KRONOSCÓPIO: A ciência como pretexto dramático
Escrito e dirigido por Ricardo Karman, O Kronoscópio arrisca-se no dilema cientificista de como abordar a arte, partindo do conto russo The Dead Past, de Isaac Asimov, para elaborar a relação entre palco e público.
A montagem faz do teatro sua caixa cênica, incluindo a platéia em seu interior. Paredes se revelam portas, quebrando a frontalidade formal do palco italiano, ainda que neste ocorram os principais diálogos.
A presença virtual, por projeção, de Mariana Martinez gera belos momentos na maneira como a imagem pode incluir a narrativa. No entanto, a força da imagem faz com que a presença da atriz, no meio da platéia, seja desnecessária. Aliás, armadilhas como essa ocorrem a todo momento pela falta do radicalizar os caminhos apontados na direção.
Ainda que interessante, o embate moral que permeia a peça, mereceria maior aprofundamento. No apontar das questões, grande parte da eficácia se deve as interpretações de Eduardo Semerjian e Gustavo Vaz, cuja disciplina e sintonia fortalecem a fragilidade retórica.
A relação dialética entre ciência e arte esteve sempre presente, desde o Renascimento e a valorização dos artistas-cientistas, quando matemática, astronomia e artes plásticas, por exemplo, habitavam o processo de criação. Hoje, não é diferente. Apenas trocamos as ciências, associando a biotecnologia e os instrumentais computacionais, que variam de nanosensores a ambientes imersivos interativos em terceira dimensão.
No teatro podemos, inicialmente, observar dois momentos cruciais na relação com o tecnológico: a mecânica cenotécnica desenvolvida na cena barroca e a inclusão da eletricidade.
Mas como identificar essa relação no contemporâneo? Muitos são os grupos de teatro e dança voltados a pesquisar uma linguagem híbrida que contenha características estéticas associadas ao uso de teorias/materiais científicos. Poucos verdadeiramente chegam a estabelecer um discurso que traga ambos os aspectos como essência. Na grande maioria dos trabalhos, o que se percebe é a submissão de um enquanto o outro se artificializa explorado como efeito de "modernidade".
Criar uma condição para que ambos sejam relevantes ao conceito é entender que não basta tematizar com histórias científicas uma cena tradicional ou instrumentalizar com tecnologia de ponta um discurso estético conservador.
Validar a arte e a ciência, um pelo outro, é desde sempre uma tarefa inócua, mas importante na construção de novos paradigmas para ambos. E é sobretudo nesse aspecto que muitos dos trabalhos patinam sem conseguir ir além, sem um discurso que abarque os sentidos do que é pretendido unir.
Moralizar o papel da ciência é um dos atributos possíveis da capacidade narrativa e ficcional da arte, o que realizamos com certa correção. Porém, é preciso aproveitar a importância do discurso para dialogar com os conceitos e desconstruir as bases da arte. Trazer para a cena outro entendimento do intérprete, da fala, do texto, do espaço, apoiados nas novas teorias. Sem isso teremos, como temos, apenas novas histórias.
A montagem faz do teatro sua caixa cênica, incluindo a platéia em seu interior. Paredes se revelam portas, quebrando a frontalidade formal do palco italiano, ainda que neste ocorram os principais diálogos.
A presença virtual, por projeção, de Mariana Martinez gera belos momentos na maneira como a imagem pode incluir a narrativa. No entanto, a força da imagem faz com que a presença da atriz, no meio da platéia, seja desnecessária. Aliás, armadilhas como essa ocorrem a todo momento pela falta do radicalizar os caminhos apontados na direção.
Ainda que interessante, o embate moral que permeia a peça, mereceria maior aprofundamento. No apontar das questões, grande parte da eficácia se deve as interpretações de Eduardo Semerjian e Gustavo Vaz, cuja disciplina e sintonia fortalecem a fragilidade retórica.
A relação dialética entre ciência e arte esteve sempre presente, desde o Renascimento e a valorização dos artistas-cientistas, quando matemática, astronomia e artes plásticas, por exemplo, habitavam o processo de criação. Hoje, não é diferente. Apenas trocamos as ciências, associando a biotecnologia e os instrumentais computacionais, que variam de nanosensores a ambientes imersivos interativos em terceira dimensão.
No teatro podemos, inicialmente, observar dois momentos cruciais na relação com o tecnológico: a mecânica cenotécnica desenvolvida na cena barroca e a inclusão da eletricidade.
Mas como identificar essa relação no contemporâneo? Muitos são os grupos de teatro e dança voltados a pesquisar uma linguagem híbrida que contenha características estéticas associadas ao uso de teorias/materiais científicos. Poucos verdadeiramente chegam a estabelecer um discurso que traga ambos os aspectos como essência. Na grande maioria dos trabalhos, o que se percebe é a submissão de um enquanto o outro se artificializa explorado como efeito de "modernidade".
Criar uma condição para que ambos sejam relevantes ao conceito é entender que não basta tematizar com histórias científicas uma cena tradicional ou instrumentalizar com tecnologia de ponta um discurso estético conservador.
Validar a arte e a ciência, um pelo outro, é desde sempre uma tarefa inócua, mas importante na construção de novos paradigmas para ambos. E é sobretudo nesse aspecto que muitos dos trabalhos patinam sem conseguir ir além, sem um discurso que abarque os sentidos do que é pretendido unir.
Moralizar o papel da ciência é um dos atributos possíveis da capacidade narrativa e ficcional da arte, o que realizamos com certa correção. Porém, é preciso aproveitar a importância do discurso para dialogar com os conceitos e desconstruir as bases da arte. Trazer para a cena outro entendimento do intérprete, da fala, do texto, do espaço, apoiados nas novas teorias. Sem isso teremos, como temos, apenas novas histórias.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home