando Canudos. Se a intenção for ir além da sobrevivência no isolamento, então devemos olhar nos olhos das crianças em Os Sertões, deixar que elas nos levem para dentro da cena. Lá estão os futuros das nossas ruas e nossos palcos.
Cantos, danças, rodas, beijos, fonte d´água, corredor subterrâneo, fogo, o teto móvel expandindo o teatro ao céu, enquanto este traz a essência de todos os personagens. Se somos coro, o maestro é principalmente Zé Celso.
Da faculdade de Direito, Zé trouxe à cena a indagação pelo justo, mas sem o julgamento duro e direcionado das leis. Nesses mais de quarenta anos de teatro, formula diariamente questionamentos sobre a natureza humana, priorizando na retórica de suas melodias a importância da liberdade.
Em cartaz, Os Sertões, baseado no livro de Euclídes da Cunha, e dividido em A Terra, Homem I, Homem II, A Luta - parte I, A Luta - parte II. A guerra de Antonio Conselheiro em criar no sertão nordestino uma sociedade participativa regrada pelo viés religioso fala muito do teatro de Zé Celso. Foram décadas tentando atrair o mundo para o corredor-palco, na busca de transformação.
Contudo, o improvável se manifesta. Inverte-se o diálogo óbvio. Nas ruas e vielas do Bixiga, molda-se um novo Oficina feito por crianças falando de revoluções. Zé Celso prepara a próxima geração com as mais importantes armas: ideologia e história.
Levará ainda uma década para conhecermos de fato as transformações no Bixiga e suas crianças. O fluxo contínuo entre teatro e rua gera uma percepção diferente aos que rodeiam o teatro, enquanto Zé Celso responde criativamente formando... gente! São garotos e garotas que olham para o futuro como quem já o conhece e entende, e se colocam responsáveis por fazê-lo outro.
Não assistir ao espetáculo por preguiça, cansaço, pelo incômodo do sentar sem cadeiras estofadas ou por ser longo, é se abster de um movimento mais profundo. Os Sertões deixou de ser apenas teatro e abstrato manifesto. Transcendeu a isso. Revelou-se possibilidade concreta de dialogarmos com os problemas e traduzir o mundo, destrinchando-o para ser antropofagiado em forma de arte e assim ressurgir em verbo, ação e solução.
Não é preciso concordar com Zé Celso ou o teatro que ele propõe. Basta exercitar a convivência. Sair de casa. Olhar sobre o muro. E perceber a dominância da indiferença e do medo sobre nossas vidas, as distâncias, a felicidade fingida. Ao conseguir, também estaremos recriando Canudos. Se a intenção for ir além da sobrevivência no isolamento, então devemos olhar nos olhos das crianças em Os Sertões, deixar que elas nos levem para dentro da cena. Lá estão os futuros das nossas ruas e nossos palcos.
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