JOSÉ GENUÍNO: texto para o Estado de S. Paulo
04:35:24
No meu texto passado deixei a pergunta se a as medidas adotadas por Tarso Genro, agora presidente do PT, teriam como causa a gestão de Genuíno. Portanto, coloco aqui o artigo escrito pelo ex-presidente do partido, como discussão e ação democrática de resposta.
Durante a leitura, o texto me causou a sensação triste de uma derrota inevitável. Dos políticos. Do Partido dos Trabalhadores. Da política.
Sem julgamentos, não li nada mais que outro discurso correto que pouco me parece querer contribuir. Nada além de um pedido estratégico de desculpas, como currículo ao futuro.
Deixo a cada um suas próprias conclusões. As minhas são apenas frustrações. Estou cansado e gostaria de respirar um pouco de verdade...
RUY FILHO
JOSÉ GENUÍNO
Estado de S. Paulo, 16 de julho 05
ERROS E SAÍDAS
Na minha vida política sempre procurei pautar-me por uma relação de sinceridade com a opinião pública, com a militância do PT e com os meus interlocutores. Por isso, em face da crise política que atinge o PT e a mim mesmo, julgo ser necessário prestar alguns esclarecimentos públicos. Antes de tudo, quero pedir desculpas à opinião pública e principalmente à militância petista, porque avalio que cometi erros e falhas no exercício da presidência do PT.
O exercício da presidência do PT é uma função que exige alta responsabilidade política e administrativa, seja pela relação do partido com a militância, pela sua relação com a sociedade, seja pela sua relação com o governo. Por isso, como presidente, deveria ter adotado um empenho maior na gestão administrativa interna, exercendo um maior controle e renovando métodos e procedimentos.
Ao assumir a presidência do PT no final de 2002 e início de 2003, deveria ter procedido a uma reforma administrativa e política do partido, modernizando-o e o adequando à nova condição de ser partido de governo e, ao mesmo tempo, continuar sendo um partido orgânico dos movimentos sociais e da sociedade civil. O fato de ter substituído o companheiro José Dirceu, o presidente eleito diretamente pelos filiados, e de não ter havido a eleição pelo Diretório Nacional de uma nova Executiva, também não me exime desta responsabilidade. Na medida em que o PT cresceu muito em sua estrutura política e administrativa, deveria ter adotado medidas e mecanismos para estabelecer padrões internos de procedimentos e métodos coletivos e de autocontrole. Não adequamos o PT aos novos desafios que se apresentaram a partir da vitória de 2002. E, como muitos dos seus quadros dirigentes históricos assumiram tarefas no governo, o partido se enfraqueceu em sua capacidade dirigente.
Em 2004, acredito que nós, dirigentes petistas, não soubemos administrar de forma adequada o movimento de crescimento que o partido vivia e as pressões e demandas por recursos. Apostamos numa campanha excessivamente dimensionada, que não tivemos a capacidade de sustentar. Isso nos levou a cometer alguns erros políticos, que se traduziram em prejuízo para o partido e em endividamentos. Encerramos a campanha com R$ 20 milhões de dívida no plano nacional e alguns outros milhões nos Estados.
Acredito que as pressões tenham colocado exigências de crescimento que estavam além daquilo a que a estrutura do partido e a capacidade dirigente instalada poderiam atender.
Como dirigentes, a nossa tarefa adequada deveria ter consistido em reduzir as pressões e trabalhar com uma perspectiva mais modesta de crescimento.
Reconhecidos esses erros, quero garantir à opinião pública e à militância petista, com serenidade e franqueza, que não cometi ilegalidades e em nenhum momento agi para corromper a coisa pública ou para tirar qualquer proveito pessoal das circunstâncias em que estava envolvido. Tenho fé em que o processo de investigação em curso terminará por provar esta afirmação e, por isso, colaborarei ao máximo para que todas as denúncias sejam investigadas e esclarecidas. Quero observar que vivemos um momento de muitas denúncias, que geram um ambiente de suspeição geral e favorecem prejulgamentos. Recomendaria cautela, pois somente investigações isentas poderão estabelecer o que há de verdade e o que há de mentira nessas denúncias.
Afastei-me da presidência do partido porque o projeto estratégico do PT, de ser um dos principais meios de transformação social e de redução das desigualdades, é algo que está acima das minhas pretensões pessoais.
Neste momento, outras pessoas, como o novo presidente, Tarso Genro, têm melhores condições para representar este projeto estratégico, defender a dignidade do partido e da militância e defender o governo Lula, suas mudanças e suas realizações.
O PT, no entanto, além de realizar a renovação de suas direções por eleições diretas, precisa passar por um amplo processo de reforma política e administrativa que, na nossa gestão, não tivemos condições e não fomos capazes de realizar.
O PT, enquanto instituição política da sociedade, precisa reduzir sua opacidade e tornar-se mais transparente à opinião pública. A coerência entre discurso e ação deve ser restaurada, para que o partido seja uma instituição legítima e crível, tanto para a militância quanto para a opinião pública e o eleitorado.
Uma das grandes lições desta crise é a de que, um partido político como o PT, além de exercer o papel de 'educador', 'formador' e 'condutor' de opiniões, deve também agir sempre em consonância com as exigências democráticas e republicanas, conduta que balizou a história de 25 anos do partido. Acredito que, pela sua história, pelos seus compromissos programáticos, pela sua militância e pelos seus quadros, o PT tem energia e capacidade suficientes para superar a sua atual crise.
A crise política do País só terá uma solução positiva e adequada se o Congresso for capaz de avançar no processo de reforma política. Ao menos dois pontos exigem soluções urgentes: o financiamento público das campanhas e a fidelidade partidária. Alguns aspectos de fundo da atual crise estão relacionados com as deficiências do nosso sistema partidário e eleitoral. É conveniente e desejável também que nas eleições legislativas municipais de 2008 se institua o mecanismo das listas pré-ordenadas, para que ele possa ser adotado nos níveis estadual e federal em 2010.
1 Comments:
Nas favelas do senado..."
Não gosto de Legião Urbana, mas Renato Russo foi muito feliz, se que tal inspiração foi motivo de felicidade, ao criar esta música...
enviado em 16/7/2005 05:08:00
By Anônimo, at 1:17 AM
Postar um comentário
<< Home