Antro Particular

11 abril 2008

XI Encontro de Dirigentes Culturais – parte 2: A posição do Estado

Dois novos museus: Cata-vento (destinado ao universo da criança) e o Museu da História de São Paulo; a criação da São Paulo Cia. de Dança, corpo estável de dança clássica, aos moldes da Osesp; implantação de nove centros culturais em distritos de “alta periculosidade”; distribuição na rede de ensino pública de 2,5 mi de ingressos de filmes nacionais; aumento de 13 para 20 municípios participantes na Virada Cultural; e para 50, as cidades integradas no Circuito Cultural Paulista; viabilização de projetos, através da disponibilização de 18 mi pelo PAC.

São esses os focos do Estado quando perguntamos sobre sua agenda cultural. Os dados revelam os interesses do governo, como o investimento no acesso aos filmes e a soma de 74% do orçamento para a área de música, incluindo aí conservatórios, sinfônicas, festivais e Projeto Guri.

Ainda que aparente uma busca por democratizar o acesso ao bem cultural e uma preocupação com a qualidade do ensino da arte em processos educativos, outros aspectos nos auxiliam a desvendar qual ser de fato a vontade política do Estado.

Falou-se muito sobre a importância de procedimentos de inclusão do jovem, de garantir-lhes o acesso a bens culturais. No entanto, os ingressos de cinema, por exemplo, visam apenas os municípios cujo mercado seja de interesse dos parceiros: as próprias produtoras e distribuidoras.

Desta maneira, cidades menores acabarão aleijadas do benefício por sua tímida capacidade em transformar estudantes em potenciais mecanismos de divulgação. Ora, quanto menor o público disponível menor a necessidade de investimento por parte das distribuidoras, uma vez que o lucro se constrói proporcionalmente.

Sobre o crescimento de cidades participantes na Virada e Circuito Culturais não ser extensivo à totalidade, argumentara o Secretário João Sayad que faltariam artistas e públicos para compor os eventos, optando então por grandes centros, apenas.

São incalculáveis os artistas que se frustram insistentemente pela ausência mínima de um local para se apresentarem. A afirmação se confunde aqui entre o desconhecimento alienável dos fatos e a avaliação qualitativa das manifestações, algo incabível ao Governo, já que a Virada, por exemplo, trata-se de uma festa comunitária, priorizando a “retomada da cidade e o convívio urbano no espaço público”, segundo o Secretário.

Sobre a importância de se criar um corpo estável de dança clássica, diz ele que “existem no Estado mais academias de dança do que de ginástica. Este é, então, o momento para isso”.

Ao fim, parece claro o desenhar de uma política cultural que priorize as associações com indústrias culturais e a inclusão aos modismos vigentes, posicionada por certo tom de distinção entre alta/baixa cultura, enquanto somam-se esforços por definir processos educativos, estabelecendo as metodologias para o que se entende por bons resultados.

Ainda que existam pessoas incríveis envolvidas, projetos importantes como o Guri, devemos nos atentar as parcerias efetivadas, ao apreço pelos instrumentos de elitização da Cultura, à subestimação dos pequenos processos. Por serem distantes e utópicos os objetivos, é fácil nos apegarmos a atalhos. E uma vez erguidos edifícios, formalizadas as instituições, determinados os participantes, dificilmente conseguiremos inverter os resultados.

Não é curioso como todas as propostas vinculam-se diretamente a maior quantidade de habitantes para a escolha dos municípios agraciados?