EL CHINGO: e os fantasmas de cada um
Um homem solitário finge ser fanho e contrata uma empresa de atores especializada em psicodrama para rever sua mãe. Por equívoco, quem chega é um ator, que precisa realizar o serviço para se manter no emprego. Esta é a base do espetáculo El Chingo, escrito pelo dramaturgo venezuelano Edílio Peña.
A montagem, encenada pela Teatro Kaus Cia. Experimental e dirigida por Reginaldo Nascimento, pode ir além do que está, propondo experimentações maiores na interpretação e cena. O demasiado respeito ao texto, vencedor do Prêmio Nacional de Dramaturgia da Casa de la Cultura de Maracay, torna o espetáculo comedido e correto, sem riscos, mas ao mesmo tempo revela em Nascimento um diretor objetivo, honesto.
Se ficamos com vontade de ver surpresas, ao mesmo tempo é nítida a luta da companhia Kaus por amadurecimento de uma linguagem própria. E isso infelizmente é raridade entre os grupos atuais.
A escolha pela ênfase no final trágico traz acertos e fragilidades. Ao conduzir a criação dos personagens de maneira mais agressiva, esquizofrênica, o espetáculo ganha em potência dramática, ainda que isso enfraqueça o humor próprio da situação.
Perde-se também a possibilidade de ser trabalhada a metáfora da atuação, do fingir, na busca clara do texto em transcender ao teatro, elaborando um interessante jogo meta-teatral para refletir sobre a condição própria do homem e a necessidade constante de se fazer outro para dialogar com seus medos e semelhantes.
Edílio Peña oferece mais do que jogos de cena. Elabora um complexo sistema de metáforas sobre o fazer teatral, deixando claro suas críticas ao amadorismo e despreparo dos profissionais. Em falas aparentemente casuais, surgem comentários ácidos ao comportamento familiar e a situação política venezuelana, quando o país é confundido com a Bolívia, por exemplo.
No melhor estilo de Harold Pinter, o conflito é recheado por silêncios de incompreensão do outro e cumplicidade, silêncios esses esquecidos na montagem, que trata o texto de maneira tradicional e ortodoxa.
Há o tom sarcástico do ridículo na situação do ator travestido em mãe, no fanho fingido, na mesa posta feito cenário para compor o encontro com os diálogos escritos pelo contratante, na foto de Vivian Leigh, tal como uma mãe perfeita. Instigante, aos poucos o enredo mostra as contradições dos personagens, conduzindo o espectador a uma busca frenética por compreensão.
Mas não é sobre o entendimento que fala El Chingo, pelo contrário. O espetáculo trata de culpas, sensações guardadas que necessitam ser expurgadas e que só dizem respeito a seus personagens, angústias e solidões. E nos reporta a uma viagem aos nossos próprios fantasmas.
El Chingo mostra por que Peña é um dos mais interessantes dramaturgos latinos, com montagens em diversos países. Sua dramaturgia vai além da construção impecável para compor momentos de inquietação da alma do homem contemporâneo. Um retrato duro do que nos tornamos quando a solidão é cada vez mais a nossa defesa.
A montagem, encenada pela Teatro Kaus Cia. Experimental e dirigida por Reginaldo Nascimento, pode ir além do que está, propondo experimentações maiores na interpretação e cena. O demasiado respeito ao texto, vencedor do Prêmio Nacional de Dramaturgia da Casa de la Cultura de Maracay, torna o espetáculo comedido e correto, sem riscos, mas ao mesmo tempo revela em Nascimento um diretor objetivo, honesto.
Se ficamos com vontade de ver surpresas, ao mesmo tempo é nítida a luta da companhia Kaus por amadurecimento de uma linguagem própria. E isso infelizmente é raridade entre os grupos atuais.
A escolha pela ênfase no final trágico traz acertos e fragilidades. Ao conduzir a criação dos personagens de maneira mais agressiva, esquizofrênica, o espetáculo ganha em potência dramática, ainda que isso enfraqueça o humor próprio da situação.
Perde-se também a possibilidade de ser trabalhada a metáfora da atuação, do fingir, na busca clara do texto em transcender ao teatro, elaborando um interessante jogo meta-teatral para refletir sobre a condição própria do homem e a necessidade constante de se fazer outro para dialogar com seus medos e semelhantes.
Edílio Peña oferece mais do que jogos de cena. Elabora um complexo sistema de metáforas sobre o fazer teatral, deixando claro suas críticas ao amadorismo e despreparo dos profissionais. Em falas aparentemente casuais, surgem comentários ácidos ao comportamento familiar e a situação política venezuelana, quando o país é confundido com a Bolívia, por exemplo.
No melhor estilo de Harold Pinter, o conflito é recheado por silêncios de incompreensão do outro e cumplicidade, silêncios esses esquecidos na montagem, que trata o texto de maneira tradicional e ortodoxa.
Há o tom sarcástico do ridículo na situação do ator travestido em mãe, no fanho fingido, na mesa posta feito cenário para compor o encontro com os diálogos escritos pelo contratante, na foto de Vivian Leigh, tal como uma mãe perfeita. Instigante, aos poucos o enredo mostra as contradições dos personagens, conduzindo o espectador a uma busca frenética por compreensão.
Mas não é sobre o entendimento que fala El Chingo, pelo contrário. O espetáculo trata de culpas, sensações guardadas que necessitam ser expurgadas e que só dizem respeito a seus personagens, angústias e solidões. E nos reporta a uma viagem aos nossos próprios fantasmas.
El Chingo mostra por que Peña é um dos mais interessantes dramaturgos latinos, com montagens em diversos países. Sua dramaturgia vai além da construção impecável para compor momentos de inquietação da alma do homem contemporâneo. Um retrato duro do que nos tornamos quando a solidão é cada vez mais a nossa defesa.
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