OS RATOS SOLTOS NA CASA: a contemporaneidade de uma tradição
Em cartaz até outubro, no CCSP, Os Ratos Soltos na Casa, novo texto de Patrícia Maes, aponta com precisão a incessante busca pela perfeição dos diálogos, tão arduamente defendida por Samir Yazbek, dramaturgo de qual fora aluna.
Aos poucos o trabalho desenvolvido por Yazbek revela seus resultados em nossos palcos. Os Ratos..., como não poderia deixar de ser, fundamenta-se pela retórica na construção de personagens que pouco necessitam de ações, sobrevivendo o texto pelo conflito e falas num aparente tradicionalismo da forma.
Mas se a forma sugere a tradição, o discurso em si envereda pelo diagnóstico contemporâneo dos indivíduos. Não há dois lados apenas, o certo-errado de sempre. Múltipla em si mesma, a persona transmuta ao valor das vibrações do outro, da presença igualmente indefinida, levando o espectador a ler não mais o conflituoso estado de protagonista/antagonista, e sim a complexidade própria dos nossos dias de serem todos simultaneamente antagonistas (do outro e de si mesmo) em constante oposição aos desejos, aos fracassos.
A precisão da palavra, o minimalismo da cena, faz com que a dramaturgia se firme proprietária de valores ímpares. E se por um lado o esvaziamento da cena submetida às circunstâncias da palavra cria um paradigma sobre nossa época, quando o valor está sobretudo na construção por imagens, por outro fortalece o diretor como presença maior, instrumento intermediário necessário entre ator e texto.
Em Os Ratos.. ., a direção de Carmem Beatriz expõe soluções plausíveis na procura de acrescer ao verbo consistência plástica. Belas, por vezes poéticas até. No entanto, muitas vezes o faltante não são idéias, mas maior concisão conceitual entre as mesmas, levando o espetáculo a não ter claramente um ponto de vista formal sobre como é abordado.
Falta explicitar melhor a proposta em si, traduzir o necessário e limpar as arestas, mesmo que isso exija desfazer-se de bons recursos cênicos. Não cabe apenas a adequação. É preciso aprofundar os subtextos dramáticos e de lá retirar o que de fato se mostrar imprescindível.
Exemplo disso é a iluminação. Por muitas vezes os atores são escondidos em sombras sobre os rostos, dificultando melhor leitura das intenções ditas, já que por toda a peça o interior e exterior das personagens são postos em contradição, explicitando a não definição estética do que aparentemente se revela desacerto e não estilo.
Como tratar no realismo a condição entre a tríade texto-ator-diretor é e será sempre uma questão a ser solucionada de maneira criativa. Enquanto o diretor se estabelece como intersecção com influência determinante sobre o resultado, o ator surge como instrumento de materialização da palavra. E hoje, com o desinteresse do público pelo discurso, pelo diálogo, como determinar uma posição para trabalhos voltados à palavra?
Estratégias à parte, o importante é compreender que em algum aspecto o texto sobrevive a ausência de escuta, e ainda haver verdadeiramente dramaturgos voltados e obstinados pela arte do dizer.
Aos poucos o trabalho desenvolvido por Yazbek revela seus resultados em nossos palcos. Os Ratos..., como não poderia deixar de ser, fundamenta-se pela retórica na construção de personagens que pouco necessitam de ações, sobrevivendo o texto pelo conflito e falas num aparente tradicionalismo da forma.
Mas se a forma sugere a tradição, o discurso em si envereda pelo diagnóstico contemporâneo dos indivíduos. Não há dois lados apenas, o certo-errado de sempre. Múltipla em si mesma, a persona transmuta ao valor das vibrações do outro, da presença igualmente indefinida, levando o espectador a ler não mais o conflituoso estado de protagonista/antagonista, e sim a complexidade própria dos nossos dias de serem todos simultaneamente antagonistas (do outro e de si mesmo) em constante oposição aos desejos, aos fracassos.
A precisão da palavra, o minimalismo da cena, faz com que a dramaturgia se firme proprietária de valores ímpares. E se por um lado o esvaziamento da cena submetida às circunstâncias da palavra cria um paradigma sobre nossa época, quando o valor está sobretudo na construção por imagens, por outro fortalece o diretor como presença maior, instrumento intermediário necessário entre ator e texto.
Em Os Ratos.. ., a direção de Carmem Beatriz expõe soluções plausíveis na procura de acrescer ao verbo consistência plástica. Belas, por vezes poéticas até. No entanto, muitas vezes o faltante não são idéias, mas maior concisão conceitual entre as mesmas, levando o espetáculo a não ter claramente um ponto de vista formal sobre como é abordado.
Falta explicitar melhor a proposta em si, traduzir o necessário e limpar as arestas, mesmo que isso exija desfazer-se de bons recursos cênicos. Não cabe apenas a adequação. É preciso aprofundar os subtextos dramáticos e de lá retirar o que de fato se mostrar imprescindível.
Exemplo disso é a iluminação. Por muitas vezes os atores são escondidos em sombras sobre os rostos, dificultando melhor leitura das intenções ditas, já que por toda a peça o interior e exterior das personagens são postos em contradição, explicitando a não definição estética do que aparentemente se revela desacerto e não estilo.
Como tratar no realismo a condição entre a tríade texto-ator-diretor é e será sempre uma questão a ser solucionada de maneira criativa. Enquanto o diretor se estabelece como intersecção com influência determinante sobre o resultado, o ator surge como instrumento de materialização da palavra. E hoje, com o desinteresse do público pelo discurso, pelo diálogo, como determinar uma posição para trabalhos voltados à palavra?
Estratégias à parte, o importante é compreender que em algum aspecto o texto sobrevive a ausência de escuta, e ainda haver verdadeiramente dramaturgos voltados e obstinados pela arte do dizer.
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