2006: A NOVELA ESCRITA PARA UM POVO DESILUDIDO
Postado na hospedagem anterior do blog na segunda-feira, 15 de agosto de 2005
23:55:51
No domingo passado, o Fantástico, programa da Rede Globo, ao entrevistar o ex-presidente Fernando Collor, trouxe a revelação deste ter pensado em suicídio ao ter seu impeachment confirmado. Todos os meios de comunicação comentam o assunto. Parece, entretanto, ter passado desapercebido outro comentário, quando afirmou categoricamente que seu único arrependimento fora não ter bajulado os deputados e o congresso com aparições em "churrascos e festas", pois, isolando-se, determinou a votação que o retirou da presidência. Antipatia! Resumiu-se a isso a cassação de Collor? Bastava, então, brindar com uísques caros nas recepções dos deputados para que permanecesse no poder? A questão que fica no ar é: o que brindariam?
Se o ex-presidente Collor não deu as respostas sobre as motivações das comemorações, a gestão Lula nos dá uma pista. Um cardápio recheado de corrupções sem precedentes, que certamente não se iniciara com o governo petista. Já se descobrem tentáculos nos governos FHC, e por todos os partidos as contradições revelam envolvimentos no sistema de financiamento das campanhas eleitorais além das contrapartidas partidárias. De mensalões a trocas de partidos, vale qualquer coisa para se continuar no jogo.
O governo Lula chegara à representação máxima do Executivo, após mais de vinte anos de oposição, com a promessa de mudanças políticas e econômicas. E que não ocorreram. As lágrimas na face de um país em esperança, quando a vitória de Lula enfim ocorrera, agora se encontram nos olhos dos próprios fundadores e representantes do partido dos trabalhadores ao se darem conta que o envolvimento do presidente se consolida a cada novo depoimento realizado nas CPIs.
O Brasil não perde apenas a referência revolucionária de uma esquerda que teria como finalidade a realização do sonho de milhares de brasileiros à espera de uma revolução social pacífica. Perde a possibilidade de transformações ideológicas na construção de uma identidade nacional. Não é a toa que as pesquisas eleitorais mostram pela primeira vez Lula perdendo a reeleição. A esquerda qual entendíamos não existe mais e abre caminho para duas possibilidades ainda mais preocupantes.
No início da crise comandada por Roberto Jefferson, frases do tipo "isso é bom, aprendemos que não temos que acredita em um salvador" estamparam quantidades incontáveis de depoimentos nos meios de comunicação, do povo a lideranças políticas, de artistas a anônimos. Não é o que se vê. Em silêncio, uma boa camada da população desiludida segue o lema do governo: "sou brasileiro e não desisto nunca". Surge aos passos cautelosos nas mesas de bares, balcões de botequins, aos sussurros tímidos o nome de um substituto. Heloísa Helena cresce em aprovação e se estabelece como liderança política.
Há, no entanto, a ironia de Heloísa, a quem se deve respeitar, ser produto do mesmo partido qual nos afastamos. De uma esquerda mais socialista, ou pura, como queira, a ideologia defendida em suas opiniões lembra de fato o operário sindicalista Luís Inácio da Silva. Um novo Lula talvez? E será que queremos outro Lula? Ou como este, a deputada fundadora do PSOL, no cargo máximo terminará igualmente rendida aos velhos sistemas de corrupção, como única maneira de governabilidade, já que seu partido certamente não obterá maioria no congresso? A aproximação da imagem de Heloísa com o Lula ainda jovem pode resultar em uma comparação infeliz para sua trajetória política. Mudar sua forma de ser, no entanto, trará descredibilidade. Heloísa enfrenta um dilema que vai além do seu discurso. Traz nas costas o peso de manter vivo os ideais da esquerda brasileira, o que, aliás, o faz bem. Mas quem hoje vai quere correr o risco de pagar pra ver?
Outra possibilidade, e mais imediata, é o ressurgimento público da direita. Público, pois do poder nunca se ausentara desde a ditadura militar. Ora como vices, ora comandando o congresso e o senado, a direita mantém o controle político no Brasil ainda que indiretamente. Presente, sim, mas disfarçada em arranjos e conchavos. A direita de Antônio Carlos Magalhães e tantos outros, dos militares aposentados de olho no Planalto. Esta, ainda lá está. E certamente tem muito a ver com tudo o que está acontecendo, pois fora a base de todo e qualquer organização corrupta que possamos vir a descobrir. A direita que retorna pouco a pouco nas pequenas censuras do governo, na posição conservadora do CNBB, da política externa, de alguns intelectuais influentes. E que se apodera da decepção para fortalecer suas entradas na estrutura democrática sem ser percebida.
É o que as eleições de 2006 irão, enfim, determinar para o nosso futuro. Acreditar na recuperação da esquerda - pela reeleição de Lula, manutenção do PT no poder ou o fortalecimento da nova esquerda para outras eleições - ou o retorno majestoso e vitorioso da direita com seus sorrisos descansados e prontos para impor suas condições.
O triste é perceber que em ambos os casos a solução não virá e que continuaremos a depender da sorte em sobreviver ao samba neste país viciado pela corrupção. Nestas eleições qualquer especulação sobre os resultados independe do que vai acontecer. Nossas modernas urnas eletrônicas mais se parecem roletas controladas em cassinos de subúrbios. Escolham seus números e apostem suas fichas. Mas como está o país já determinou o seu futuro corrompido.
Ainda ontem, Aluísio Mercadante insistia, em entrevista para a Bandeirantes, sobre a importância de modificarmos a legislação do financiamento das campanhas. Para o senador, os milhões utilizados nas campanhas são necessários para manter o padrão de qualidade dos programas televisivos. E radicaliza propondo programas menores, sem tomadas externas e efeitos encarecedores, acreditando que o melhor debate para com a população seja via candidato e plano de governo gravado em câmara olho-no-olho.
10 milhões. 15 milhões. 25 milhões... A contabilidade é alta e a mídia agradece e muito. Enquanto os canais de televisão arrecadam fortunas com as propagandas eleitorais, publicitários cobram salários irreais para a elaboração das campanhas. Vivemos uma total inversão de valores. A mesma mídia, agora, faz dos escândalos em Brasília seu talk show em busca de espectadores. Ganha mais quem tiver o melhor escândalo do dia! E pouco, de fato, traduz-se ao povo, que assiste aterrorizado as notícias, sem uma reflexão mais profunda e consistente dos acontecimentos.
Ora, o apoio popular está claramente sendo forjado em fogo brando pelos jornais e noticiários que apostam em escândalos novos e maiores todos os dias. Só se discute o culpado. E não se ouve nenhum âncora tratar sobre as conseqüências do que está ocorrendo.
A lavagem de dinheiro se tornou uma profissão paralela dos publicitários e da mídia. Todos participam fingindo ignorar as origens das quantias quais cobram por seus serviços e espaços. Mas são igualmente cúmplices. Fazendo-se de espantados, de ingênuos, a mídia, através das empresas publicitárias, estabelece uma influência paralela às eleições e, a exemplo do que se tem percebido, nenhum paralelismo está desconectado de troca de facilidades. As emissoras possuem dívidas gigantescas com a união, os jornais idem, com raríssimas exceções. Sem falar nas parcerias entre mídias e bancos, seja como investidores, seja como anunciantes gigantes. A imprensa que se mostra tão surpreendida pode sim ser pega de calças-curtas. Basta saber quem estará disposto a dar o primeiro grito!
De qualquer maneira, a população está pela primeira vez acompanhando a política nacional. Ouve-se nas ruas, nos pontos de ônibus, nos táxis. Isso é avanço... Ouçamos a todos, leiamos a tudo, então. A informação se contradiz de veículo para veículo e nesses intervalos de desencontros existe a possibilidade de conhecermos a realidade. Apenas desta forma saberemos o que pensar. E nada se muda sem muita e cautelosa reflexão. Não há de ser no Brasil que vai acontecer de outra maneira. Sem as desculpas políticas, sem os discursos oportunistas, sem as matérias vazias... Seja qual for sua posição, que seja sua. O resto é mera conseqüência de nós mesmos.
23:55:51
No domingo passado, o Fantástico, programa da Rede Globo, ao entrevistar o ex-presidente Fernando Collor, trouxe a revelação deste ter pensado em suicídio ao ter seu impeachment confirmado. Todos os meios de comunicação comentam o assunto. Parece, entretanto, ter passado desapercebido outro comentário, quando afirmou categoricamente que seu único arrependimento fora não ter bajulado os deputados e o congresso com aparições em "churrascos e festas", pois, isolando-se, determinou a votação que o retirou da presidência. Antipatia! Resumiu-se a isso a cassação de Collor? Bastava, então, brindar com uísques caros nas recepções dos deputados para que permanecesse no poder? A questão que fica no ar é: o que brindariam?
Se o ex-presidente Collor não deu as respostas sobre as motivações das comemorações, a gestão Lula nos dá uma pista. Um cardápio recheado de corrupções sem precedentes, que certamente não se iniciara com o governo petista. Já se descobrem tentáculos nos governos FHC, e por todos os partidos as contradições revelam envolvimentos no sistema de financiamento das campanhas eleitorais além das contrapartidas partidárias. De mensalões a trocas de partidos, vale qualquer coisa para se continuar no jogo.
O governo Lula chegara à representação máxima do Executivo, após mais de vinte anos de oposição, com a promessa de mudanças políticas e econômicas. E que não ocorreram. As lágrimas na face de um país em esperança, quando a vitória de Lula enfim ocorrera, agora se encontram nos olhos dos próprios fundadores e representantes do partido dos trabalhadores ao se darem conta que o envolvimento do presidente se consolida a cada novo depoimento realizado nas CPIs.
O Brasil não perde apenas a referência revolucionária de uma esquerda que teria como finalidade a realização do sonho de milhares de brasileiros à espera de uma revolução social pacífica. Perde a possibilidade de transformações ideológicas na construção de uma identidade nacional. Não é a toa que as pesquisas eleitorais mostram pela primeira vez Lula perdendo a reeleição. A esquerda qual entendíamos não existe mais e abre caminho para duas possibilidades ainda mais preocupantes.
No início da crise comandada por Roberto Jefferson, frases do tipo "isso é bom, aprendemos que não temos que acredita em um salvador" estamparam quantidades incontáveis de depoimentos nos meios de comunicação, do povo a lideranças políticas, de artistas a anônimos. Não é o que se vê. Em silêncio, uma boa camada da população desiludida segue o lema do governo: "sou brasileiro e não desisto nunca". Surge aos passos cautelosos nas mesas de bares, balcões de botequins, aos sussurros tímidos o nome de um substituto. Heloísa Helena cresce em aprovação e se estabelece como liderança política.
Há, no entanto, a ironia de Heloísa, a quem se deve respeitar, ser produto do mesmo partido qual nos afastamos. De uma esquerda mais socialista, ou pura, como queira, a ideologia defendida em suas opiniões lembra de fato o operário sindicalista Luís Inácio da Silva. Um novo Lula talvez? E será que queremos outro Lula? Ou como este, a deputada fundadora do PSOL, no cargo máximo terminará igualmente rendida aos velhos sistemas de corrupção, como única maneira de governabilidade, já que seu partido certamente não obterá maioria no congresso? A aproximação da imagem de Heloísa com o Lula ainda jovem pode resultar em uma comparação infeliz para sua trajetória política. Mudar sua forma de ser, no entanto, trará descredibilidade. Heloísa enfrenta um dilema que vai além do seu discurso. Traz nas costas o peso de manter vivo os ideais da esquerda brasileira, o que, aliás, o faz bem. Mas quem hoje vai quere correr o risco de pagar pra ver?
Outra possibilidade, e mais imediata, é o ressurgimento público da direita. Público, pois do poder nunca se ausentara desde a ditadura militar. Ora como vices, ora comandando o congresso e o senado, a direita mantém o controle político no Brasil ainda que indiretamente. Presente, sim, mas disfarçada em arranjos e conchavos. A direita de Antônio Carlos Magalhães e tantos outros, dos militares aposentados de olho no Planalto. Esta, ainda lá está. E certamente tem muito a ver com tudo o que está acontecendo, pois fora a base de todo e qualquer organização corrupta que possamos vir a descobrir. A direita que retorna pouco a pouco nas pequenas censuras do governo, na posição conservadora do CNBB, da política externa, de alguns intelectuais influentes. E que se apodera da decepção para fortalecer suas entradas na estrutura democrática sem ser percebida.
É o que as eleições de 2006 irão, enfim, determinar para o nosso futuro. Acreditar na recuperação da esquerda - pela reeleição de Lula, manutenção do PT no poder ou o fortalecimento da nova esquerda para outras eleições - ou o retorno majestoso e vitorioso da direita com seus sorrisos descansados e prontos para impor suas condições.
O triste é perceber que em ambos os casos a solução não virá e que continuaremos a depender da sorte em sobreviver ao samba neste país viciado pela corrupção. Nestas eleições qualquer especulação sobre os resultados independe do que vai acontecer. Nossas modernas urnas eletrônicas mais se parecem roletas controladas em cassinos de subúrbios. Escolham seus números e apostem suas fichas. Mas como está o país já determinou o seu futuro corrompido.
Ainda ontem, Aluísio Mercadante insistia, em entrevista para a Bandeirantes, sobre a importância de modificarmos a legislação do financiamento das campanhas. Para o senador, os milhões utilizados nas campanhas são necessários para manter o padrão de qualidade dos programas televisivos. E radicaliza propondo programas menores, sem tomadas externas e efeitos encarecedores, acreditando que o melhor debate para com a população seja via candidato e plano de governo gravado em câmara olho-no-olho.
10 milhões. 15 milhões. 25 milhões... A contabilidade é alta e a mídia agradece e muito. Enquanto os canais de televisão arrecadam fortunas com as propagandas eleitorais, publicitários cobram salários irreais para a elaboração das campanhas. Vivemos uma total inversão de valores. A mesma mídia, agora, faz dos escândalos em Brasília seu talk show em busca de espectadores. Ganha mais quem tiver o melhor escândalo do dia! E pouco, de fato, traduz-se ao povo, que assiste aterrorizado as notícias, sem uma reflexão mais profunda e consistente dos acontecimentos.
Ora, o apoio popular está claramente sendo forjado em fogo brando pelos jornais e noticiários que apostam em escândalos novos e maiores todos os dias. Só se discute o culpado. E não se ouve nenhum âncora tratar sobre as conseqüências do que está ocorrendo.
A lavagem de dinheiro se tornou uma profissão paralela dos publicitários e da mídia. Todos participam fingindo ignorar as origens das quantias quais cobram por seus serviços e espaços. Mas são igualmente cúmplices. Fazendo-se de espantados, de ingênuos, a mídia, através das empresas publicitárias, estabelece uma influência paralela às eleições e, a exemplo do que se tem percebido, nenhum paralelismo está desconectado de troca de facilidades. As emissoras possuem dívidas gigantescas com a união, os jornais idem, com raríssimas exceções. Sem falar nas parcerias entre mídias e bancos, seja como investidores, seja como anunciantes gigantes. A imprensa que se mostra tão surpreendida pode sim ser pega de calças-curtas. Basta saber quem estará disposto a dar o primeiro grito!
De qualquer maneira, a população está pela primeira vez acompanhando a política nacional. Ouve-se nas ruas, nos pontos de ônibus, nos táxis. Isso é avanço... Ouçamos a todos, leiamos a tudo, então. A informação se contradiz de veículo para veículo e nesses intervalos de desencontros existe a possibilidade de conhecermos a realidade. Apenas desta forma saberemos o que pensar. E nada se muda sem muita e cautelosa reflexão. Não há de ser no Brasil que vai acontecer de outra maneira. Sem as desculpas políticas, sem os discursos oportunistas, sem as matérias vazias... Seja qual for sua posição, que seja sua. O resto é mera conseqüência de nós mesmos.
3 Comments:
Ruy, gosto demais das tuas idéias, cara. Agora... o Collor por muito menos sofreu o impeachment porque o PT liderava uma oposição brava. Quem hoje teria força para criar uma revolução? Ainda acho que estamos passivos demais. O que fazer? Estou desesperado...
enviado em 16/8/2005 00:44:00
By Anônimo, at 1:24 AM
oi ruy, estou contigo! acho que a revolta e o desespero anunciados devem se voltar para a reforma politica, e nao para o impedimento. bjs!
enviado em 16/8/2005 08:53:00
By Anônimo, at 1:25 AM
Para mim, que cresci em família petista, sempre engrandecendo a ética que se acreditava presente no partido, para nós que no impeachement do collor éramos crianças e que agora nos vemos obrigados a votar ... o que resta para nós escolhermos ? Em qual perspectiva , que ilusão conseguiremos nos apoiar ?
enviado em 17/8/2005 18:57:00
By Anônimo, at 1:27 AM
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