Antro Particular

03 abril 2007

FESTIVAL DE CURITIBA: polêmica em Ribeirão Preto

Nas últimas semanas, o grupo ribeirão-pretano A Trupe Acima do Bem e do Mal cobrou ajuda da Secretaria de Cultura para viabilizar a participação no Festival de Teatro de Curitiba, com direito a confronto público com o Secretário. Nada foi resolvido, e a Trupe acabou por consolidar um empréstimo bancário para que a viagem ocorresse.


Curiosamente, a primeira vez que estive no Festival, em 2002, então como diretor/dramaturgo, apresentei-me no TUC, mesmo teatro onde a Trupe se apresentará. A sala preta, construída em uma passagem subterrânea, contém fatores não revelados pela produção do festival, como falta de ventilação, incapacidade de utilização de todos os equipamentos de luz simultaneamente, poltronas quebradas, mofo, falta de acústica, palco de concreto e um pé-direto com pouco mais de três metros. Mas como participar do festival é sempre o sonho de quem inicia uma trajetória, por que não?

Em 2004 voltei à Curitiba como olheiro de um importante crítico de São Paulo, com a função de acompanhar as peças do Fringe (mostra paralela) e preparar uma pré-crítica e seleção dos bons trabalhos. Eram sete espetáculos por dia assistidos, que me ocupavam do meio-dia às duas da manhã, mais a feitura dos relatórios até as quatro, para que estivem no hotel do crítico antes das dez, para sua seleção.

Insistente, em 2005, retornei com um projeto desenvolvido para a ECA-USP e o Festival. A Casa Provisória tinha a função de apresentar sete novos diretores, além de um extenso ciclo de debates, leituras, mostra de curtas-metragens.

Muitos são os artistas que acreditam que a participação no festival será o início do reconhecimento de seus trabalhos. Quase todos retornam desiludidos. Ainda que o Fringe represente a maioria absoluta dos ganhos, pouco ou quase nada tem sido criado nos últimos anos para contribuir com os trabalhos inscritos. O inchaço cada vez maior de participantes só serve aos cofres do evento e para gerar dificuldades maiores em se conseguir espaço de mídia e público.

Enquanto a Trupe briga pelo direito de participar, indago como determinar politicamente a ajuda exigida. Como estabelecer democraticamente a escolha por parte do município dos projetos aprovados? O que dizer de um projeto recusado, que se inscreve a duras penas e tem seu reconhecimento alcançado nacionalmente? Ou dos financiados, em detrimento de alguns, que simplesmente retornam anônimos como antes, ou pior, com críticas negativas?

Estabelecer um vínculo de obrigação com o Município é atribuir cada vez mais o controle do Estado pela criação. Uma vez desenhado o perfil desejado, muitos serão os trabalhos pensados com o específico intuito de satisfazer as diretrizes listadas. Afinal, conquistar tal chancela pode vir a ser a única maneira de conseguir participar.

É preciso que caiam algumas máscaras. Que o Festival se prepare de fato para receber os artistas ao invés da exploração numérica para agraciar patrocinadores. Que a mídia realmente cubra o festival sem cartas marcadas por personalidades e anunciantes. Que o governo estabeleça uma política cultural que o represente segundo seus conceitos. Que artistas se organizem responsavelmente para consolidar suas possibilidades sem a frenética busca pelo paternalismo condescendente dos políticos. Do contrário, ainda teremos muito bate-boca por aí.

4 Comments:

  • Fantástica a matéria e seu olhar sobre o Festival de Curitiba . Um tiro certo !Tão certo que chega a ser indiscutível.
    Essa matéria deveria , no mínimo , sair no Jornal do Sindicato dos Artistas de Sampa e do Rio para servir de reflexão. Não só esse ,mais outros Festivais de Teatro e Cinema deveriam agir mais dignamente com o artista , que efetivamente , são a alma e os protagonistas destes eventos.
    Abração

    By Anonymous Anônimo, at 3:04 AM  

  • parabens pela matéria...

    By Anonymous Anônimo, at 3:07 AM  

  • Cá entre nós: desde o início do Fringe, ele sempre foi um grande desrespeito aos que nele se inscrevem.Por isso nunca quis participar, mesmo quando tive uma peça pra ir lá. Por outro lado, enquanto os que toparem se submeter aos maus tratos do Fringe não mudarem de atitude, o Festival de Curitiba continuará tendo patrocinadores com contrapartidas pífias, como apresentar seus espetáculos em lixos.
    É isso aí...
    Abração, Ruy.

    By Anonymous Anônimo, at 3:09 AM  

  • Ruy, você esqueceu de mim.
    Na lista de artistas contemporâneos. Lá eu não estou devidamente incluido.

    http://www.luizcarlosrufo.blogspot.com/

    www.arvore637.com.br

    Abração!!!

    RUFO

    By Blogger Luiz Carlos Rufo, at 1:36 PM  

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