FESTIVAL DE CURITIBA: apontamentos de outras possibilidades
Entre quinta e domingo, acompanhei o início do Festival de Curitiba. Com um novo formato, expandindo suas atuações para além da Mostra Oficial e Fringe, a nova cara do evento revela simultaneamente o desgaste das fórmulas comuns e a necessidade de construção de outros parâmetros. Neste ano, os dois preceitos surgem como grito de socorro, neste que é um dos mais relevantes festivais do país.
Nem lá nem cá, todavia. A fórmula continua em seus aspectos tradicionalistas, sobretudo quanto à estrutura organizacional dos espetáculos, enquanto as novidades esperam alcançar o interesse popular.
Durante os quatro dias primeiros, alguns aspectos já se revelam interessantes. Não faltam, como sempre, espetáculos amadores e estudantes em vários estágios ou recentemente profissionalizados. O que se vê, diferente de edições passadas, é uma melhoria qualitativa principalmente na consciência do intérprete em sua relação com o teatro. Maior preocupação com a eficiência técnica, com o discurso estético, independentemente das correntes e conceitos, traduzem, em certo aspecto, um amadurecimento do jovem ator no que se refere ao fazer teatro e a sua opção por ter a arte como profissão.
Ainda que muitos patinem sob a ingenuidade do discurso juvenil, há, na valorização da inquietação, o gosto esperançoso do teatro retornar do abismo qual fora lançado por gerações de atores, dramaturgos e diretores objetivados pela mera inclusão mercadológica.
Se, em um lado, os espetáculos são mais atraentes em seus defeitos e equívocos, no outro, a resposta do público mostra-se igualmente estimulante. Quando participara do festival, em meados de 2000, a consciência de ser uma boa platéia a formada por quinze pessoas reiterava as dificuldades em participar do Fringe. Hoje, poucos eram os espetáculos cujas cadeiras não se ocupavam em cinqüenta. Valoroso impacto da aceitação dos temas mais controversos e cenas voltadas às pesquisas de linguagem.
Problemas como a não presença de Gerald Thomas, anunciado para uma palestra, e a quebra do projetor, durante a apresentação de Vestido de Noiva, dos Satyros, levando-a ao cancelamento, traduzem o quão difícil é reestruturar problemas já cristalizados. Não há um culpado, pois não se trata somente disso. As deficiências de agora são latências históricas de mais de uma década e por tanto tempo permitidas e aceitas pelos próprios artistas participantes. É preciso comungar a responsabilidade pelos problemas, sugerir e exigir reformulações, advertir conseqüências.
Enquanto, esta semana, artistas se reúnem pela luta de um incentivo Estadual para as artes cênicas, erguendo os punhos, no centro de São Paulo, os novos e anônimos permanecem em Curitiba realizando, por uma outra via, igual política de sobrevivência, dando existência à arte não pelo paternalismo governamental, mas pela realização desprovida de qualquer outro interesse que não,e apenas, o sonhar.
Não há certo ou errado, melhor ou pior. Cabe ao Estado, em seus mais diversos níveis, o desenvolvimento de mecanismos de apoio e efetivação das artes. Mas, em 2008, a garotada no Fringe, com todos os seus erros e ingenuidades, entusiasmam-me muito mais.
Nem lá nem cá, todavia. A fórmula continua em seus aspectos tradicionalistas, sobretudo quanto à estrutura organizacional dos espetáculos, enquanto as novidades esperam alcançar o interesse popular.
Durante os quatro dias primeiros, alguns aspectos já se revelam interessantes. Não faltam, como sempre, espetáculos amadores e estudantes em vários estágios ou recentemente profissionalizados. O que se vê, diferente de edições passadas, é uma melhoria qualitativa principalmente na consciência do intérprete em sua relação com o teatro. Maior preocupação com a eficiência técnica, com o discurso estético, independentemente das correntes e conceitos, traduzem, em certo aspecto, um amadurecimento do jovem ator no que se refere ao fazer teatro e a sua opção por ter a arte como profissão.
Ainda que muitos patinem sob a ingenuidade do discurso juvenil, há, na valorização da inquietação, o gosto esperançoso do teatro retornar do abismo qual fora lançado por gerações de atores, dramaturgos e diretores objetivados pela mera inclusão mercadológica.
Se, em um lado, os espetáculos são mais atraentes em seus defeitos e equívocos, no outro, a resposta do público mostra-se igualmente estimulante. Quando participara do festival, em meados de 2000, a consciência de ser uma boa platéia a formada por quinze pessoas reiterava as dificuldades em participar do Fringe. Hoje, poucos eram os espetáculos cujas cadeiras não se ocupavam em cinqüenta. Valoroso impacto da aceitação dos temas mais controversos e cenas voltadas às pesquisas de linguagem.
Problemas como a não presença de Gerald Thomas, anunciado para uma palestra, e a quebra do projetor, durante a apresentação de Vestido de Noiva, dos Satyros, levando-a ao cancelamento, traduzem o quão difícil é reestruturar problemas já cristalizados. Não há um culpado, pois não se trata somente disso. As deficiências de agora são latências históricas de mais de uma década e por tanto tempo permitidas e aceitas pelos próprios artistas participantes. É preciso comungar a responsabilidade pelos problemas, sugerir e exigir reformulações, advertir conseqüências.
Enquanto, esta semana, artistas se reúnem pela luta de um incentivo Estadual para as artes cênicas, erguendo os punhos, no centro de São Paulo, os novos e anônimos permanecem em Curitiba realizando, por uma outra via, igual política de sobrevivência, dando existência à arte não pelo paternalismo governamental, mas pela realização desprovida de qualquer outro interesse que não,e apenas, o sonhar.
Não há certo ou errado, melhor ou pior. Cabe ao Estado, em seus mais diversos níveis, o desenvolvimento de mecanismos de apoio e efetivação das artes. Mas, em 2008, a garotada no Fringe, com todos os seus erros e ingenuidades, entusiasmam-me muito mais.
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