TEATRO OFICINA: o dia em que o teatro se tornou pop
Postado na hospedagem anterior do blog na segunda-feira, 16 de maio de 2005
00:54:47
Faço teatro há muito pouco tempo, quase nada se comparado à existência das décadas do Teatro Oficina. Mas sou do tempo em que deixar um microfone ligado próximo aos atores do Uzyna Uzona, era correr risco demais. Do tempo de um Zé Celso revolucionário, de atores - Marcelo Drummond, Leona Cavalli, Denise Assumpção, Pascoal da Conceição - com seus olhos vermelhos e línguas afiadas. De quando teatro e mídia eram coisas distintas, divergentes. O tempo passou, Zé Celso conquistou Silvio Santos, terá, enfim, seu teatro-estádio. Os atores são outros, novos, iniciantes. Os discursos diluíram à repetição do verbalizado pelo mestre. O espaço é comunitário e familiar. O Teatro Oficina recupera o tom do bom costume e a mídia o acolhe com aspectos de popstar.
"Eu estava passando pelo quarto da empregada e ela estava assistindo a Adriana Galisteu, aí...". Não há desculpas, eu me rendo. Assisto a todos os programas, rodo por todos os canais de fofocas, de novelas, de jornais. Mas não bastasse o programa se chamar Charme, a âncora ainda é a Adriana Galisteu! Pois é, qual minha surpresa, enquanto assistia ao programa - com as janelas trancadas, o telefone fora do gancho, celular desligado, luzes apagadas e óculos escuros! - e me deparo com os novos atores do Teatro Oficina como convidados. Divulgação da peça, tinha certeza disso. Ótimo, vão falar sobre Euclídes da Cunha, da revitalização do Bexiga, do teatro-estádio, dos futuros projetos, de Oswald de Andrade, de Zé Celso... E pra senhoras velhas católicas, gordos desamparados, solitários de todos os tipos, alienados e desinteressados em geral. Triste ilusão. Zé Celso não estava, nem Marcelo, Leona, Pascoal, Denise. E os atores não discursavam políticas públicas ou sobre o teatro orgiástico ou as pequenices de uma cultura afunilada pelo capital. Eles não falavam nada disso; na verdade, não falavam, apenas, brincavam de mímica... O Teatro Oficina estava na televisão, mas mudo e sem ter o que dizer.
Lá pelas tantas, a impressionante entrevistadora joga uma questão qualquer. Pronto, agora eles vão ter de falar! "Brigamos com o Silvio durante 20 anos, mas ano passado fizemos as pazes...". Eu havia me esquecido, o canal em questão era do SS! Um silêncio constrangedor tomou minha sala, meu corpo, meus ouvidos. Estavam patéticos, eram crianças induzidas por adultos em brincadeiras maliciosas. O que assisti não foi a oportunidade do Oficina divulgar este que é um dos mais importantes projetos teatrais dos últimos 30 anos. Não. Os Sertões foram subjugados ao valor do Ibop, a catarse ao sabor da futilidade, a arte inflada pelo entretenimento. Só resta esperar pelo futuro anunciado. Que venha o novo teatro, o novo-de-novo Zé Celso; que se materialize o tão sonhado terreiro-eletrônico. Mas confesso estar com muito medo de quem será de fato o apresentador.
00:54:47
Faço teatro há muito pouco tempo, quase nada se comparado à existência das décadas do Teatro Oficina. Mas sou do tempo em que deixar um microfone ligado próximo aos atores do Uzyna Uzona, era correr risco demais. Do tempo de um Zé Celso revolucionário, de atores - Marcelo Drummond, Leona Cavalli, Denise Assumpção, Pascoal da Conceição - com seus olhos vermelhos e línguas afiadas. De quando teatro e mídia eram coisas distintas, divergentes. O tempo passou, Zé Celso conquistou Silvio Santos, terá, enfim, seu teatro-estádio. Os atores são outros, novos, iniciantes. Os discursos diluíram à repetição do verbalizado pelo mestre. O espaço é comunitário e familiar. O Teatro Oficina recupera o tom do bom costume e a mídia o acolhe com aspectos de popstar.
"Eu estava passando pelo quarto da empregada e ela estava assistindo a Adriana Galisteu, aí...". Não há desculpas, eu me rendo. Assisto a todos os programas, rodo por todos os canais de fofocas, de novelas, de jornais. Mas não bastasse o programa se chamar Charme, a âncora ainda é a Adriana Galisteu! Pois é, qual minha surpresa, enquanto assistia ao programa - com as janelas trancadas, o telefone fora do gancho, celular desligado, luzes apagadas e óculos escuros! - e me deparo com os novos atores do Teatro Oficina como convidados. Divulgação da peça, tinha certeza disso. Ótimo, vão falar sobre Euclídes da Cunha, da revitalização do Bexiga, do teatro-estádio, dos futuros projetos, de Oswald de Andrade, de Zé Celso... E pra senhoras velhas católicas, gordos desamparados, solitários de todos os tipos, alienados e desinteressados em geral. Triste ilusão. Zé Celso não estava, nem Marcelo, Leona, Pascoal, Denise. E os atores não discursavam políticas públicas ou sobre o teatro orgiástico ou as pequenices de uma cultura afunilada pelo capital. Eles não falavam nada disso; na verdade, não falavam, apenas, brincavam de mímica... O Teatro Oficina estava na televisão, mas mudo e sem ter o que dizer.
Lá pelas tantas, a impressionante entrevistadora joga uma questão qualquer. Pronto, agora eles vão ter de falar! "Brigamos com o Silvio durante 20 anos, mas ano passado fizemos as pazes...". Eu havia me esquecido, o canal em questão era do SS! Um silêncio constrangedor tomou minha sala, meu corpo, meus ouvidos. Estavam patéticos, eram crianças induzidas por adultos em brincadeiras maliciosas. O que assisti não foi a oportunidade do Oficina divulgar este que é um dos mais importantes projetos teatrais dos últimos 30 anos. Não. Os Sertões foram subjugados ao valor do Ibop, a catarse ao sabor da futilidade, a arte inflada pelo entretenimento. Só resta esperar pelo futuro anunciado. Que venha o novo teatro, o novo-de-novo Zé Celso; que se materialize o tão sonhado terreiro-eletrônico. Mas confesso estar com muito medo de quem será de fato o apresentador.
1 Comments:
meninos eu vi,
o choque causado por Zé e sua trupe saindo pelados depois dos ensaios e pegando taxi na rua de frente para as janelas castas das senhoras católicas do bexiga, se tornando, lentamente, pop, ou charme, como queira.
finalmente a midia percebeu que tudo de fato é vendável e nessa corrida ao ouro, fantasiados de pós contemporâneos e o cacete, tudo se transmuta em mercadoria.
e ainda tem gente que acha que finalmente gozamos de liberdade de expressão.
Bons tempos em que a moralidade dava sentido ao libertário.
viva a repressão!!!
belo texto o seu, belo e chocante, mas não se anime em breve a sua crítica vai virar, quem sabe um "meta pop".
beijos!
enviado em 16/5/2005 11:47:00
By Anônimo, at 12:55 AM
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