Antro Particular

28 fevereiro 2008

XI Encontro de Dirigentes Culturais – parte 1: O Evento

15 de fevereiro, Memorial da América Latina, São Paulo. O XI Encontro de Dirigentes Municipais de Cultura do Estado de São Paulo recepciona a todos com tambores, dança e sorrisos. Café para acordamos e somos convidados ao anfiteatro por uma procissão de percussão, abençoados por São Benedito devidamente ornamentado. A expectativa é quanto ao choque entre a autêntica cultura folclórica e o discurso político calculista. Haverá nele igual sinceridade? 9:25h. Tudo vai bem, até então.

Todavia, os discursos esperados ficarão em suspense um pouco mais. Sobre o palco, a Orquestra Paulista de Viola Caipira contrasta em sua sutileza a opulência dos tambores. Na penumbra, os flashes das máquinas fotográficas acompanham o dedilhar de partituras clássicas. É curioso notar a razoável quantidade desses aparelhos. Como se seus portadores estivessem mais preocupados em garantir pela existência testemunhal da foto suas presenças. Ainda no saguão, pouco antes, escutara: “não, só volto amanhã. Vou ficar mais um dia, pra passear mais um pouco...”. Continuo à espera dos discursos.

10:30h. A mesa é composta por Ronaldo Bianchi (secretário-adjunto), André Sturn (coordenador da unidade de fomento e difusão de produção cultural), Arnaldo Gobetti Júnior (chefe de Gabinete) e o Secretário Estadual de Cultura, João Sayad. Na platéia, 148 municípios representados. Longe, portanto, do interesse maior de unir em um só ambiente os 645 pertencentes ao Estado de São Paulo.

O Secretário Sayad tem, enfim, a palavra. É o grande momento, quando deveremos ouvir quais as iniciativas do governo e a definição objetiva de sua política pública. Nada disso. Muita descrição de projetos em funcionamento, poucas explicações e uma enxurrada de números avançam sobre nós para falar o que todos ali tão bem conhecem.

Assistira, ano passado, quando participante da Comissão de Seleção dos projetos culturais do Instituto Votorantim, a um discurso primoroso de Sayad no Seminário Internacional de Democratização Cultural, quando questionara o posicionamento de muitos agentes culturais e o entendimento da Cultura pelo viés da Economia. Na ocasião, o Secretário indagara sobre a problemática dessa abordagem determinar ao processo criativo menor relevância frente à capacidade de produtificação da cultura em bem consumível e sua finalidade de gerar rendimento. O que fazer, então, de processos não lucrativos ou resultados efêmeros incapazes de multiplicarem-se, abandoná-los, simplesmente? Afirmava ali o posicionamento paternalista do Estado, como função maior, de absorver para a si a responsabilidade de uma gama infinitamente variável de manifestações artísticas e culturais não destinadas diretamente ao mercado.

Em 2008, não fora exatamente esse o discurso proferido aos dirigentes, no entanto. O anúncio da criação de alguns novos museus e da São Paulo Companhia de Dança, aos moldes da OSESP, apontados, junto ao Cinema e a Música, como focos principais da política cultural do Estado, deixaram a todos, dirigentes, secretários e prefeitos presentes, inquietos.

E é sobre a divergência entre palestrantes e ouvintes que passarei, então, a trabalhar nos próximos artigos. Por agora, arrisco-me a dizer que o chão nunca parecera tão escorregadio...